Canções de São Patrício: Rafael Senra lança disco de músicas celtas cantadas em português

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Chegando para somar a música celta no Brasil, Rafael Senra lançou seu primeiro disco solo, intitulado “Canções de São Patrício”, e no qual o mineiro se enveredou pelo estilo, realizando onze versões com letras em português para músicas celtas de domínio público (feitas entre os séculos XVIII e XIX).

O repertório vai de músicas mais conhecidas, como “How Can I Keep from Singing?” (interpretada por Enya, Pete Seeger e outras) e “Down By the Sally Gardens” até algumas menos conhecidas, como “The Green Fields of Gaoth Dobhair” e “Three Ravens”. Nas versões, elas se tornaram, respectivamente: “Seus Poemas”, “O Jardim”, “Colinas de Del Rei” e “Três Corvos”.

Quando iniciou as versões, em 2014, Rafael estava na metade de seu Doutorado em Letras (na UFJF, que foi concluído em 2016). Antes disso, no Mestrado, ele pesquisou a obra de Milton Nascimento e do Clube da Esquina, um trabalho que acabou virando o livro “Dois Lados da Mesma Viagem”, prefaciado por Fernando Brant. Assim, sua experiência musical transita tanto pela pesquisa acadêmica quanto pela prática – ele compõe há mais de vinte anos.

A paixão pela música celta, nascida no ambiente bucólico da cidade de São João del Rei, onde morou por 13 anos, acabou gerando esse trabalho, nascido de forma despretenciosa. Algumas versões, como “A Menina de Lá” (“The Pretty Maid”) – acho que a minha favorita no trabalho – buscaram ser bem fiéis à canção original, enquanto outras assumiram caminhos mais inusitados.

“Embarcanações”, por exemplo, é uma versão de “Mhorag’s Na Horo Gheallaidh”, conhecida do repertório de grupos irlandeses como Altan e Clannad. A letra original, cantada por trabalhadores de moinhos e engenhos no Canadá e na Espanha (séc.XVIII) se referia ao Rei Charles e às rebeliões jacobitas. Mas na versão de Senra, a letra fala da expansão marítima europeia e da chegada dos portugueses no Brasil.

Uma das versões é digna de nota, envolvendo uma mistura (ou “mash-up”) de duas obras diferentes: a melodia da canção celta “Coinleach Ghlas An Fhómair” e dois poemas (cançonetas) do poeta arcadista Claudio Manoel da Costa (Glauceste Saturnio), que, ao lado de Tiradentes e Tomás Antônio Gonzaga, foi um dos grandes nomes da Inconfidência Mineira. Ao identificar que tanto os trovadores celtas quanto Claudio tinham influências comuns na lírica camoniana e no Trovadorismo, Rafael arriscou a mistura, percebendo que a métrica de “Coinleach…” era idêntica a algumas obras do Inconfidente (como “À Lira Desprezo” e “À Lira Palinódia”), e provavelmente letra e música tem a mesma idade (meados do século XVIII). No disco, a versão se chama “À Lira”, e o clima pastoril e melancólico do poema pareceu muito confortável nesta melodia.

Os arranjos seguiram o mesmo caminho das letras. Uns foram bastante inspirados por diversas harmonias convencionalizadas em várias versões, enquanto outros exigiram doses maiores de inventividade. Trata-se de um disco enxuto instrumentalmente, contando apenas com voz e violão de aço, tudo interpretado por Rafael.

Depois de três anos de elaboração do trabalho, Senra o gravou em março de 2017, enquanto a pós-produção (mix e master) foi feita por Renato Lopes e Cleiton Lupe no Ômega Studio (Congonhas – MG).

Conheça mais sobre o trabalho de Rafael Senra no site oficial do músico!

Abaixo, vocês conferem o vídeo do músico falando sobre o trabalho e o disco na íntegra!