Farewell: uma canção onde o começo e o fim são um só

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Minha relação com duos folk é quase tão longa quanto a minha relação com a música folk. Costumo dizer que existe uma magia nessa harmonização de vozes que dificilmente se encontra em outro estilo. Falei muito sobre isso junto com os Devonts e os Horses & Joy no episódio sobre duos folk do nosso podcast Folkalizando (ouça aqui). 

Dito isso, preciso compartilhar com vocês essa beleza de lançamento que me chegou por aqui: o single “Farewell”. De um lado, nós temos o Pedro Vulpe, um nome conhecidíssimo por aqui. Vez ou outra ele colabora com textos para o blog, já participou de episódios do nosso podcast, foi um dos pioneiros nas saudosas FolkdaWorld Sessions e, claro, já rendeu muita pauta para o blog com seus lançamentos belíssimos. Nesse single em específico, não ouvimos apenas a sua voz, mas também podemos conhecer mais sobre seu lado produtor. Lado esse que foi ousadamente aproveitado por Isa Scheufler ao convidá-lo para essa parceria.

Isa é a outra voz que ouvimos nesse duo, a primeira que nos chega aos ouvidos quando damos o play, na verdade. E que me chegou como uma surpresa muito agradável. Eu já havia recebido outros materiais da Isa, sabia que havia algo bom ali mas que precisava ser lapidado de alguma forma e fiquei atenta isso. Que bom que me atentei. O restultado da lapidação está aqui, em música. E que música.

“Farewell” é uma canção sobre distância, em tradução livre é um “adeus”, um “até a próxima”… “Valeu, falou!”. Mas a letra vai além, fala da tristeza do fim e da alegria de recomeçar como totalidade da mesma situação. O fim e o começo são um só.

Ao ouvir o duo e sentir sua atmosfera, podemos até achar que ela é uma canção romântica, mas não é. Ou não era a princípio. “Escrevi sobre a minha saída do Rio Grande do Sul, me despedindo e encarando o que estava por vir. Só quando cogitamos o dueto é que percebemos o potencial dela, sugerindo os dois lados de uma despedida num relacionamento”, conta Isa.

E é isso. De fato, a música sugere visualizar os dois lados de um momento complexo. Afinal, você pode sentir a perda de alguém e ainda assim se contentar com as consequências disso. Só porque a história já acabou não quer dizer que ainda não possa ser sentida.

Cheia de anseios e um refrão confessional, o que “Farewell” faz é deixar um pedido para não ser julgado pelas suas escolhas, deixa evidente que a distância dói, mas é momentânea, transitória, assim como nossos passos, nossas andanças. Nós vagamos nesse pêndulo de afetos e conexões, mas nos permitimos sentir.

Eu sei que esse post já vai longe para falar apenas sobre um single. Mas certas músicas precisam ser celebradas em resenhas como esta. A evolução da Isa é marcante enquanto cantora e compositora, a do Pedro como produtor também. E unindo o fato de que foi tudo feito a distância, entre Nova Iorque, onde ela mora, e Santa Catarina, onde ele trabalhou neste material, tudo fica ainda mais bonito e surpreendente.

Um duo como esse me faz lembrar deles: dos Swell Season, formado pelos nossos amados Glen Hansard e Marketa Irglova. Seria demais compará-los? Ou ao menos ansiar para que Isa e Pedro tenham o sucesso que Glen e Marketa alcançaram? Bom, eu não sei. Mas fico aqui ouvindo “Farewell” em looping, enquanto sonho e torço por eles.



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