“There is a Wolf”, o melhor disco de Folk Coreano do ano é de uma mulher, a Lang Lee, e é incrível!
por Maísa Cachos
Foi por curiosidade que eu dei play. Recebi por e-mail a lista de vencedores do Korean Music Awards 2022, que aconteceu no dia 1° de fevereiro, e meus olhos seguiram direto para o Melhor Álbum de Música Folk. Estava lá “There is a Wolf”, da Lang Lee.
Nunca ouvi falar da artista, apesar de estar me aventurando bastante nas músicas indies coreanas, mas o título do trabalho prendeu a minha atenção. Afinal, Wolf é uma palavra muito presente no universo folk com o qual estamos acostumados, concorda?
Eu já tinha gostado bastante do indie folk do Hwang Puha, nome que apareceu aqui no blog em setembro do ano passado, e pensei: bom, por que não arriscar uma audição? Visualmente, Lang Lee me apareceu o oposto do Hwang Puha. A começar pela capa do disco, levemente sombria, misteriosa, digna de ser o pôster de um k-drama de suspense.
De novo, foi por curiosidade que eu dei play.
A música tem uma coisa curiosa que é criar essa conexão, apesar de barreiras linguísticas. E confesso, mesmo não entendendo nada do que estava sendo cantado, eu consegui me conectar com as harmonias, as melodias e a atmosfera que cada uma delas cria.
Meio que automaticamente, a cabeça foi trazendo referências que, afinal, podem ser só minhas. Eu nem sei se a artista escuta as mesmas coisas que eu escuto. Mas elas estão ali. Uma sensibilidade em “잘 듣고 있어요 (I’m All Ears For You)” que me lembra a Carla Bruni, um pouquinho de rock indie em “환란의 세대 (The Generation of Tribulation)” que me lembra a Phoebe Bridges, uns violinos em “그 아무런 길 (Any Way)” que me lembram Beirut, uma doçura intimista na voz que misturada com uma vibe meio atmosférica em “의식적으로 잠을 자야겠다 (I Want to Sleep Willfully)” lembram algumas canções da Laura Marling.
São 10 faixas ao todo, que somadas não chegam a uma hora de audição, mas a imersão é tamanha que parece ser um álbum maior. Diferente de produções feitas para passar tempo ou nos distrair enquanto fazemos outras coisas, “There is a Wolf” parece ser um álbum de pausa e reflexão. Como deve ser um álbum folk, não é mesmo?
Eu gostaria de poder falar mais sobre as letras, mas ainda não consigo compreender quase nada. Precisaria traduzir faixa por faixa e, para mim, isso acaba com a experiência de ouvir um álbum pelo simples prazer de ouvi-lo e tentar me conectar com ele.
Contudo, eu não consegui me conter e tive que pesquisar mais sobre o trabalho. Foi quando me deparei com o site Korean Indie e uma resenha bonita que o Chris P escreveu. Nela, Chris conta que Lang Lee vem lançando música desde 2012 e cada um de seus álbuns se baseia em seu estilo folk sem deixar de explorar outros elementos. E que um de seus pontos fortes é focar na música que quer criar, em vez de se ajustar aos desejos do público em geral. Especificamente em “There is A Wolf”, seu terceiro álbum completo, podemos notar um olhar mais abrangente e profundo sobre sua habilidade como musicista.
Ainda sobre “There is A Wolf”, em sua resenha, Chris diz que cada faixa tem um arco e composição definidos o que permite que as músicas contem uma história completa, independentemente da duração de cada faixa. E finaliza ao dizer que o álbum é uma continuação da visão artística única e específica de Lang Lee além de ser uma adição bem-vinda e que todos deveriam ouvi-lo como ponto de partida para outro aspecto da música independente coreana.
Discordo apenas do Chris no que diz respeito a nossa música favorita, a dele é “환란의 세대 (The Generation of Tribulation)” que ele diz ser um folk mais padrão. Neste trabalho ela ganha duas versões. Eu prefiro a primeira, mas a versão que finaliza o trabalho é festiva e dá muita vontade de ouvi-la numa apresentação ao vivo. Porém a faixa que me ganhou mesmo foi “빵을 먹었어 (Pang)”. Aquele folkinho que soa sofrido, triste, mas que aquece o coração num dia cinza e chuvoso.
Dito tudo isso, Lang Lee acaba de entrar na minha lista de artistas a explorar. Preciso ouvir seus álbuns anteriores e também quero começar a entender o que cada uma de suas faixas dizem. No mais, só posso desejar vida longa ao indie folk coreano, me alegrar por ver uma mulher ganhar um prêmio tão importante como esse, e que eu siga me surpreendendo com artistas incríveis de uma cultura tão diferente da minha.