Pode ser tudo em Trinca de Áries
por Marcus Cardoso
A palavra quase é a que mais assusta: a infinitude do que pode ser se virarmos à esquerda, o oceano atlântico de opções que estão por vir se decidirmos à direita. Mas são nesses momentos que decidimos o rumo: se sim ou se não, é preciso ir. Navegar é preciso e escolher é perder sempre. A natureza vive no quase: se a muda virará árvore é uma incógnita: não há como, em um ambiente natural, controlar isso.
Em seu single “Pode ser”, a banda Trinca de Áries investiga o por pouco buscando a melhor sonoridade pro possível. A esperança da espera é tratada sob uma ótica respeitosa, afinal não se pode abraçar o futuro a não ser através da liberdade: Todas as possibilidades, desde o primeiro acorde até a transfiguração do som nesse texto, tudo pode ser. A quantidade da letra s, que sibila no nosso ouvido, no refrão, solta o ar no fone assim como um vento sopra a resposta nos ouvidos.
As três vozes, de Danilo Carnevalli, Mayara Franco e Guilherme Favaro são como poucas junções no folk: um toque de Simon e Garfunkel nessa sonora e melódica língua portuguesa, tão minha quanto nossa. A luminosidade que o single apresenta, mas sempre com uma ruga de pesar na voz, faz com que os arrepios se iniciem junto com as cordas do violino.
Nesse símbolo de play pode estar uma coisa que você nunca ouviu, então possa um momento:
Com uma produção ainda pouca, a banda já alcança rios de maestria: cada pedaço de canção é um pedaço das experiências que compõe esse trio: uma tríade que flameja a cada música. Esperaremos mais e mais enquanto dançamos a possibilidade que está na nossa frente.