Mauro Meloni: um espanto frente ao esplendor

por

Tudo se revela no encontro, mesmo que ele seja um esbarrão: o acaso opera, desenfreadamente, os melhores momentos. Quando o instante do encontro passa, como um raio que jamais será susto novamente, o que sobra é a estrada percorrida até ali. É como ficar intrigado com o olhar de uma artista plástica sem saber o motivo e, depois de um tempo, descobrir sua descendência árabe: nesse momento em que
tudo se encaixa e você, repentino, sente o eureca: o encaixe, perfeito, daquela informação com o delinear de seus olhos e a presença de seus cílios. Um espanto frente ao esplendor, como esse, é a sensação de ouvir “No time for heavy hearts” pela primeira vez.

Mauro Meloni compõe um disco que contém tudo o que o pensamento alcança: a imensidão infinita. Cada nota, cada palavra, cada faixa é um deslumbre: Não há como sair ileso desse álbum. Ele é tão vital quanto inevitável. Sua voz preenche tanto as músicas quanto os ouvidos, e há brilho mesmo nos desleixos, quando a nota lançada contra o ar começa vigorosa e termina frouxa. Um disco que não cabe no disco, pois transborda pra vida: quando você se pega cantarolando alto suas melodias no meio do transporte público.

“Siesta”, a primeira canção do álbum, já é um deleite. Lança Mauro Meloni direto para o centro do seu coração. Sua única necessidade é agradecer essa invasão repentina. Quanto mais ela é ouvida, melhor fica. Uma perfeição helenística. Uma sensibilidade desumana. Uma profusão poética. Se eu fosse capaz de empilhar todos os adjetivos que pensei para dizer deste disco, teria de abrir outro buraco na
camada de ozônio para, assim, talvez, chegar até o final dessa tarefa tranquilamente. Embasbaquem-se:

De todas as formas possíveis, essa obra merece ser apreciada até não poder mais: E, pelo que parece, isso vai demorar muito. As asas de Mauro Meloni estão recém-abertas e só apontam, cada vez mais, para um vôo magistral. Esperamos que mais encontros como estes se dêem (num desatino do destino?), pois é nesse sentido que o caminho até aqui se vale, e fica, abrindo outros, novos, pra onde quer que seja: desde que com a trilha assinada pelo músico argentino.