Conversamos com a Lucy Rose sobre “No Words Left”, seu novo disco, e a turnê no Brasil

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Lucy Rose está com data marcada para retornar ao Brasil. Em outubro, a cantora e compositora britânica chega até o país para apresentar “No Words Left”, o seu mais novo disco, em quatro capitais: Porto Alegre, Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro.

Conversamos com a artista sobre este que ela diz ser o seu álbum mais íntimo e também sobre o que se pode esperar sobre a sua terceira passagem pelo Brasil.

Bastou um “Hello, I’m fine and you?” para constatar a doçura e sutileza da cantora, o que acaba contrastando com a força de suas letras, em especial neste novo trabalho. Abaixo, vocês conferem o nosso papo:


FOLKDAWORLD: Lucy, como fã que sou, assino a sua newsletter e, desde a primeira que você enviou falando sobre este novo álbum, ficou bem claro como ele seria diferente de suas gravações anteriores. É inevitável perguntar como foi importante para você compor essas músicas e expor todos esses sentimentos. O que “No Words Left” diz sobre Lucy Rose que outros álbuns ainda não disseram?

Lucy Rose: Eu acho que o ponto chave está em que, no momento, eu não sabia que estava fazendo um disco. Na verdade, eu só estava tocando algumas músicas… Eu estava em casa e sentei no piano ou com o violão e aconteceu. Não foi algo assim consciente. Eu acho que o que ele diz sobre mim é que eu não tenho mais medo se não ser perfeita, eu não tenho medo de ser diferente, e, em vários sentidos eu não estou mais assustada. E eu posso dizer para mim mesma que eu sou forte e resiliente e eu posso fazer as coisas. E também que eu posso me tornar uma pessoa melhor para mim mesma, fazer mais exercícios, não me comparar com outras pessoas. Esse processo também me fez olhar para os problemas que eu tinha e precisava resolver. Então, no final das contas, o que ele tem de diferente em relação ao outros discos é a verdade que ele carrega.

FDW: Este é um álbum muito delicado e ao mesmo tempo muito intenso. Me lembrou um pouco o “Blue”, da Joni Mitchell…

Lucy Rose: Obrigada! Isto é um elogio incrível. Nossa! É muito bom para mim ouvir isso que me disse.

FDW:… Parece um tipo de diálogo entre você e a pessoa que está ouvindo. Essa foi a sua intenção?

Lucy Rose: Como eu disse, honestamente, eu não consigo me lembrar exatamente de quando eu estava escrevendo as canções. Não foi algo racional, tipo “ok, agora vou escrever uma música”. Em 99% das vezes que eu componho, estou apenas tocando algo e as canções simplesmente acontecem. Eu acho que é importante para mim não pensar se as pessoas vão gostar, se aquilo vai falar com elas ou não. Sinto que eu só preciso ser honesta. E, sim, às vezes você precisa de alguém para conversar e sabe que aquilo é um caminho para um ouvinte. Alguém vai ouvir aquela minha minha música. Se alguém quiser me conhecer, ela deve conhecer as minhas canções. Elas têm muito da minha identidade. Elas são muito pessoais.

FDW: Eu fiquei muito curiosa para saber por que todo o material deste novo álbum, como fotos e vídeos, é todo preto e branco. Você tem uma explicação para isso?

Lucy Rose: Simplesmente aconteceu. Meu marido comprou uma câmera com um filme preto e branco e ficou me fotografando enquanto eu gravava e aquilo falou comigo de uma maneira muito profunda. Às vezes as coisas faz vocês se sentir cheia de alegria, brilhante, bonita… Quando estamos produzindo um álbum, geralmente, precisamos nos preocupar com as imagens que vamos usar e pensamos “ok, estou bonita nessa foto então você pode usá-la”. E eu sinto que com o preto e branco é tipo “eu nunca me vi assim antes, eu nunca me vi tão crua e tão exposta, sem usar maquiagem…”. Isso só comprovou que eu não me importo mais tanto e isso foi muito libertador. O preto e branco foi a melhor forma de descrever tudo isso e, depois, eu decidi que queria fazer tudo em preto e branco. Eu queria ser um pedaço de arte e só isso no contexto do disco.

FDW: Ultimamente tenho pesquisado muito sobre mulheres no folclore. De Maybelle Carter a Jade Bird, você conhece Joni Mitchell, Joan Baez … E há uma música neste novo álbum chamada “Treat Me Like a Woman”, na qual claramente você fala sobre algumas frustrações de ser uma mulher na indústria da música. Você acredita que músicas como essa podem capacitar as cantoras e fazer com que elas se sintam mais fortes ou, sei lá, ao menos representadas?

Lucy Rose: Eu não sei. Na verdade, eu não sei… Eu estou em constante luta com isto. Sabe, quando as pessoas me conhecem, eu acho que eles só querem ver uma garota garota sorridente e bonita que não tem opiniões sobre as coisas. E, bem, eu tenho opinião sobre as coisas. E algumas pessoas não gostam disso. Se algo acontece em um local de show e algum equipamento não está funcionando e eu falo que algo está errado, os homens geralmente são muito defensivos e falam algo tipo “quem é essa garota ou essa mulher para apontar isso ou aquilo?”. Quando um homem tem esse tipo de atitude, frequentemente eles são mais respeitosos e agem de maneira diferente. Eu penso muitas vezes sobre as coisas que me deixam frustrada, uma delas é que as pessoas sempre recorrem ao meu marido, que é o meu tour manager, para pedir coisas como se podem tirar uma foto, ou me pedir algo, ou me abraçar. Ok, ele é meu tour manager, mas eu que gerencio a mim mesma. Eu acho que, o fato de ele ser meu marido, torna essa situação ainda pior. Porque as pessoas não deveriam estar pedindo ao meu marido o direito de conversar comigo ou qualquer coisa… Eu sou um ser humano. Eu estou parada ali, apenas chegue para mim e me pergunte. Tipo, se quiser qualquer coisa de mim, você pode me pedir. E eu percebo como as pessoas ficam desconfortáveis em falar diretamente comigo, às vezes. São essas pequenas coisas que acontecem o tempo todo e que faz você se sentir menor e se sentir menos confiante em você mesma.

FDW: Para encerrarmos, vamos falar um pouco sobre a nova turnê. Como tem sido a experiência de mostrar essas músicas tão pessoais no palco, como as pessoas tem recebido essas canções? E o que podemos esperar desta sua terceira passagem pelo Brasil?

Lucy Rose: Bom, eu acho que bem de um modo geral. Eu não uso tanto as redes sociais, então eu não vejo muito como isso tem acontecido online. Mas se tratando de apresentações ao vivo, as pessoas têm dado um apoio incrível. E quando eu olho na multidão e vejo alguém cantando uma canção nova comigo, isso simplesmente bate no meu coração e significa muito pra mim.

E o mesmo será com o Brasil. Esse país se tornou um lugar realmente importante para mim. De todos os lugares por onde eu tenho viajado e me apresentado. Eu não tenho mais viajado como antes, nem feito turnês como antes. Eu tenho tomado decisões sobre onde é importante para mim que eu esteja. E o Brasil está muito no topo das minhas listas. É um lugar importante para mim e eu quero continuar tocando minhas músicas no país. Eu acredito que construí um relacionamento com as pessoas. Sabe? Com os meus fãs… Eu quero continuar voltando, falando “olá” e agradecendo.


Agora é esperar para ver ao vivo. Lucy se apresenta nos dias 2, 3, 5 e 7 de outubro no Teatro Unisinos (Porto Alegre), Teatro Bom Jesus (Curitiba), Fabrique Club (São Paulo) e Teatro Odisseia (Rio de Janeiro), respectivamente. Os valores são os mesmos para todas as cidades: R$ 130 a inteira e R$ 65 a meia, e podem ser adquiridos através deste link.