“Estou ali de espírito”: Valter Lobo fala sobre sua vinda ao Brasil, shows e seu disco “Primeira parte de um assalto”

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O cantor e compositor português Valter Lobo vai visitar o Brasil pela primeira vez nestemês de Agosto, para a realização de três apresentações: dia 10, em São Paulo (Sesc Pinheiros), dia 13 em Porto Alegre (Agulha) e dia 20, no Rio de Janeiro (Teatro Solar de Botafogo). Além dos shows no Brasil, Valter também se apresenta em Buenos Aires (Argentina)no dia 17 de Agosto. Batemos um papo com ele sobre a turnê sul americana, poesia, inspirações e muito mais. Confira!

Essa é a sua primeira vez tocando no Brasil?

É sim. É a primeira vez, é a primeira oportunidade também. Sei que tinham algumas pessoas a me ouvir no Brasil, de forma muito orgânica e instintiva, porque sou músico independente, então apareceu esta oportunidade, e estou muito ansioso para fazer minha primeira investida.

E como estão os preparativos para os shows no Brasil e Argentina?

Eu gosto de encarar cada show da forma mais orgânica possível, ou seja, não levo as coisas preparadas, iguais para todos os concertos. Como só depende de mim, da minha interpretação, do meu estado, vamos ver o que é que vai acontecer. Não levo uma setlist toda certa, se vou tocar novas ou antigas. Mediante as pessoas, como elas estão, se mais alegres, mais bem dispostas, mais ativas, vamos gerindo o concerto e também o meu diálogo, por que no fundo isso é um encontro. Eu falo muito nos concertos, tento explicar as coisas, peço para as pessoas interagirem, ou seja, cada concerto é um concerto. Já houve concertos que foram muito interativos, outros menos, outros mais programados, outros deixa-se rolar, cada um é o que é. 

E como você sente que serão os shows no Brasil?

O concerto é intenso, porque eu também sou espectador de muitos concertos, vejo muitos, e o meu eu acho que é um bocadinho diferente, por que eu acabo por envolver de outra forma, eu acho que eu começo a mexer com as entranhas, e não é só tocar canção um, canção dois, canção três e toca o concerto para frente. Estou ali de espírito. Há sempre gente a chorar, há sempre gente a rir, há sempre gente a vir com ideias diferentes. A cada concerto eu recebo mensagens de pessoas a contar sobre coisas da vida delas e dizer que vão mudar alguma coisa a conta do concerto, não é só para dizer que estiveram e foram ouvir dez ou doze canções, é para ser uma coisa intensa. Por isso eu sempre digo as pessoas, vão, porque que, quem vai, fica fã, e estou a ser o mais humilde que posso. (risos)

E é um encontro das pessoas. Cada vez nos esquecemos que há alguém que vem de outro sítio, mais longe, e há grupos de pessoas que podem ser, cinquenta, cem, mil… De repente a conta da música estão unidas ali um grupo de pessoas, e aquilo (o show) tem que fazer alguma coisa, não é só entreter, não é só passar um hora ou duas horas de tempo, tem que haver alguma coisa ali, tem que haver ali uma mudança. Os concertos que me marcaram deixaram mudanças em mim, eu já fui a milhares e às tantas posso dizer, mexeram comigo dez, quinze, talvez?  Aqueles concertos que vai e diz: “Eu vou ter que fazer qualquer coisa assim” ou “eu vou ter que mudar a minha vida de qualquer forma” e já nem consegues dormir pois estás a pensar.

E quais shows você já foi que te deixaram impactado dessa maneira?

Posso dizer um ou dois. Um já foi há alguns anos, que é de um artista norte-americano que eu adoro que é o Ryan Adams. É um singer-songwriter e ele deu um show aqui no Porto, há uns anos, estava o teatro quase vazio, e ele sozinho no palco com duas guitarras e um piano e deu um show mindblowing , e eu estava a assistir e pensar: “Quem é esta pessoa aqui?”

E outro foi do
Damien Rice, também fez um show solo aqui, inacreditável. E tem outro show, de um músico que agora é meu amigo, que eu conheci, que eu também organizei, que é um irlandês, chamado Glen Hansard. Eu já produzi um concerto com ele, já cheguei a tocar com ele. E o Glen, dá concertos em que na terceira música já está validada o concerto, é incrível.

Como você enxerga a relação da composição das suas letras com a poesia e a literatura?

É um bocadinho natural. Não é como se me considerasse um poeta ou um escritor, mas acho que a letra, e a nossa língua portuguesa, que é uma das mais bonitas do universo, tem que ser muito bem tratada, e eu tento tratá-la o melhor que seja, o melhor que consigo. Gosto de usar algumas palavras e algumas ideias que não sejam rimas básicas, que não sejam verbos básicos, que acabam por tornar as canções banais, embora, às vezes, até mais fáceis. Então procuro usar essas figuras, estilísticas, tipo “O governo não sabe nada do nosso amor/ se não mandava prender, pagar mais caro”, essas questões políticas, que não é política propriamente dita, mas com amor, com romance… escrever pequenos poemas, não é? Que podem viver separadamente também, além da música.

Este ano você lançou seu terceiro álbum, “Primeira parte de um assalto”. Como foi o processo de composição?

Enquanto músico e artista, não vejo isso de fazer uma produção, como se música fosse outra coisa qualquer, ou seja, tem que ser naturalmente, as canções tem que fazer sentido. Há músicos que tem pressa, de dois em dois anos eles editam um disco obrigatoriamente, e vão fazer processos de criação… Eu estou constantemente em criação, e chegou um ponto em que tínhamos que resumir ali em um álbum algumas canções que eram essenciais, ou seja, não tenho assim um processo muito grande, é pegar as canções que tenho aqui a volta e ver se fazem sentido e se eu as consigo defender, se são minhas. Não é com um intuito comercial absolutamente nenhum, é com o intuito cada vez mais de legado, nem que seja para meu único herdeiro. 

Quais diferenças você enxerga entre o “Mediterrâneo”, de 2016, e o “Primeira parte de um assalto”, de 2022?

Basicamente eu tenho três trabalhos, embora considere que tenha só dois discos, dois álbuns. O primeiro de todos é o “Inverno”, que é um EP. O inverno era o início, uma fase mais conturbada da minha vida, de indecisão… Sabes que eu sou formado em direito, então era a fase da transição, em que deixei tudo, era uma coisa complicada, não é? Financeiramente, socialmente, com a família. Tu deixas de fazer uma coisa para fazer outra completamente diferente da qual não tens qualquer background, então estava assim uma coisa mais triste e confusa. Passado uns anos, fomos para o “Mediterrâneo”, que já era um clima mais ameno, queria buscar a beira do mar, queria o romance, queria uma coisa mais platônica, queria me reapaixonar pelas coisas de todos os dias. E agora este aqui, o “Primeira parte de um assalto”, já é uma coisa mais madura, é uma fase mais sentimental, uma coisa em que eu me exponho mais, penso de uma forma mais adulta e sem barreiras, sem preconceitos, ou seja, já estou em uma fase em que quero sentir, quero fazer, porque me apetece, sem fazer fretes. Sem fazer fretes é tipo “não quero saber o que dizem”, é isso, sem fazer fretes, fazer o que me apetece e é tudo.

>> Leia também: Valter Lobo e seu disco, faminto.

Algum cantor brasileiro te inspira ou inspirou na feitura do “Primeira parte de um assalto”?

Tenho mais comigo, aqui, há uns anos, o (Rodrigo) Amarante, que no fundo eu vejo muito. Não na música, embora seja um cantautor, sozinho, só um violão, mas é muito mais melancólico do que a normalidade dos brasileiros, e também fez uma coisa muito bonita, fez um álbum sozinho, que é o “Cavalo”, e que funciona ad eternum, para sempre, e que parece viver pra sempre, que nunca vai sair de moda. Canções boas, sinceras, bonitas, eternas. Gosto muito de como ele se apresenta ao vivo também, gosto da maneira dele de ser, e da toada melancólica. Há outros brasileiros que também já ouvi, que gosto e tenho um máximo respeito, mas não sinto tanto que é minha mesma energia.

Das canções do “Primeira parte de um assalto”, quais mais mexem com você?

Eu gosto de todas, porque acho todas diferentes. Tem uma ou duas que eu gosto mais da construção da música, da sonoridade, que eu acho diferente. Há uma que acho que mexe mais comigo, sentimentalmente…

As minhas preferidas são “Privilégio”, “Fizeste-me sonhar” e “Brilha na vida”, que é dedicada ao meu filho e acaba com esta frase: “São os meus conselhos/ Quando eu não estiver aqui/ Liga o rádio/ Pode ser que me vais ouvir”


Serviço: Valter Lobo no Brasil

São Paulo (SP)
data: 10 de Agosto de 2022 (quarta-feira)
horário: 20:00
local: Sesc Pinheiros (Auditório) – Rua Paes Leme, 195, Pinheiros

Ingressos: venda liberada a partir de 2 de Agosto, 14:00, via site da Rede Sesc SP; a partir de R$ 9

Porto Alegre (RS)
data: 13 de Agosto de 2022 (sábado)
horário: 19:30
local: Agulha – R. Conselheiro Camargo, 300 – São Geraldo
Ingressos: a partir de R$ 35
via Sympla (Lista preta/indígena: R$ 25)

Rio de Janeiro (RJ)
data: 20 de Agosto de 2022 (sábado)
horário: 21:00
local: Teatro Solar de Botafogo – Rua General Polidoro, 180, Botafogo
Ingressos: a partir de R$ 50
via Sympla