
[Entrevista] Conversamos com Roo Panes sobre música, pintura, poemas e turnê no Brasil
por Maísa Cachos
Quando pisou pela primeira vez no Brasil, em 2013, para um pocket show no Hotel Fasano, lá no Rio de Janeiro, Roo Panes não era conhecido por nem metade dos brasileiros que hoje ouvem suas músicas. Parte dessa “descoberta” do artista no país dá-se, claro, pela presença de uma de suas canções mais famosas, “Lullaby Love”, em uma novela (Dona do Pedaço) da Globo.
Seis anos se passaram desde a última visita do músico ao país, dois discos foram lançados nesse intervalo: “Paperweights” (2015) e “Quiet Man” (2018), este último ganhou, em 2019, uma versão Deluxe, incluindo algumas faixas inéditas e outras ao vivo. E, agora, o músico se prepara para fazer sua primeira turnê em terras brasileiras.
O primeiro show acontece no próximo dia 13 de setembro, em Curitiba, no Ópera Arte; no dia 14 é a vez dele se apresentar em São Paulo, no Fabrique, e o encerramento da tour, rola no dia 19, no Rio de Janeiro, no Belmond Copacabana Palace (Golden Room). Todas as informações sobre as apresentações, que fazem parte do projeto Popload Gig, estão detalhadas neste post aqui.
Conversamos com o Roo por telefone sobre música, o conceito de seu mais recente álbum, sua relação com a natureza, poesia e, claro, expectativas e setlist dos shows no Brasil.
FDW: Roo, eu queria começar te perguntando sobre o “Quiet Man”. Ele é o teu terceiro disco, o mais recente deles. E uma coisa que me chamou a atenção nele é sobretudo o título. Até porque, atualmente, nós vivemos em uma sociedade super acelerada. Tudo é urgente. Tudo é feito às pressas. Daí você surge com um disco intitulado “Quiet Man” e com mensagens sobre refúgio, quietude, acalmar o coração, ter esperança… O que você quis mostrar para o mundo com este trabalho? É uma espécie de conselho?
Roo Panes: Sim, é engraçado! É bem sobre isso. Quando eu comecei a divulgá-lo, eu achei que algumas pessoas pensariam que era sobre mim. Mas, na verdade, é muito mais sobre isso que você falou. Eu percebi que o mundo estava rápido, ocupado, meio que com falta de paz… E eu fiz como que uma missão para mim mesmo escrever um álbum. E, tipo, investi cerca de um ano, resgatando algumas coisas, pensando sobre coisas diferentes, pensando nas minhas prioridades, tentando encontrar a paz… E no meio disso eu escrevi umas coisas e o “Quite Man” surgiu daí. E eu acho que ele é meio que um comentário social no sentido de ser a minha interpretação do que eu acho que é a minha paz.
FDW: Eu já li várias entrevistas tuas, nas quais você fala que a música para você é mais uma forma de auto-expressão. É como se você estivesse dialogando com as pessoas que estão te ouvindo. Você costuma receber feedback disso? Eu quero dizer, as pessoas costumam vir até você e falar “olha, Roo, essa música falou comigo” ou, sei lá, “essa música mudou a minha vida”?
Roo Panes: Sim, eu recebo. É Maravilhoso! É uma coisa muito bonita. Eu acho que é a minha coisa favorita sobre escrever músicas, sabe? Música para mim sempre tem sido uma forma de auto-expressão. Sobre eu distraindo pessoas. Mas eu acho que eu sempre quis escrever músicas que se importam não apenas comigo, mas sobre as situações das outras pessoas. E é mesmo uma coisa maravilhosa ver que minha música tem essa empatia. Então sim, eu recebo muitas mensagens bonitas e eu acho que isso é o que me faz continuar fazendo música, na verdade.
FDW: No final do ano passado, saiu o The Mahogany Session EP, certo? Um projeto muito bonito que mistura suas letras com um tipo de poesia. Você já pensou em enveredar por esse lado e, sei lá, escrever um livro?
Roo Panes: Sim, definitivamente! Eu acho que a primeira coisa que eu já fiz foi escrever uma poesia. Antes de escrever música, eu escrevi poesia. Quando eu era criança, eu lembro de escrever algo, eu era bem novo, acho que tinha cerca de 10 anos. Eu ainda não tocava violão, nem nada do tipo. Eu acho que quando era criança, eu sempre quis ser autor. Mas é diferente, sabe? Tem que se ter um tipo diferente de paciência para escrever um livro de 300 páginas. E, na verdade, eu estou escrevendo um livro, mas vai levar tempo para concluí-lo, eu acho. Porque meu foco está acima de tudo na música.
FDW: Então, talvez, algum dia, nós poderemos ler algo em um livro?
Roo Panes: Sim, eu espero que sim. (risos)
FDW: Você não parece ser um cara das redes sociais, né? Mas eu estava olhando o seu Instagram e dá pra dizer que você adora fotografar paisagens.
Roo Panes: Hum… Sim, absolutamente!
FDW: E pintá-las também. Me fala dessa tua relação com a natureza. E com a pintura. Isso é um atributo de cantores folk? Joni Mitchell, Bob Dylan, Joan Baez… todos pintam também, né?
Roo Panes: Bem, eu não sei qual é a conexão em ser cantor e ser pintor… Mas eu acho que, para mim, essa coisa de pintar aconteceu quando eu comecei a gravar “Little Giant” porque o tempo em estúdio foi intenso, sabe? E era difícil sair da situação e não ficar pensando tanto na criação das músicas e eu meio que usei a pintura para clarear minha mente. Mas eu meio que amo pintura porque isso te força a prestar atenção nas coisas que você vê ao seu redor.
E, falando dessa coisa das paisagens, elas meio que me lembram de algumas das questões sobre o “Quiet Man”. Tipo, eu sou muito interessado no fato de que muitas das minhas coisas favoritas sobre a vida é ser livre. Então eu tento lembrar a mim mesmo que há beleza em toda a parte. Eu não tenho que fazer muito esforço para pode notar que existem estrelas no céu à noite, e isso continua sendo umas das coisas mais bonitas que existem. E é meio que uma missão não esquecer disso.
Eu adoro jogos de caminhada, adoro natação selvagem, adoro as coisas da natureza porque elas estão exatamente ali. E continuam sendo minhas coisas favoritas. Isso me dá muita paz. Eu passo muito tempo nesse meio e isso influência bastante na minha música, na verdade, porque o tipo de música que eu faço é dita como descritiva. Então não importa a situação em que estou, eu posso meio que documentá-la. Se eu acho um lugar pacífico e bonito, geralmente é aquilo ali que será criado. Então sim, eu acho que sempre terei esse tipo de conexão com paisagens.

de Exmoor, Inglaterra. Foto: Instagram
FDW: Ok, vamos falar de Brasil agora. “Lullaby Love” está na trilha sonora de uma novela da maior rede de televisão brasileira e isso, sem dúvida, ajudou você a se tornar mais conhecido no Brasil. Qual foi sua reação quando você percebeu que todas aquelas pessoas estavam ouvindo essa música? Porque vamos ser sinceros, não é uma música recente. Faz cerca de 4 anos que você a lançou, certo?
Roo Panes: Bem, eu fiquei bem feliz quando eu soube que essa canção foi escolhida. É sempre muito legal quando uma música que, como você disse, não é nova, mas é uma música que você realmente gostou de escrever e com a qual estava muito feliz na época é escolhida depois para ser usada. Isso aconteceu também, ano passado, com “Little Giant”, que é ainda mais antiga mas foi usada no trailer de um filme. Eu acho que é muito excitante fazer esse tipo de coisa. Músicas meio antigas tendo novos momentos é divertido. Porque na minha carreira, é sempre lançar um álbum e ele ser recebido onde é recebido e, talvez, algo aconteça, talvez, não. E sim, tem sido muito bom ver que músicas antigas, de repente, tem tido seu próprio tempo. E sim, é ótimo que ela esteja numa novela. Eu meio que acabei de descobrir que novelas são tão grandes no Brasil. Isso é legal.
FDW: E agora você fará sua primeira turnê no país. Quais são as suas expectativas para este encontro com o público brasileiro?
Roo Panes: Eu acho que estou muito empolgado para ir ao Brasil e tocar para pessoas que têm me ouvido. Eu sempre notei que os brasileiros que me escutam são muito engajados. Eles sempre enviam mensagens, são muito receptivos. Então eu estou mesmo empolgado para chegar e tocar para eles. E eu não tenho expectativas, exatamente. Eu nunca vou a lugar nenhum com expectativas. Eu apenas quero ir e cantar minhas músicas. Eu procuro não me limitar a expectativas, estou empolgado para sair por lá, conhecer pessoas. Eu já estive no Brasil antes e eu amei. Então é isso, estou empolgado!
FDW: E além de “Lullaby Love”, que já se tornou um super hit no Brasil, o que você vai tocar por lá? Você está montando um setlist especial?
Roo Panes: Engraçada essa pergunta. Talvez eu faça algo diferente. Mas o que geralmente eu gosto de fazer, especialmente, quando faço show solo é fazer meu setlist no momento mesmo. Tipo, bem antes do show ou enquanto eu estou tocando, porque eu gosto de reagir ao público. Então eu sinto o que deve ser tocado naquele momento. Mas, sim, eu definitivamente vou tocar “Lullaby love”. (risos)
FDW: Você tem que!
Roo Panes: Sim, eu acho que terei problemas se não tocar. (risos)
FDW: Sim, com certeza! Bom, acho que encerramos por aqui. Muito obrigada pelo seu tempo, Roo! Divirta-se no Brasil!
Roo Panes: Eu realmente curti o papo. Obrigado!