J.S. Ondara: a história do menino que, inspirado por Dylan, deixou o Kenya para fazer música em Minnesota

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Quando dei meu primeiro play numa música do J.S. Ondara, de certo me apaixonei (o vídeo que vi está logo abaixo). Não conhecia muito sobre ele, apenas que era um garoto negro, cheio de estilo e que fazia música inspirado por nomes como Bob Dylan e Neil Young. A propósito, são desses mestres do folk os únicos perfis que o artista segue em seu Instagram.

Até aí, tudo bem. Convenhamos, essa é uma situação parecida com a de muitos músicos que conhecemos ao longo dos anos aqui no FolkdaWorld. Mas há algo bem especial no Ondara. E vale a pena você mergulhar nisso comigo. Senta que lá vem história…

Tudo começou ainda em Nairóbi, no Quênia, onde o músico nasceu. Quando adolescente, Ondara – quer era um grande fã de rock americano – apostou com um amigo que “Knockin ‘on Heaven’s Door” era de autoria da sua banda favorita: Guns N’ Roses (vai dizer que você nunca achou isso…). O amigo afirmou que ela era de um cara chamado Bob Dylan, um nome que ele nunca ouvira até então. Acho que eu não preciso dizer que o próximo passo que ele deu foi correr atrás das músicas do bardo folk, né?

Acontece que ele não só ouviu, mas se inspirou a ponto de querer deixar seu país de origem e embarcar para uma aventura nos Estados Unidos. O sonho americano. Ondara queria ser músico, queria cantar como Dylan no país do Dylan. Mas sua família não era rica o suficiente para comprar instrumentos musicais, eles eram considerados um luxo onde ele cresceu. “No momento em que percebi que queria cantar e fazer música, percebi que não havia como fazer isso onde eu estava”, contou numa entrevista para a Rolling Stone.

Essa sua paixão fez com que Ondara começasse a faltar às aulas, gastando o dinheiro do ônibus que recebia diariamente de sua mãe num café com internet. Ele memorizou muito do catálogo de Dylan e começou a pesquisar a história da música folclórica americana. “Eu mergulhei fundo e caí duro. A música era tão estranha que senti esse apego a ela”, confessa o músico.

Em 2013, ele mudou-se para Minneapolis para seguir uma carreira como cantor e compositor. Mas as coisas não foram tão fáceis assim. Sabemos que não é tão simples mudar de país, aos 20 anos de idade. Ainda mais quando esse país é o complicado e perfeitinho Estados Unidos.

Ele se estabeleceu com uma tia que morava perto de Minneapolis, escolhendo sua nova casa em parte por causa da conexão de Dylan com o estado de Minnesota. Mas ao chegar lá, no meio do inverno, ele percebeu que as coisas não eram tão agitadas como ele imaginava. Além disso, ele não conhecia ninguém para formar uma banda. Logo, teve que se adaptar ao formato solo-acústico por pura necessidade.

O que ele fez então foi: aprender a tocar na internet, se apresentar em microfones abertos em Minneapolis, aperfeiçoar seu som e adaptar o visual para algo elegante baseado nos ternos vintage.

Depois, ele tomou o caminho que muitos artistas tomam hoje. Começou a fazer upload de covers de alguns dos seus artistas favoritos no YouTube. Um deles – uma versão despojada de um hit pop-rock local da cantora Haley Bonar – chamou a atenção de Andrea Swensson, que trabalha na rádio local Minnesota Current. A versão acabou entrando na programação a rádio.

Devagarinho, ele começou a fazer o seu caminho na cena musical local, enquanto escrevia músicas sobre o que ele viu, sentiu e experimentou em um lugar muito diferente da sua casa. Quando notou, ele já estava excursionando por todo o país, inclusive abrindo para nomes como Anderson East, First Aid Kit, The Milk Carton Kids e Mt. Joy and The Head & The Heart. No processo, ele assinou com a gravadora Verve e começou a trabalhar em seu primeiro disco.

Pois bem, seis anos depois de pousar na América com o seu Green Card, Ondara, agora com 26 anos, está lançando “Tales of America”, um álbum que fala de sua paixão pela música folk americana e narra as histórias que ele tem vivido na terra do Tio Sam.

O trabalho, lançado no dia 15 de fevereiro, é completamente acústico e foi produzido por Mike Viola (Jenny Lewis), indicado ao Grammy. O LP foi gravado no Boulevard Recording e East West Studios em Los Angeles, com todas as letras escritas por Ondara e com colaborações de Andrew Bird, Taylor e Griffin Goldsmith (da banda Dawes) e Joey Ryan (The Milk Carton Kids).

J.S. Ondara, para mim, soa como uma esperança para os sonhos e para a música. Não é todo dia que nos deparamos com histórias e talentos assim. Desfrutem desse disco com atenção, cuidado e paixão. Afinal, como o próprio músico brinca… “Eu faço o velho estilo trovador, um cara tocando músicas tristes com um violão, por enquanto. Até que eu vá para o elétrico e deixe todo mundo chateado”.

A minha dica é que você tente ouvir o disco como se estivesse ouvindo um audiobook. Afinal, não é a toa que ele começa com a faixa “American Dream” e encerra com “God Bless America”. Vai por mim…