A Maestria Sublime em Wings & Horns

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Sublime é uma palavra que define algo próximo a perfeição. O som, esse intangível, não perdoa: nos tira de onde estamos. Nos provoca sensações sem, ao menos, existir corporalmente. Acredito que um dos piores castigos da humanidade é não poder tocar o som, ainda mais quando o achamos sublime. E o Wings & Horns, ao final da audição de seu primeiro single, transmite essa incapacidade. A única vontade que nos toma é a de tirar todos esses sons pra dançar.

Rique Meirelles, idealizador do projeto, consegue um feito pouco visto: trazer para a música popular um instrumento europeu medieval, a Viela de Roda. O som único da Viela se esfrega ao do violino, surpreendentemente formando um ruído preenchedor. Rique, estudante de música erudita e já reconhecido no meio como violinista, é referência na Viela de Roda, tendo diversas participações em bandas como Lágrima Flor e Café Irlanda. Sua atuação exímia com a Viela o levou a participar da trilha sonora da novela “Velho Chico”, em 2016. A Wings & Horns consegue misturar as influências de música folclórica medieval com a estrutura de canções populares contemporâneas, criando veredas, nuances, caminhos. Em seus cruzamentos e paralelas, as ruas da música se convergem, indicando o já dito sublime.

“Paths”, seu primeiro single, é a música imaginária que cria imagens concretas, mesmo que etéreas. A simplicidade da canção assombra: simples, mas profunda: visceral: as entranhas de Rique (e do Wings & Horns) devem ser formadas de frequências sonoras belíssimas. E devemos agradecer por elas estarem expostas, todas, nesse single simplesmente avassalador. Se caso fechar os olhos enquanto seus ouvidos apreciam a música, é possível sentir o cheiro fresco da madeira dos instrumentos, o gosto doce da fricção entre o arco e as cordas, o leve tato do ar saindo da Viela. O vídeo da canção, postado logo no fim desse parágrafo, é muito bem produzido e casa, esplendidamente, os detalhes e close ups com o P&B elegante da captação. E a canção vira um ato sinestésico e avassalador.

Sentado nas colinas e observando com muita clareza os passos da música folk atual, a Wings & Horns consegue trilhar a própria caminhada, entendendo cada rua que atravessa, com uma das mãos apontando, firme, para o futuro. Os olhos se semicerram, o vento sopra nos cabelos, o pensamento se fixa na estrada e Rique, esse bardo contemporâneo, esse ser tão antigamente hoje, nos emociona com a firmeza da decisão do primeiro passo.