Música é pra se ouvir o silêncio, assim como a gente fala muito pra não dizer algumas coisas. Mas é só essa musculatura do silêncio que fortalece nossas memórias, que produzem pensamento e crítica, e faz da solução soluço insistente, teimando em sair do peito rumo ao mundo. O duo Massonetos brinca simples de tecer músicas e músculos.
Formado por Mariana e Ricardo Massonetto, o duo consegue com maestria encaixar poética e política, crítica e música, suavidade e a dureza do mundo. A sonoridade que, à princípio, parece calma e florestal, numa segunda camada nos parece exata: é através da fala aveludada que se atinge: os conselhos mais duros da vida são dados embaixo de um cafuné acolhedor.
Conforme o disco caminha, percebemos as notas como aromas que se espalham pelos ventos dos ouvidos: uma viagem quixotesca pelo outro, pela política dos afetos, pelas curvas molhadas e arredias da existência. Se minhas caixas de som falassem, diriam desse disco.
Destaque para “Milésima vez”, que inflama linguagem. Extremamente bem composta e com vozes tão bem casadas que desanuviam qualquer olhar. A forma como as palavras se permeiam pela musicalidade, por cada parte pequena dessa nuvem de som é simples e exuberante. “Nada é tão deprimente se tudo o tempo há de levar” é uma frase que te vence e te leva pra vida: como uma releitura de Mário Quintana e seu “… Eles passarão, eu passarinho”.
O clipe dessa canção é, da mesma forma, repleto de leituras e eximiamente bem feito: filmado em plano sequência, nos envolve numa espécie de viagem onírica pela cabeça da contemporaneidade, da vida social, da uberização do trabalho, desse mistério que é a relação entre um e dois: Um folie à deux perfeito. Assista e se deixe atravessar:
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Um disco que clama pelo repeat, feito muito mais pra ser reouvido do que ouvido, apenas. Esperaremos contentes por mais trabalhos, músicas, apresentações, letras, sons, e tudo o que escorre desse projeto: afinal, a Massonettos tem uma plantação linda pela frente.
