“Uni-vos”! Dilemas do trabalhador brasileiro ganham voz no novo single de Valentin

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Não tá fácil ser brasileiro. E quanto mais nos conscientizamos disso, mais difícil se torna carregar essa nacionalidade. Crises políticas, econômicas, sociais… E uma pandemia global que chega como uma cereja estragada em cima de um bolo mofado por ter sido negligencialmente esquecido.

No meio de tudo isso o povo trabalhador sofre. Pena. Fica sem rumo. Passa fome. Perde a esperança.

É sobre o que provoca tudo isso que canta Valentin, quando declara “é caso pensado, plano articulado de quem se alimenta do seu suor enquanto você corre atrás do seu pão” no refrão de seu mais novo single, intitulado “Uni-vos”.

A canção foi lançada na véspera do 1º de maio, data que deveria celebrar o Dia do Trabalhador. E traz uma provocação pertinente, fala sobre a exploração nas relações de trabalho e as estratégias de despolitização na luta por direitos.

Em meio ao caos da pandemia, com planos de lançamento atrapalhados como todo artista também se viu, Érico Junqueira (nome por trás do projeto Valetin), não conseguiu ficar quieto. Começou a trabalhar em novas canções, claramente influenciadas pelo contexto de colapso político-social que se instaurou no Brasil. “Uni-vos” é só a primeira dela, mais dois lançamentos estão previstos ainda para este ano.

Com os novos trabalhos, Valentin que sempre fez a gente se identificar com suas canções intimistas e existenciais, agora dá voz a nossa agonia e revolta. Isso, ainda, unindo seu violão a arranjos de banda, embalando sua mensagem com uma sonoridade inspirada em ritmos e movimentos artísticos da américa latina, como a cúmbia e a Nueva Canción Chilena.

Produção e mixagem são assinadas por Leonardo Braga, produtor que já trabalhou com Érico nos dois últimos materiais lançados pelo projeto Valentin – o single “Carnaval” (2018) e o EP “Preparando o Salto” (2019). Inspirada nas recentes greves de entregadores e motoristas de aplicativo, a música traz ainda um sample de falas do líder do movimento Entregadores Antifascistas, Paulo Galo (ou Galo de Luta).

Vale ainda destacar o projeto gráfico desenvolvido por Lívia Koeche e Bruno dos Anjos, e que busca representar visualmente essas temáticas através da mistura de linguagens como o fotojornalismo, a colagem digital, o vídeo e a projeção mapeada. A capa do single apresenta a combinação de fragmentos desse alfabeto de pixos como um registro da primeira manifestação dos entregadores em São Paulo, feito pelo fotógrafo Pedro Stropasolas (Brasil de Fato).

“O sistema em que vivemos e que nos foi imposto não é e nem nunca será suficiente”, declara Érico. “Por isso, é muito necessário que sejamos capazes de imaginar outras realidades e também imaginar maneiras de alcançar essas realidades. Essa canção e as próximas vem com essa intenção, de entender que o mundo em que nós vivemos pode e deve ser transformado para que todas as pessoas, e não somente umas poucas, possam desfrutar uma vida que seja digna e muito mais completa”, completa.

Diante de tudo, tem gente que se cala. Diante de tudo, tem gente que finge que não vê. Mas diante de tudo, ainda tem gente que chora. Que clama! E canta. Uni-vos!

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