Exclusivo: Tchello Gasparini lança clipe de “Pranto para Belchior”

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A música sempre foi uma das mais belas maneiras de se contar uma história, mas nem sempre ela está ali explicita na letra. Apesar de expressar diversas emoções, muitas vezes a raiz de tudo nem sempre chega ao conhecimento do ouvinte.

Vamos falar um pouco sobre “Pranto para Belchior”, música que ganha hoje, com exclusividade para o Folkdaworld, um baita clipe dirigido por Renan Mansur e Tchello Gasparini, músico que dá voz a canção e também atua no vídeo. O texto é longo, mas garanto que vale a pena ler até o final.

Tchello é um cara do teatro. Com formação no Conservatório de Tatuí e graduação em direção teatral pela ECA/USP. “Desde os 11 anos eu tinha a convicção que viveria do teatro”, conta o artista que, paralelamente a tudo isso, também cresceu num ambiente extremamente musical.

“Minha cidade é chamada de ‘Capital da Música’, por conta do seu conservatório e da quantidade de músicos por metro quadrado. É sério, você TROPEÇA neles aqui”, diz Tchello que mora em Tatuí, SP. “Fiz violino dos 3 aos 9 anos. Minha avó fazia parte de um grupo de seresteiros. Durante todo o período da faculdade de cênicas, tive uma banda em Sampa que tocava em barzinhos e festas por aí. Enfim, teatro e música sempre andaram juntos na minha vida”, completa.

Mas, como nem tudo na vida são flores, o teatro também teve seus dias ruins na vida de Tchello. “Depois de passar muitos perrengues pra tentar sobreviver fazendo teatro, eu desisti. Larguei mão do trabalho como ator e diretor e comecei a dar mais importância pra música. Morei um ano em Belém do Pará, voltei pra SP e resolvi dar mais uma chance a minha terra natal”, revela. “Acabei virando professor de musicalização infantil no Conservatório que sempre estudei, formei uma banda de Rock’n Roll, comecei a compor enlouquecidamente… E, enfim, virei um cara da música”.

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Tchello acabou ficando cerca de 6 anos afastado do teatro, até ser convidado por um grupo de amigos para um espetáculo, que faria temporada em Floripa, e que precisava de músico/ator para um dos papéis.

“Aceitei, pra matar as saudades. E foi uma das experiências mais maravilhosas que tive nos últimos anos”, conta empolgado. “O espetáculo era potente, visceral. O clima de uma produção teatral, conviver novamente com atores, as loucuras, o lugar (nunca tinha ido pra Floripa)… foi tudo mágico pra mim. Parecia a primeira vez”.

Mal sabia ele que o retorno ao teatro o empolgaria novamente, o deixaria ainda mais próximo da música e ainda renderia frutos surpreendentes.

“Minha personagem cantava durante toda a peça, e grande parte do repertório era Belchior. O trabalho todo foi baseado na música ‘A Palo Seco'”, explica. “Belchior era figura essencial na peça. Todos somos muito fãs do cara. E olha que louco: antes da primeira apresentação em Floripa, soubemos que ele morreu. Então, de repente, o espetáculo todo ganhou ares de despedida, de homenagem. Todos extremamente comovidos com cada palavra da canção, com cada nota. Eu me arrepio só de lembrar”.

O músico, claro, voltou pra casa ainda mais confuso sobre seu futuro profissional e completamente dividido entre os palcos musicas e teatrais. Mas um caminho mesclando as duas formas de arte já havia sido traçado para ele…

“Novas oportunidades surgiram, mas o teatro é uma musa difícil de agradar. Ela exige ainda mais dedicação do que a música. Novamente acabei me afastando um tantinho dele”, relata. “Mantenho minhas práticas como jurado de um festival estudantil, em algumas brincadeiras teatrais aqui e acolá, mas tudo isso me serviu para ter clareza do que o Teatro é na minha vida hoje: uma potente ferramenta para o fazer musical. Me sinto livre no palco, desprendido de amarras, posso compor e passar minhas mensagens por que o teatro me libertou e me preparou para isso. Mas tive que me livrar de suas amarras para perceber essas coisas”.

A canção “Pranto para Belchior” nasceu depois de toda essa experiência e carrega na letra mensagens implícitas, mas também explicitas, como no trecho “É o canto que se torna faca/Corta a carne fraca/Sangra o coração…”.

Faixa e clipe, retratam simbolicamente sobre tudo isso que falamos até aqui. Não à toa, o vídeo mescla música e teatro para expressar o que está em suas entrelinhas. Contando uma história pronta, mas também fazendo a gente imaginar tantas outras que caberiam aqui…

 

Mais sobre Tchello Gasparini

Após quase duas décadas trabalhando na noite da capital e interior de São Paulo, majoritariamente com covers e versões de músicas famosas de artistas consagrados, Tchello Gasparini percebeu a necessidade de retirar da gaveta algumas de suas composições autorais (são mais de 50!).

Acreditando na comunicação direta e objetiva com o espectador, o músico vem apresentando o projeto “A Voz da Cidade”, uma agridoce reflexão sobre situações cotidianas – amor, morte, preconceito, violência, solidão – com uma certa dose de humor.

Em tempos de hegemonia na indústria cultural, o novo projeto do músico pretende ser uma estrada alternativa nos rumos da música, oferecendo obras que dialogam direta e objetivamente com o espectador, os levando a questionar e refletir sobre a vida e relações na cidade.

Seu novo show, também, é uma compilação de suas experiências, inquietações, indignações e memórias, contando com músicas compostas em diversos momentos de sua vida e carreira. Com composições rápidas, de letras diretas e objetivas, frequentemente em forma de causos cômicos, leal ao rock and roll – embora nem sempre fiel, sempre flertando com o folk, blues, MPB e outros gêneros – Tchello quer oferecer uma experiência audiovisual debatendo e questionando a vida na cidade grande e no interior.