Logan: um super-herói western parecido com Johnny Cash

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Como fã do Wolverine e do Johnny Cash que sou, não poderia deixar de comentar aqui com vocês algumas coisas que descobri sobre a relação dos dois em Logan. Afinal, não bastasse a surra que o trailer nos dá ao som de “Hurt”, os créditos do filme sobem ao som de “The Man Comes Around”.

Vale deixar claro que meu objetivo aqui não é fazer resenha do filme, mas sim falar sobre a semelhança entre esses dois ícones da cultura americana.

“Logan” vai além de um filme de herói, que fala sobre o quão legal é ter super poderes e salvar o mundo com eles. Pelo contrário, o longa fala sobre a vida, o peso e o cansaço de ter essa responsabilidade nas costas. Nele, não vemos um Wolverine, mas um cara falido chamado de Logan. Mais duro, mais chateado, mais sombrio… E existe algum artista com um perfil mais parecido com esse que o Johnny Cash? Se sim, eu desconheço.

Depois de assistir ao filme (sim, evitei ao máximo todos os spoilers!), andei lendo e assistindo várias entrevistas do diretor James Mangold, além de stalkear seu Twitter (sou old school de redes sociais), e descobri muita coisa bacana.

Começando pelo trailer, Mangold comentou o uso de Hurt na trilha sonora: “a música de Cash, de alguma forma, nos separa do convencional, do bombástico, da orquestra, do tiroteio, das portas se abrindo e batendo, da metodologia do tipo explosão de alguns desses filmes”, esclareceu em uma entrevista à Empire.

Em outra entrevista, desta vez ao USA Today, por exemplo, Mangold afirma que “Johnny Cash é um cara muito Logan e vice-versa”. Já ao Bad Taste, ele disse: “Ambos estão lutando com a escuridão em suas vidas ou lutando com a sombra do pesar por ter cometido um erro terrível, sendo assombrados por seu passado, incapazes de ver como eles podem seguir em frente ou mudar o curso de suas vidas”.

Ambos estão lutando com a escuridão em suas vidas” 

Eu não sei o quanto observadores vocês são, mas notaram que neste filme Logan troca sua clássica jaqueta de couro por uma bem parecida com essa que o Cash usa nas fotos de divulgação de “Ride This Train” (1960)?

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Johnny Cash, nas fotos de “Ride This Train”, e Hugh Jackman, como Logan

Curioso, também, é que além da referência com as músicas do Cash, não podemos deixar de notar nas cenas amareladas e dramáticas de Logan, que remetem aos clássicos Western. Como é o caso de “Shane” (no Brasil: Os Brutos Também Amam), um western de 1953, que até aparece em uma das cenas do filme – quando Xavier e Laura estão no quarto do hotel. Basta ler a sinopse de “Shane” para entender como os protagonistas são parecidos. Sobre o longa, o diretor comenta: “Esse filme influencia a relação principal entre Logan e Laura, que em meio a desconfiança de um com o outro, conseguem encontrar algo em comum”. Há ainda referências a “Unforgiven” (no Brasil: Os imperdoáveis), de 1992, filme que subverteu levemente a história de Clint Eastwood e o que as pessoas sabiam e esperavam dele.

Na visão de Mangold, em Logan, “John Wayne, Alan Ladd, Clint Eastwood e Robert Mitchum todos se transformaram em um super-herói”.

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Shane (1953) / Logan (2017)

Preciso lembrar a vocês que James Mangold é o diretor do aclamado “I Walk The Line” (2005), filmografia que conta a história de Johnny Cash e June Carter. E, acreditem, um papo entre ele com o próprio Cash, teve grandes resultados em Logan:

“Entre Johnny Cash e Logan eu acho que é ainda mais mágico. Quando eu estava trabalhando em Walk the Line, numa das últimas conversas que tive com Johnny Cash, porque ele estava me ajudando com o roteiro, eu estava fazendo um monte de perguntas a ele sobre sua vida e numa delas eu perguntei ‘qual era seu filme favorito quando criança? “. E ele disse que viu quando estava crescendo […] o filme original do Frankenstein, de James Wales, e ele tinha essa profunda ligação emocional com o filme. Todas as pessoas ao seu redor estavam assustadas, mas ele se identificava com o monstro. Ele sentiu que se identificava com a criatura e ele disse ‘a criatura neste filme era composta de todas as peças roubadas de homens maus’, e ele começou a sentir que ele era feito de peças roubadas de homens maus e eu acho que Wolverine sente que ele é ruim por dentro. Tipo de fabricado, como Frankenstein”.

Veja o vídeo da entrevista dele ao Bad Taste:

Por fim, se é que existe limitação para as inspirações que originaram toda a carga deste filme, ao término da exibição de Logan, na subida dos créditos, somos nocauteados mais uma vez pela voz grave e rouca de Cash. É “The Man Comes Around” nos dando ainda mais certeza das influências que comentamos aqui, e nos deixando com uma pulga atrás da orelha sobre o que o futuro nos reserva.

“Voices calling, voices crying.
Some are born and some are dying.”

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Logan / Cash