“Roll The Bones”, de Shakey Graves, completa 10 anos com edição especial e desta vez não o deixe passar despercebido

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Shakey Graves é Texano e vez por outra até parece um legítimo cowboy quando sobe ao palco usando botas ao estilo peão e chapéu com abas retorcidas. Porém, Alejandro Rose-Garcia – o nome por trás de SG – elevou esse estilo ao contemporâneo e claro, bebeu da fonte musical texana, mas compõe um folk estilizado e bastante singular. Rose-Garcia (com este nome, qual a necessidade de outro nome artístico?) na verdade antes era ator, filho de um administrador de Teatro e de mãe também atriz, escritora e diretora, nasceu, portanto, em uma família que trazia a criatividade em seu DNA. Mas foi em 2011, aos 24 anos que ele resolveu esquecer as atuações e partir para o caminho da música, gravando o seu primeiro disco “Roll the bones”.

Vale mencionar, que antes de gravar o disco, foi uma apresentação de um one-man-band chamado Long III que fez a cabeça de Graves pirar com aquele minimalismo todo. E essa é a estética escolhida pelo músico para a partir daquele momento construir a sua própria maneira de conduzir um palco solo: bumbo-mala, guitarra, violão, algum outro instrumento mais e a sua trova solitária e cultural.

Mas o que há em “Roll the bones” que torne o disco assim, tão especial? Despretensão, eu diria. Honestidade, eu diria. Crueza, eu diria. Há um encantamento folclórico pelo viés alternativo. Coloque o disco e ouça a primeira faixa “Unlucky Skin” e perceba a estrada que o cantor quer percorrer. Não há nada muito polido, ao contrário. Tem banjo, tem harmônica, tem um indivíduo que está querendo um lugar para expor a sua arte que é encorpada. “Build to roam” é nostálgica e quase soa melancólica, utilizando de vozes dobradas para pontuar a história enquanto a reflexão da faixa título “Roll the bones” faz o ouvinte ficar preso naquelas falas: “Nós viemos ao mundo e aproveitamos as nossas chances e o destino é apenas o peso das circunstâncias, é assim que a ‘Dona sorte’ dança, rolem os dados”. O fato é que o compositor consegue sair de um lugar interno quase bucólico para de certa forma fazer os pés dos ouvintes balançarem. Então ele mescla letras mais introspectivas com uma sonoridade que contagia.

A quarta faixa “I’m on fire” traz até uma linha de baixo vibrando sinuosa e “Georgia moon” é a balada folkiana de sangue. A música mais diferente do álbum cabe a “Business lunch”, o jogo de palavras é rápido, a trama é moderna e remete ao tempo em que passamos ocupados trabalhando enquanto as relações cotidianas pedem espaço para esquecer o nosso lado sério e gozarmos a vida. E tem novamente folkzinho básico para bater palminhas com “Proper Fence”, quase indefesa. O disco fecha com outra bela reflexão, desta vez sobre a vida adulta que adentrará muitas vezes sem estarmos preparados de fato e Graves faz isso soar ainda mais natural ao colocar na letra em “To cure what ails” a busca por alguém especial.

Eu conheci o Shakey Graves através da música “Late July” que não consta no disco oficial, com um clipe bem barato e gostei demais daquele som. Tempos depois lembrei da música e fui procurar no YouTube, encontrei a já versão one man-band por acaso mais acelerada do que a faixa que eu havia escutado, pirei na hora. Tratava ainda de algumas versões especiais que ele estava tocando para a Audiotree Live Version que continha cinco canções: “Roll the bones”, “Build to roam”, “Bullys lament”, “Word of mouth” e “Late July”. E que se tornou um EP lançado pelo cantor em 2013, mas que confesso, me apoderei naquela mesma ocasião.

De lá para cá, vasculhei muitas apresentações do Graves e incrivelmente ele sempre mostra um novo elemento a cada canção ao vivo, elas dificilmente se repetem na forma de tocar e cantar. Muitos de vocês, talvez conheçam “Tomorrow”, canção bastante presente nas listas folk/indie nos streamings. Mas o fato é que o cantor relançou “Roll the Bones” em abril de 2021 – intitulado “Roll the bones X” – o disco que é duplo, traz além das canções presentes na tracklist original, versões de outras canções que não entraram no álbum, mas que em algum momento já foram tocadas ao vivo. Sobretudo, não é apenas uma comemoração do lançamento do disco que completa 10 anos, mas uma oportunidade que um artista genuíno como ele, está dando novamente para aqueles ouvidos que não foram tão atentos na última década, escutá-lo e dessa vez prestar atenção.