Moh Magalhães e o mar como atmosfera

por

Navegar é preciso, pois certeiro e necessário. E a cantora e compositora Moh Magalhães compreende esses múltiplos significados da palavra. Em seu primeiro single, “Me permita navegar”, lançado em 2017, percebemos o mar pintado como ponte, como caminho firme entre um continente-pessoa e um arquipélago-olhar. As ondas como nuances de um encontro exuberante. O mar como metáfora excelente para o tecido interpessoal que cobre grande parte da nossa vida.

Considerando que todo o ar que nos alimenta se encontra na atmosfera, esse single encontra nas milhares de gotas salinizadas o ambiente ideal para a vida: uma força motriz que só a água pode simbolizar. A canção é como uma grande embarcação à procura dos ouvidos do outro, independente de quem seja. Moh mantém seus pés fincados sob o mar, mas um mar diferente, que traz um velado “a” em seu início: um mar amar.

Como diz o single, se “meu querer não importa mais” é por que os poros é que importam: e importunam: pois a pele se incomoda profundamente com longos espaços entre o corpo e sua vontade. Com uma voz segura, canta essas distâncias e pede permissão para navegar suas doçuras entre acordes muito bem tocados. Moh é uma jangada jogada nesse mar-avilhoso oceano da música contemporânea.

Ouça a Live Session de “Me permita navegar”:

Seu segundo single, “Moça”, parte do mar para chegar em terra: mas ainda se declara uma ótima companhia marítima. Cheia de dúvidas, transplanta na composição uma acalento voraz. Independente de quem for a moça da canção, ela pode se considerar ancorada em um cais notadamente seguro, assim como o futuro da compositora curitibana.

Ouça a Live Session de “Moça”:

Devemos manter nossos ouvidos muito bem atentos a seus sons e tons, pois o pouco que já produziu Moh Magalhães aponta para um trabalho de profunda qualidade e maestria. Ficaremos ansiosos, sentados no porto, com os dedos na água, à espera de mais.