No Dia da Consciência Negra, conheça artistas negros super importantes para o cenário folk

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Johnny Cash, Bob Dylan, Joni Mitchell, Mumford and Sons, Laura Marling… Todos esses são excelentes nomes do antigo e do novo cenário folk, mas vocês já perceberam que todos são brancos? Pois é, neste 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, selecionamos artistas negros bem importantes para o cenário folk.

Alguns são novatos e misturam a influência do folk com o pop, outros são responsáveis por abrir as portas para a carreira musical de grandes artistas conhecidos nossos. Vale muito passear na história dessa turma e conhecer, ainda que pouco, como a música foi surgindo, enriquecendo culturalmente e chegando até nós.

 

Michael Kiwanuka

 

Um homem negro num mundo branco, é assim que ele mesmo se apresenta em uma de suas canções. Britânico, ele mistura folk com suas influências do soul (ou seria soul com suas influências do folk?). Michael é filho de um casal ugandense que se refugiou na Inglaterra da ditadura genocida do general Idi Amin Dada nos anos 70. Criado no subúrbio de Muswell Hill, ele foi, quase sempre, o único menino negro da vizinhança, isso explica um pouco sobre as inspirações de sua música.

 

Elizabeth Cotten

 

Elizabeth é uma das cantoras e compositoras mais influentes da música folk americana, apesar de seu nome não se tornar conhecido mundialmente até que ela se tornasse uma “senhorinha” e trabalhasse para a família musical dos Seeger (músicos bastante influentes na década de 50). Cotten é responsável pela clássica canção “Freight Train” e super importante pelo seu estilo de tocar. Como era canhota, ela afinava e tocava seu violão de cabeça para baixo. Estilo adotado por muitos músicos até o dia de hoje.

 

Carolina Chocolate Drops

 

O trio formado por Dom Flemons (guitarra, jug e gaita), Rhiannon Giddens (banjo e violino) e Justin Robinson (banjo e violino) rse reuniu pela primeira vez em 2005 na Carolina do Norte, unidos pelo amor pelo bluegrass, jazz, jug music e o rock lá do comecinho. Com o passar do tempo, outros membros entraram e saíram da banda, mas a cara e a voz do grupo Rhiannon Giddens prevaleceu.

Eles sempre se apresentam num formato mais acústico e cheio de raiz. Capricham nos arranjos e instrumentos musicais. Sério! Eles usam instrumentos rústicos e eu nunca ouvi falar de muitos deles! Ouvi-los é como viajar no tempo e mergulhar nas raízes da música americana.

Aproveitando, você deve lembrar da Rhiannon Giddens em The New Basement Tapes, aquele maravilhoso projeto que reuniu letras “perdidas” de Dylan (veja aqui).

 

Richie Havens

 

Mito! Você poderia usar apenas essa palavra para definir esse cara. Mas vamos acrescentar algumas informações aqui sobre ele. Richie Havens começou sua carreira em pleno revival da música folk, ali em meados do século XX. Ele também foi bem conhecido como um dos artistas mais memoráveis em Woodstock. Sua música é agradável para quem curte toda a geração a qual ele pertenceu, como Bob Dylan (os dois compartilhavam o mesmo empresário), Eric Clapton, Joan Baez e outros artistas de Woodstock como Nash & Young. É bem fácil também encontrar artistas contemporâneos que foram claramente influenciados pelo estilo de Havens, Ben Harper é um dos principais.

É impressionante até ver como esse cara toca violão!

 

Aloe Blacc

 

Aloe Blacc ficou conhecido pela maioria de nós, em 2013, depois do seu sucesso com a canção “Wake Me Up”, em parceria com o DJ Avicii. E desde então ele tem explorado esse mix interessante de folk/soul/pop. Vale lembrar aqui, que Aloe é super engajado nas causas de artistas e compositores quando o assunto é direitos autorais e streaming.

 

Blind Boys of Alabama

 

Os Blind Boys of Alabama foi formado em 1939 no Instituto Alabama para Cegos. Depois de passar 40 anos viajando pelos EUA e construindo sua carreira, foi em 1992 que o grupo atingiu seu reconhecimento pelo mainstream com um Grammy. Independente disso, os Blind Boys têm conta com artistas com 60 anos de carreira e não param de influenciar as bandas mais novas, no gospel, roots, rock, soul e muito, muito mais.

 

Josephine Oniyama

 

Nascida em Manchester, Josephine tem Bob Dylan, Joni Mitchell e Bob Marley entre suas principais influências. Já deu pra sentir as misturas, né? Seu som é meio que um folk-soul-indie-pop. Em 2012, ela lançou “Portrait”, seu álbum de estreia, que acabou recebendo críticas super positivas da mídia internacional.

 

Tracy Chapman

 

Quem não conhece “Baby Can I Hold You Tonight”?, né? Mas Tracy Chapman é muito mais que seu grande hit. Não à toa, ela é vencedora de 4 prêmios Grammy Awards. Nascida em Cleveland, em 1964, e começando a carreira em 1988, a cantora está nos palcos até os dias atuais. Seus dreads, sua voz e seu estilo de cantar, sem dúvidas, são características inconfundíveis.

 

Madisen Ward e Mama Bear

 

Já falamos sobre essa dupla algumas vezes aqui no site. De Missouri, o duo formado por Ruth Ward (mãe) e Madisen (filho) lançou seu álbum de estréia “Skeleton Crew”, em 2015. Suas canções contêm histórias (e algumas verdades biográficas) sobre a vida no Centro-Oeste americano. É difícil ouvi-los cantar sem imaginar que eles já possuam anos de estrada.

 

Toshi Reagon

 

Filha da aclamada Bernice Johnson Reagon, fundadora do grupo Sweet Honey in the Rock (falaremos sobre isso no fim do post), Toshi é uma mulher de personalidade forte. Sua música é um estilo soulful, bluesy folk e é algo completamente próprio. Toshi se apresenta com sua banda, BIGLovely, desde 1996.

 

Leadbelly

 

Huddie Ledbetter, conhecido como Leadbelly, nasceu na Louisiana de 1888. Entre vários assuntos, suas músicas costumavam falar sobre o racismo. Uma curiosidade é que as canções de Ledbetter foram usadas duas vezes para ajudá-lo a sair da prisão por acusações de homicídio – a primeira vez no Texas e a segunda em Louisiana mesmo. Mas foi o seu perdão na Louisiana, quando o juiz libertou-o sob o cuidado dos produtores de música John e Alan Lomax, que sua carreira decolou. Lomax fez uma gravação de “Goodnight Irene”, que se tornou um enorme sucesso para Leadbelly. A canção foi adaptada pelos Weavers para ser uma das canções folclóricas mais influentes na história contemporânea (ouça aqui). Aqui você pode conferir o Eric Clapton cantando “Goodnight Irene” numa versão esplendorosa.

 

Joan Armatrading

 

Na Grã-Bretanha, a artista que escalou alturas sublimes em uma época de fundação sólida do folk foi Joan Armatrading. Nascida nos anos 50 na ilha de St. Kitts, Joan foi para a Inglaterra em 1958 e, pouco tempo depois, começou a compor e fazer parcerias que fariam a sua carreira decolar. Sua música se consolidou também nos EUA, onde ganhou uma base respeitável de fãs. Mulher e negra, Joan foi uma das primeiras britânicas a construir uma carreira internacional, abrindo portas para muitas outras mulheres que viriam a cantar folk depois dela.

 

Eska

 

Continuando em território britânico. Mais precisamente no sul de Londres, encontramos Eska. Uma cantora que investe pesado no soul, no jazz e no hip-hop, mas sem deixar de lado a música tradicional inglesa. Há alguns anos ela começou a enveredar pelo folk e nas suas raízes étnicas. “Há algo realmente poderoso que diz que a música folclórica pode permitir que minhas histórias existam. Se eu estou aqui como uma pessoa negra, então a música folk britânica negra é parte do cenário folk inglês. Por que não pode ser? Deveria ser. Isso é quem eu sou”, é o que a cantora costuma dizer. A performance dela aí embaixo é simplesmente sensacional!

 

Odetta

 

Odetta Holmes nasceu na década de 30 e foi, ao longo da vida, cantora, atriz, compositora e ativista dos direitos humanos norte-americanos. O seu repertório musical consistia em folk music, blues, jazz e música espiritual. Ela é, sem dúvidas, uma importante figura no American folk music revival ali dos anos 50 e 60, sendo influência musical e ideológica para muitas figuras chave do renascimento folk desse tempo, incluindo Bob Dylan, Joan Baez, Mavis Staples e Jeanis Joplin.

Olha a classe dessa mulher!

 

Sweet Honey in the Rock

 

Fechando com chave de ouro: Sweet Honey in the Rock. Este é um grupo super tradicional e respeitado nos Estados Unidos. Ele foi fundado por Bernice Johnson Reagon (que falamos um pouco acima) e algumas amigas cantoras em 1973, e desde então já mudou de integrantes diversas vezes. A grande questão é que ele é um grupo afro-americano a cappella, formado apenas por mulheres, e que expressa sua história através de canção, dança e linguagem gestual. Originalmente o conjunto era formado por quatro pessoas, depois se expandiu para harmonias de cinco partes, e agora possui uma sexta integrante atuando como intérprete de linguagem de sinais.

Vale lembrar aqui que o grupo já ganhou um Grammy Award de Melhor Álbum Folk Tradicional por sua versão de “Grey Goose” de Leadbelly (que já mencionamos mais acima). No álbum de compilação Folkways: A Vision Shared.