Trovador da nova geração, Colter Wall mantém-se nostálgico em “Western Swing & Waltzes and Other Punchy Songs”
por Maísa Cachos
Ouvir Colter Wall é como entrar numa cápsula do tempo, encontrar uma caixa com discos antigos, bater a poeira e colocá-lo numa vitrola. Seu novo álbum, “Western Swing & Waltzes and Other Punchy Songs”, foi lançado em agosto de 2020, mas soa como se estivesse nesse mundo desde muitas décadas atrás.
Este é o quarto trabalho do canadense que só tem 24 anos, apesar de soar muito mais velho. Não só as melodias nos remetem ao folk e ao country de anos já passados, suas narrativas e seu jeito de cantar parecem nos conectar com gerações que não vivemos, mas das quais herdamos tudo o que temos e sabemos.
Ao longo das dez faixas de seu novo disco, Colter canta sobre cavalos, rodeios, amigos, armas, faroeste… Um típico cowboy norte-americano, não?
Entre inéditas e covers, podemos encontrar faixas como “I Ride An Old Paint”, uma clássica canção de cowboy que fala sobre um velho vaqueiro pedindo que seus ossos fossem amarrados a seu cavalo quando ele morrer. A faixa é de origem desconhecida, mas foi popularizada por Woody Guthrie na década de 40.
A versão de “Cowpoke” é uma pérola aí no meio. Com um ar de nostalgia, gaita e trejeitos caracteríticos na voz, o músico dá nova vida ao clássico de Stan Jones, originalmente gravado em 1951.
Outro destaque aqui é, sem dúvidas, “Talkin’ Prairie Boy”, uma canção que soa como as canções faladas de Bob Dylan. E, diferente da maioria das faixas que conta com uma banda completa, aqui ele apresenta apenas violão e voz.
Entre as autorais, vale a atenção para “Houlihans at the Holiday Inn”, que encerra o disco e soa bem autobiográfica. Sua letra começa declarando: “Um mês na estrada vai deixar você pensando / Como qualquer homem poderia querer mais / Mas três meses na estrada vão te deixar tropeçando / Caindo por outra porta de hotel” e encerra com uma declamação que diz “Se eu for bem pago, uma história contarei e cantarei / E eu raramente pago um centavo por minhas bebidas / As pessoas aqui esta noite pensam que sou um rei / Eu trocaria tudo por uma sela dupla e um bom par de fendas”. A faixa claramente fala sobre a saudade de casa e da vida simples, a despeito da vida de turnê e nos palcos.
Por fim, Colter Wall é um daqueles artistas que prezam pela tradição do estilo pelo qual se apaixonou. Enquanto muitos adaptam e convertem o folk e o country para um lado mais pop e indie, Wall mantém suas botas fincadas na poeira. Ele tem se tornado então um trovador para aqueles que preferem a música crua, sem muitas firulas mas com honestidade e coração. Uma voz para os jovens fãs de folk e country, mas que parecem ter nascido com uma alma antiga. Um rapaz rústico, que prefere a cela de um cavalo e o ar do campo, das montanhas. Um interiorano que acompanhado de seu violão, gosta de cantar contos atemporais e acaba por conquistar aqueles que se sentem como ele.