Indie Folk: tradição e modernidade na música acústica atual
por Ícaro Honório
O folk sempre foi um estilo musical muito fechado a novas experimentações. Talvez em função de sua natureza peculiarmente tradicional, visto que não raro é confundido com outros estilos semelhantes como o country e americana, o folk é e sempre foi relacionado diretamente à cultura popular de países de língua inglesa, de tal maneira, que sair da estética estabelecida seria quase como um sacrilégio às formas costumeiras postas pelo ambiente artístico de tais países.
É claro, entretanto, que o avanço do rock na segunda metade do século XX abalou as estruturas do estilo, seja incluindo guitarras elétricas, como Johnny Cash fez, ou misturando política e lirismo, como o fez Bob Dylan, ou ainda experimentando as mais diversas afinações como Nick Drake ousou fazer, mas foi na atualidade que o folk tomou um rumo jamais antes visto na história da música e é sobre isso que vamos falar hoje.
Para tanto, é necessário relembrarmos o que acontecia coma música pop no início dos anos 2000, o rap e o EDM começavam a se consolidar enquanto nova forma de se produzir música popular em todo mundo e cada vez mais as produções acústicas tradicionais perdiam espaço no mercado fonográfico. A era das divas pop tinha se instaurado e o mercado se direcionou quase integralmente em direção ao estilo de música relacionado a esse novo tempo, lê-se música eletrônica de toda sorte e, aqui e acolá, algumas produções acústicas.
Paralelamente a tudo isso, gravadoras independentes – daí nasce, portanto, o termo indie como uma nova forma de se produzir música de maneira alternativa – começavam a consolidar mercados alternativos de rock, folk, e, posteriormente, de música eletrônica. Fica claro, então, que o indie não nasce como movimento estético, mas sim como uma forma de se produzir música alternativa, e esse fato explica o porquê de existirem tantas disparidades estilísticas entre as bandas atualmente chamadas de indie.
Na música acústica e, especificamente, no folk, essas novas produções, protagonizadas por bandas e artistas como Mumford and Sons, Ben Howard, Dustin Tebbutt, Ed Tullet, Of Monsters and Men, entre outros, se encontravam em um embate lírico claro entre a tradição e a modernidade, de tal maneira que fica patente a confusão estética dos primeiros registros dessa geração pertencente ao que se convencionou chamar-se de indie folk.
No final do primeiro decênio do século XXI, a confusão estava, em parte ao menos, solucionada. As produções do “new folk” misturavam brilhantemente o viés acústico e tradicional do folk clássico e a urbanidade e lirismo típico do cenário independente da época. Por vezes, ainda mais hoje em dia, fica evidente a aproximação entre o indie folk e o pop, principalmente no que se trata do papel do produtor nos novos registros das bandas, no entanto é importantíssimo que essa aproximação ocorra principalmente para a melhor aceitação por parte de
organizadores de grandes festivais de bandas e músicos do gênero, uma vez que, essa forma de se apresentar ao vivo fortalece as bandas dentro do cenário do país no qual o festival ocorre.
Atualmente, por fim, é possível se vislumbrar um futuro frutífero para o folk na música popular mundial. O estilo, como nunca, dialoga com o contexto urbano e caótico das grandes cidades sendo uma alternativa leve e aprazível que nos leva a uma dimensão lírica única e especial. Indiscutivelmente, o indie folk está longe de representar um estilo organizado com características dadas e imutáveis, muito pelo contrário, ele varia de país para país e, por isso, é tão grande a gama de sentimentos e sensações que o estilo pode transmitir – desde o som complexo e excêntrico de bandas como Beirut à simples voz e violão de The Tallest Man on Earth. Esse é apenas um de tantos outros motivos pelos quais acredito que a música acústica respira novos ares hoje em dia, com registros únicos e de fundamental importância para o cenário continuar sempre, a um só tempo, tradicional e moderno.