Vamos falar sobre “FLOWERS for VASES/descansos”, o tal álbum folk da Hayley Williams

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Eu nunca fui fã de Paramore e preciso dizer ainda que é capaz que eu nunca tenho escutado uma música da banda. Ao menos não voluntariamente, talvez de carona no carro de alguns amigos ou numa festa onde tinha alguma canção deles na playlist. Achei justo começar esta resenha com essa informação porque ao longo do texto você que está lendo não vai ver qualquer comparação sonora entre a Hayley vocalista da Paramore e a Hayley Williams em sua versão solo.

Acontece que nas últimas semanas eu vi diversas notícias sobre como o tal segundo álbum solo da Hayley Williams soava folk e quis dar uma chance.

A primeira coisa que me chamou a atenção? O título. “FLOWERS for VASES/descansos”. Vocês já notaram como os artistas tem brincado com as fontes/letras? Às vezes todas minúsculas, noutras todas maiúsculas. Destaques diferenciados que costumávamos ver em capas de álbuns quando as tipografias faziam parte não só da identidade visual, mas também do conceito por trás daquele trabalho. Com a digitalização das coisas, meio que as variações passaram ali para usar ou não o capslock na hora de digitar o título. Para além disso, uma palavra em português (ou espanhol?). É sempre curioso ver palavras poéticas e não-inglesas em títulos de álbuns gringos. Eu, ao menos, acho. 

Depois, veio a sonoridade. Confesso que ao ver vários artigos falando sobre “o álbum folk da Hayley Williams” eu fui ouví-lo com bastante expectativa. Depois dos trabalhos que a Taylor Swift tem lançado e de toda a expectativa para o próximo da Landa Del Rey, mais uma artista desse nível cantando folk chamou minha atenção.

Tenho que dizer que eu esperei algumas músicas para encontrar o folk realmente no álbum. Ele só vai começar a aparecer ali pela quarta faixa, “Trigger”, através de uns acordes realmente bonitos e de uma interpretação intimista e tocante da Hayley. A letra apresenta ainda uma baita narrativa digna de uma música folk. Posso dizer que valeu a pena esperar.

A próxima faixa que soa bem indie-folk é “Good Grief”, a sexta deste trabalho, que chega calminha, criando uma atmosfera relaxante e reflexiva. Se pensarmos que o álbum foi todo gravado, interpretado e tocado por Hayley, essa provavelmente é a faixa que me deixa mais a par de suas capacidades de brincar com certas sonoridades. Apesar de curtinha (não são nem três minutos), os elementos estão todos muito encaixadinhos e a música é daquelas que pede alguns replays.

Logo em sequência, temos “Wait On”. Dedilhados e um tom confessional dão para essa faixa aquela sensação de “Uau! Eu não estava esperando por essa!”. Mais pra frente, a adição de piano (e depois outros elementos) torna tudo mais bonito. É definitivamente daquelas canções que nos transportam para lugares remotos da nossa mente. E, talvez, a minha favorita do álbum.

“HYD” é uma outra faixa que chamou demais a minha atenção. Ela começa com um certo ar de piada, ao mostrar um pouco dos bastidores de como é gravar músicas em casa, e depois vai se mostrando como uma jam para seus amigos ouvintes que precisam ouvir mais uma sad song dramática. É uma belíssima canção a la Adele.

Voltando ao folk e caminhando para o final do trabalho, “Find Me Here” é um tesourinho para os ouvidos. Baladinha com dedilhados, doçura e delicadeza em sua letra, além de um jogo de vozes que faz com que a Hayley faça um duo com ela mesma. Para quem curte harmonias vocais de duos e trios folk, é um delicioso achado.

Gravado em casa, durante a pandemia, assim como muitos dos últimos trabalhos lançados ultimamente, “FLOWERS for VASES/descansos”, tem na verdade uma pegada mais acústica que folk (“Inordinay” é uma faixa, por exemplo, que tem muita cara de canção rock que ganhou uma versão mais calma num acústico MTV) e, em sua essência, revisita claramente uma série de relacionamentos que não deram lá muito certo. É reflexivo e intimista.

Em suma, é um bom álbum, tem pegadas pop gostosas (“Over Those Hills” é uma ótima canção nesse sentido), explora outras vertentes da música da Hayley e possivelmente apresenta novas sonoridades para os seus fãs. Foi uma grande descoberta para mim e, não garanto que o ouvirei por completo de novo, mas certamente vou revisitar algumas faixas que mexeram comigo.

Recomendo o play para abrir os seus horizontes musicais: