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A ilustração da capa do álbum já apresenta o que vem pelo caminho. Ao longo das 14 faixas, o vocal lírico de Ben Schneider penetra no meu âmago, transportando letras que lembram poemas e contos góticos do escritor Edgar Allan Poe, sem nunca esquecer o ambiente selvagem e misterioso de uma floresta. Assim é o disco “Strange Trails”.
Lançado em 2015, o álbum é o segundo trabalho de Lord Huron, banda de indie folk de Michigan (Estados Unidos). Em 2017, o disco emplacou na 1° posição do ranking US Folk Albums, lista criada pela revista Billboard.
Dias atrás, à noite, decidi revisitar o trabalho e mergulhei nas músicas enquanto contemplava as gotas de chuva escorrerem pela janela do meu quarto.
As letras das faixas, todas escritas pelo vocalista Ben Schneider, são interligadas por símbolos da vida selvagem, como os coiotes, os pinheiros e, principalmente, a noite, homenageada praticamente em todas as canções. Mas esses elementos são pano de fundo para um conflito ainda mais presente: a relação entre a morte e o amor (assim como muitas obras de Poe).
O cantor, que sempre é o protagonista das histórias de “Strange Trails”, está em uma jornada mística para encontrar a amada, percorrendo os mundos dos vivos e dos mortos, que parecem se cruzar na noite de uma floresta.
Entretanto, engana-se quem acha que essa viagem é embalada apenas por um instrumental melancólico.
Muitas faixas possuem uma atmosfera dançante, apesar do texto reflexivo que estrutura o chão. Alguns bons exemplos são “Fool for love”, “La Belle Fleur Sauvage”, “Cursed”, “Meet Me in the Woods” e “Hurricane”.
Já “The Night We Met” é o coração de Strange Trails. Primeiro por ser a canção mais conhecida da banda, sendo usada na edição de diversos vídeos do Youtube, assim como nas séries The Affair, do canal Showtime, e 13 Reasons Why, da Netflix. E segundo por ser a obra mais introspectiva do disco, iniciando os primeiros segundos com um tocante coral e depois embalada por instrumentos que parecem chorar.
Trecho de “The Night We Met” :
“When the night was full of terrors
And your eyes were filled with tears
When you had not touched me yet
Oh, take me back to the night we met”
(Quando a noite estava cheio de terrores
E seus olhos estavam cheios de lágrimas
Quando você não tinha me tocado ainda
Leve-me de volta para a noite que nos conhecemos)
Outras músicas que ganham destaque pelo texto são:
Love Like Ghosts: “…Yes I know that love is like ghosts. Oh, few have seen it, but
everybody talks. Spirits follow everywhere I go….” (Sim, eu sei que o amor é como
fantasmas. Oh, poucos já viram, mas todos comentam. Espíritos me seguem onde
quer que eu vá).
Frozen Pines: “…And I look up to the sky. And I know you’re still alive. But I wonder where you are. I call your name into the dark..”. (E eu olho para o céu. E eu sei que você ainda está viva. Mas eu me pergunto onde você está. Eu chamo seu nome no escuro).
Way Out There: “…I’m a long way from the land that I left. I’ve been running through life and cruising toward death. If you think that I’m scared, you’ve got me wrong….”. (Eu estou longe da terra que deixei. Estive correndo pela vida em direção à morte. Se você acha que tenho medo, está errado).
Depois de revisitar inteiramente “Strange Trails”, eu estava imerso em uma epopeia profunda, vivendo uma fantasia em meio às árvores. A realidade, acima da superfície, já não era mais visível, e só voltei a vê-la na manhã seguinte, quando acordei com os raios de sol contra o rosto.