Renato Godá lança novo álbum; vem ouvir “Nômade”
por Maísa Cachos
O repertório começou a ser escrito durante uma turnê pelos EUA, quando Godá se apresentou no festival SXSW, em Austin. Durante a estadia no Texas, o cantor se aproximou de artistas locais e se reencontrou com a sonoridade da Americana Music e do Folk Rock Americano, que no começo da sua história como compositor foram grandes referências.
“Nômade” é um álbum verdadeiramente autobiográfico, com letras que falam de amor, tema recorrente em sua obra, reflexões sobre o passado, presente e o futuro, com cenários íntimos do artista, como a estrada, os cavalos e, principalmente, as relações.
O disco foi gravado ao vivo, em três dias de estúdio, sem ensaios anteriores. “Eu gosto da gravação espontânea, de encontrar a minha banda no estúdio, ligar os equipamentos e simplesmente tocar as músicas. Quando é dessa forma, soa diferente, o prazer é maior, a sonoridade é mais bruta, tem mais a minha cara, é como montar um cavalo arisco”, confessa o músico.
Godá considera este o seu trabalho mais íntimo e pessoal. “Tenho 47 anos. É como chegar no topo da montanha, na metade do caminho, e a primeira coisa que ficou clara é que daqui a visão é outra, mais ampla. Ok, as botas estão gastas, mas hoje posso escolher o caminho”.
O que achamos de “Nômade”
O romantismo impera nesse disco de Godá que, naturalmente, mostra um artista mais maduro. Isso já fica bem claro nas duas primeiras faixas “Junto a Você” e “Adiante”.
Em seguida, chega “50 Cavalos”, com uma pegada de country clássico sensacional! E o clima se estende para a faixa seguinte “Longe Eu Vou”, mas essa carrega uma sonoridade mais faroeste.
A faixa “Chegada” mantém o clima americana e country que Godá carrega, mas traz um dedilhado que lembra a nossa música caipira. Sua melodia é encantadora!
“Dias Passados” lembra o som de Cash. Soa como o country antigo, sujo e puro ao mesmo tempo. Reforça também a letra da canção. A propósito, as narrativas estão todas incrivelmente lindas. O mesmo clima permanece para “Suas Leis”, faixa que sucede.
“Sem Querer Te Transformar” é daquelas faixas de Godá que vai nos lembrar de suas semelhanças com o Leonard Cohen, essa sonoridade romântica, meio cantada, meio falada, meio lamento, meio diálogo. Linda!
Caminhando para o final, temos “Corre” com lidas cordas e uma letra encorajadora “Não, não há qualquer razão ou motivo pra temer. Corre!”. Chegamos, enfim, a “Nômade”, faixa que dá nome ao disco, uma das melodias mais animadas do trabalho e, como não poderia ser diferente, uma das letras mais fortes.
Para fechar, “O Tempo Passa”. Uma música deliciosa de ouvir. A pegada Cohen de volta, ainda mais forte nessa faixa. Mas sem deixar, claro, de ser o autêntico Godá! Um excelente fechamento.
Confesso que sou muito jovem no folk para falar qualquer coisa sobre o Godá. Mas esse, sem dúvidas, é um dos melhores discos que ouvi esse ano. Apesar da forma como foi gravado, como vocês leram mais acima, parece ser um disco perfeitamente pensado, montado e planejado. Só consegue algo assim, que ama e sabe o que faz.
Só para fechar, não posso deixar passar batido essa capa. A foto é de Thay Rodriguez, já a arte fica por conta de Andre Stephan.
Agora sim, play!
Mais sobre Godá
Considerado um dos melhores compositores da sua geração pela revista Bravo! e pelo jornal Folha de São Paulo, Renato Godá é um escritor de músicas endiabradamente românticas que leva ao palco uma performance única que vem arrebatando nos últimos anos plateias no Brasil e no exterior.
Em 2012 o artista se apresentou pela primeira vez nos EUA como convidado do festival SXSW, um dos mais importantes eventos de música do mundo, fez turnê no Texas e em Nova York.
Em turnê na Europa, seus shows entraram na lista dos favoritos dos editores da revista Timeout, bíblia do entretenimento inglês, que o comparou a Serge Gainsbourg e a Leonard Cohen e classificou sua música como um “apetitoso caldeirão que mistura sons de jazz, folk e chanson aos sons brasileiros”.