Faixa a Faixa: Eric Taylor Escudero comenta seu disco “We Were Young and It Was Morning”
por Maísa Cachos
Eric Taylor Escudero lançou “We Were Young and It Was Morning”, seu disco de estreia, gravado e mixado no estúdio The Womb, em Austin-TX. Para mim, um dos discos folk (feito por um brasileiro) mais legais do ano. Bem arranjado e com letras muito bem elaboradas. Pedi para ele comentar cada faixa desse discão e o resultado você confere logo mais abaixo.
1.The Endless Sound Of Greatness
Eric Taylor Escudero: ‘The Endless Sound Of Greatness’ é uma canção que surgiu de imagens que eu tinha em mente. As luzes piscando em um espaço aberto são ideias que vem à minha cabeça cada vez que ouço ou toco essa música. O tempo em 3/4 que remete à valsa e o arranjo delicado dão à canção um tom quase de sonho. Eu acho interessante que, apesar de não ter refrão e ser um constante “crescendo”, essa música parece agradar as pessoas na primeira vez que a ouvem, o que é sempre bom.
2. We Were Young and It Was Morning – Part 1
Eric Taylor Escudero: Refletindo agora sobre ‘We Were Young and It Was Morning – Part 1’ percebo que essa música é quase uma “travelling song”. Normalmente consigo ligar as músicas que escrevo aos lugares em que foram escritas ou que me influenciaram. Essa música fala, entre outras coisas, sobre estar longe de casa em uma “cidadezinha perdida entre as montanhas”. Essa é uma das músicas que tem um dos arranjos mais interessantes do álbum. O arranjo de bateria e a mudança na dinâmica no final dão à ‘We Were Young and It Was Morning – Part 1’ dois climas bastantes distintos.
3. Fountains Of Blood
Eric Taylor Escudero: ‘Fountains of Blood’ é uma das músicas mais surreais do álbum. Ela foi rapidamente escrita, mas só terminou de ser arranjada em Austin, quando foi sugerido acrescentar percussão a ela. Por termos tentado diversas vezes sem sucesso, resistimos à ideia no início, mas depois ficamos satisfeitos por termos tentado. Essa é uma das minhas músicas preferidas no álbum.
4. At The Very End Of Everything
Eric Taylor Escudero: Algumas canções são compostas sem que tenhamos uma noção do seu significado. Roddy Woomble, músico escocês disse “I created something I was misunderstanding”. Não foi exatamente o que aconteceu, mas quase. Eu compus ‘At The Very End Of Everything’ tendo apenas uma visão parcial do seu significado, conforme o tempo passa, essa música significa mais para mim. Me agrada o fato de que essa canção deixa um amplo espaço para que o ouvinte acrescente suas próprias ideias, seus próprios “finais”. É uma música sobre a inevitabilidade do tempo e todas as forças que não podemos controlar.
5. Before The Dew
Eric Taylor Escudero: ‘Before The Dew’ é uma das mais românticas e nostálgicas músicas do álbum. A letra é fortemente influenciada pela poesia de Casimiro de Abreu e John Keats. Seu arranjo mudou drasticamente e, antes de chegar à forma final, quase se tornou um esquecido B-side. O primeiro arranjo era melancólico e tenso. A princípio não pensei em uma versão “rápida” dessa canção, mas ela surgiu durante um ensaio. Na primeira vez que tocamos ‘Before The Dew’ dessa forma, sabíamos que tínhamos encontrado o que procurávamos, e essa é a versão que pode ser ouvida agora.
6. Black River
Eric Taylor Escudero:‘Black River’ é uma canção que sobreviveu ao tempo, tendo sido composta há vários anos, ela nunca foi esquecida e seu “riff” sempre me agradou. A letra, no entanto, mudou bastante e o próprio ‘Black River’ ficou apenas no nome. Essa música é dedicada a todos os rios pretos de Itanhaém, Peruíbe e Vale do Ribeira, em São Paulo.
7. Waiting for The Sun To Come
Eric Taylor Escudero: A mais antiga de todas as músicas do álbum, ‘Wating for the Sun To Come’ sobreviveu aos anos quase intacta. A exceção é o último verso e o refrão final, escritos quase dez anos após o restante da música. O arranjo é bastante simples, é uma música bastante direta, apesar de longa, e remete ao Bright Eyes e àquela melancolia dos tempos de juventude.
8. The Uncountable Colours Of The Sky
Eric Taylor Escudero:‘The Uncountable Colours Of The Sky’ é outra das músicas com tom surreal no álbum. Sua letra e seu arranjo tem um clima distinto. As “incontáveis cores do céu”, vistas ao nascer ou por do sol, são ponto de partida para uma reflexão mais ampla. Assim como ‘The Endless Sound Of Greatness’, ‘The Uncountable Colours Of The Sky’ foi composta a partir de imagens, vistas ou imaginadas, e é mais uma das “colagens” que compõem o álbum. Destaque para os vocais de Ana Luísa Ramos e a bateria de Tomás Telles.
9. Big City Lights
Eric Taylor Escudero: Essa canção é quase uma Ode a São Paulo, mas poderia ser sobre qualquer outra grande cidade no mundo. Eu gosto muito da letra e acho que ela traz reflexões interessantes a respeito das diversas relações nas grandes cidades, sejam elas amorosas, de amizade, de trabalho. É uma música sobre querer ver algo novo e diferente, sabendo que outras realidades são possíveis.
10. The Spinning Of The World
Eric Taylor Escudero:‘The Spinning Of The World’ é uma das músicas mais divertidas do álbum. A letra por vezes melancólica dá à canção um tom “triste dançante”, algo como The Smiths, se ao invés de guitarra eles usassem um banjo. O arranjo remete à música country e a letra é longa e os assuntos variados. É quase como se os versos fossem surgindo conforme a música avança.“Spin” é um verbo que se refere a “girar” e a “tecer” possibilitando duas interpretações: a do mundo girando ou, do tecer o destino ou “fio da vida”.
11. We Were Young and It Was Morning – Part 2
Eric Taylor Escudero: Ao contrário de ‘We Were Young and It Was Morning – Part 1’, que fala sobre estar longe de casa, ‘We Were Young and It Was Morning – Part 2’ fala sobre o rompimento com a rotina e a vida cotidiana. São duas canções que se completam como diferentes momentos da vida, e se unem na busca por aprender como vivê-la.
A lindíssima arte de capa do disco é do BIG K.O – Adriano M. Franchini.