Christopher Paul Stelling: sobre animalidades e Big Bangs
por Marcus Cardoso
Há quem diga que o silêncio nada mais é que o caos total: quando o bebê sai de dentro do útero, seu choro se dá por conta do imenso barulho que é o mundo: a sensação de ouvir o Big Bang originário pela primeira vez. É difícil lidar com a percepção que, nunca mais na vida, teremos essa sensação novamente. Só é possível ouvir a expansão do universo uma vez.
Mas existem aqueles que, em meio a esse caos silencioso que estamos, traduzem em música nossa expansão interna. Alguns, como Christopher Paul Stelling, tem a audácia de compor a trilha sonora do nosso Big Bang cotidiano. Quando vemos, estamos orbitando seu trabalho, seus olhos fechados, seus discos: uma imensa galáxia composta de milhões de detalhes de emoção.
Seu melhor disco é “Labor Against Waste” (2015). Tão quente e explosivo como qualquer estrela do céu. Destaque para a canção “Dear Beast” que, abusando de dedilhados, torna-se transe. O vídeo da música é um espetáculo à parte: a câmera o cerca, o acompanha, como se quisesse o atacar: esperando o momento certo para dar o bote e sair de lá com um pedaço do compositor norte-americano. Mas Stelling se mantém firme, sem medo de que seus pedaços estejam prestes a serem devorados: não pela câmera, mas pelos seus ouvintes. Arranquem o que conseguirem:
Seu trabalho mais recente, “Itinerant Arias” (2017), é tão bom quanto o anterior, mencionado a cima. Ainda transe, ainda trilha. Prestemos atenção em “Destitute”, canção que abre o disco e já te conduz nessa viagem pelas Highways estadunidenses. No vídeo oficial da música, temos a impressão de que ainda estamos sobe o olhar do algoz, do mesmo animal à espreita, que figura o vídeo anterior. Porém, agora, ele está na casa de Stelling, como se domesticado. Percorre os ambientes e cômodos da casa com tranquilidade. Observem:
Christopher Paul Stelling trouxe os olhares pra dentro, abriu seu lar, e convive com a iminência de seus pedaços serem arrancados. É como se ele tivesse percebido que a música mantém a câmera-olho-animal-faminto calmo. Que nem esse olho pare de olhar nem Paul Stelling pare de compor: isso mantém a harmonia rigorosa de todo nosso Big Bang.