Os enfins de Crônicas Partidas

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É como quando todas as pontas se ligam: como se cada caminho fosse um rio: seu desague é sempre marcado para o mar. Todos os caminhos levam pra isso. O que podemos imaginar é que cada música, também, pode ser um rio: e é impossível se banhar duas vezes na mesma música. Assim como para um músico é impossível tocar duas vezes a mesma canção.

Nessa tríade de primeiros discos da Crônicas Partidas, que se completa agora com “De volta ao Triângulo”, André Passos busca esse retorno, esse silêncio ante a caminhada: a calmaria sonora do rio que, mesmo calmo, continua andando. Um rio só se enfurece quando barrado. Um rio nunca tem fim.

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As fotos e as canções se juntam como afluentes tardios, buscando sempre mais, sempre o novo, sempre o que resta do ciclo. Não há como não compreender a caminhada dos discos até aqui. Cada passo e toque, cada palavra encaixada, pensada e cantada. A luminosidade do disco só aflora, como um dia resgata um sorriso ou aumenta as vitaminas do corpo. Esse disco que de bites em bites em bites em bites formam um lar tão aconchegante como palpável.

Destaque pra música homônima ao álbum, que encerra o disco e sua eloquência é pungente: é como se, ao último acorde soado, só quiséssemos esticar um pouco mais o segundo, prolongando qualquer coisa que reste ainda daquela música, daquelas teclas, daquela voz.

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Se há algo que devemos nos encontrar é na música: em cada vírgula inexistente no poema que vira letra, em cada ar atravessado que rodeia o acorde. André Passos se encontra na música: é lá que ele começa e que caminha, sempre enxergando mais que o fim: suas canções são canções pra depois de amanhã: suas canções são faróis acesos em um dia de tempestade: suas canções são a terceira margem do rio.