Gustavo Bertoni catalisa emoções em seu novo disco “The Fine Line Between Loneliness And Solitude”

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O frontman da excelente banda Scalene, Gustavo Bertoni, lançou o seu terceiro disco solo intitulado “The fine line between loneliness and solitude”. O álbum chegou completo nas plataformas em Agosto de 2020 e assim como em “The Pilgrim (2015)” e “Where light pours in (2018)”, Bertoni explora as sutilezas que as composições em inglês proporcionam.

Poderíamos dissecar o título do disco e filosofarmos sobre a linha tênue que separa solidão de solitude, palavras tão parecidas com significados antônimos. Poderíamos para tanto, evocar Bukowski e Thoreau para participar deste debate com suas maravilhosas e distintas percepções sobre este assunto. Mas há algo muito bonito na obra de qualquer artista, que é deixar qualquer significado se dissipar ao ir de encontro com aquilo que o expectador sente.

O que eu senti ouvindo o disco, foi a capacidade de um artista tão talentoso quanto o Gustavo é, de transformar os sentimentos mais simples em canções que abraçam o ouvinte. O disco poderia (poderá) estar em muitas das playlists do chamado Indie Folk, mas cá entre nós, discos como este não cabem apenas em playlists. Disco como este, precisam ser apreciados, absorvidos e degustados à meia luz. 

Há uma intenção perceptível em Gustavo Bertoni, de realizar trabalhos de extremo bom gosto estético e sonoro, seja em sua banda principal, quanto em suas aventuras solo. “The fine line between loneliness and solitude”, demonstra essa intenção desde a arte da capa, dos filtros dos vídeos e fotografias, até cada música do disco.

Capa de “The Fine Line Between Loneliness And Solitude”

Ele cria texturas, sussurros, flutua despretensioso pelos espaços entre cada nota. Caso de “Midnight Sun” que foi a primeira do disco que “me pegou” logo de cara, especialmente porque a letra fala sobre abraçarmos aqueles sentimentos que não são tão bons e recomeçar sabendo lidar com eles.

“Sit down, lets talk” é absurdamente contemplativa, genuína. Um pedido de pausa, para discernir os acontecimentos. “Waves” que foi escolhida como primeiro single (e é a segunda faixa do disco, a primeira com letra – a abertura com “Chasm” é instrumental), brinca com dedilhados, dança com os acordes e oferece resiliência.

A lovesong do disco fica por conta de “White Roses” um dueto com a cantora YMA e é calmaria pro coração. Fechar o disco com “Rabbit Hole” foi de tirar o fôlego. Quando você pensa que já ouviu tudo o que tinha para ouvir, ela chega com suas camadas etéreas inserida em um arranjo magistral. Linda.

Quem se encarrega da linha de frente da produção do trabalho é o inquietante Lucas Mayer, dentre muitas coisas, integrante dos projetos Call Me Lolla e Le Tour Du Monde. E o trabalho, gravado e produzido entre Berlim e São Paulo, conta ainda com as colaborações do pianista e compositor norueguês, Kjetil Mulelid, e Eduardo Canavezes em arranjos de corda.

“The Fine Line Between Loneliness And Solitude” é introspectivo na medida certa. Flerta com o Indie, com o Folk Urbano (sim!), amplifica cordas, acrescenta drum beats aqui e alí, e faz de Bertoni um catalisador: ele transforma os sentimentos mais densos em leveza pura. Gustavo  faz parte de uma safra de artistas de muita importância dentro do cenário atual da música. Como artista, ele se mostra altamente criativo, verdadeiro e intenso. Suas composições certamente ultrapassarão a relevância do tempo. Discos que precisam estar em sua estante.