Of Monsters and Men: uma trajetória de experiências do indie folk ao indie pop

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Of Monsters and Men talvez seja uma das principais bandas do começo dessa década responsáveis pela divulgação e popularização internacional do folk e, especialmente, do indie folk. A breve história da banda conta com três álbuns consistentes e muito bem produzidos – “My Head is na Animal” (2012); “Beneath the Skin” (2015) e “FEVER DREAM” (2019) – que mostram muito bem o seu amadurecimento nesses quase dez anos de existência de um indie folk com mais folk que indie, no início, a um indie folk com mais indie que folk, atualmente.

Já nos primeiros EP’s da banda era visível que se tratava de um projeto singular dentro do cenário do folk islandês, na época muito tradicional e fechado em convenções antigas, já que a grande maioria das composições era em inglês, língua mais palatável ao mercado fonográfico internacional. É verdade, entretanto, que a banda tinha muito mais a oferecer do que parecia no primeiro momento, a produção do “My Head is an Animal” foi fortemente marcada tanto pelo background musical da Islândia naquele período quanto pelas tendências que direcionavam a produção de acústica música independente pelo mundo.

O primeiro álbum utilizou do storytelling, muito comum no folk americano da década de 1960 e 1970, para representar uma série de histórias de fantasia e contos infantis com uma riqueza sonora deslumbrante que casava perfeitamente com os videoclipes das principais faixas do álbum. Tudo no primeiro álbum é banhado de uma forte carga de nostalgia que embala da primeira à última faixa com uma simplicidade contagiante e, ao mesmo tempo, muito bem pensada.

A banda optou por introduzir coros aqui e acolá para construir uma atmosfera de “música de arena” e dar vontade de cantar junto sempre que se for ouvir. Essa técnica, inclusive, se repete nos trabalhos mais recentes da banda e acabou por se tornar uma característica bem presente nos singles lançados posteriormente. Com esse jeito de produzir e compor, misturando nostalgia com euforia, o “My Head is na Animal” marcou o grupo como sendo uma banda de músicas alegres e gostosas de se cantar junto. Enfim, uma típica banda de festival de música alternativa.

Tudo mudou três anos mais tarde com o lançamento do “Beneath the Skin”, álbum que já contava com elementos de eletrônica e de pop, mas misturado com uma estética minimalista e mais introspectiva. A própria identidade visual da banda se altera um pouco nesse período, a utilização do preto e branco nos videoclipes, estes cada vez mais performáticos, traziam consigo novas apostas.

O aspecto lírico do álbum também indicava o amadurecimento dos integrantes da banda, as novas composições, mais melancólicas, se misturavam com toda a estética fantasiosa do álbum passado criando um universo cada vez mais distante de músicas como “Little Talks” ou “King and Lionheart” e mais próximo de faixas como “Human” e “Empire”. Por outro lado, toda essa mudança abria portas para o afastamento cada vez mais vertiginoso das convenções tradicionais do que conhecemos por folk, uma vez que, guitarras elétricas se tornavam cada vez mais presentes e vez ou outra sintetizadores apareciam para compor uma ambientação diferente nas músicas.

O último e mais recente álbum, por fim, marca a conversão completa da banda ao indie pop. “FEVER DREAM” já sugeria mudanças antes mesmo de ser lançado oficialmente, os dois primeiros singles, “Alligator” e “Wild Roses”, mostravam uma banda completamente diferente. A utilização ampla de sintetizadores, baterias eletrônicas e outros instrumentos nada convencionais ao folk tradicional apontam para uma estética oitentista que casa muito bem com a nova onda da banda.

Com uma energia contagiante e letras envolventes, como sempre foi na trajetória de OMAM, a banda opta por ousar em cima das próprias características ao ponto de regravarem “Little Talks” em uma nova roupagem para uma série de performances ao vivo que gravaram para seu canal no YouTube. É emblemática essa regravação justamente porque se trata do primeiro single de sucesso da banda, reinterpretar e ousar em cima de uma música tão consolidada é um símbolo de amadurecimento e busca por novos ares.

Talvez a vertente folk de Of Monsters and Men tenha sido, finalmente, superada, muito embora alguns aspectos da banda tenham se mantido, não se trata da mesma banda de nove anos atrás e o abandono do gênero que os sedimentou é o exemplo máximo de que nenhum artista ou banda deve se sentir obrigado a manter a mesma sonoridade até o fim de sua carreira, música não funciona assim. Dito isso, nos resta saborear o que há de melhor nas novas produções da banda e ter a consciência que a liberdade de experimentar é o que torna a música independente tão interessante.