Xoel Lopez (parte1): Atlántico e o sul como Norte

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Folk não é violão. Não precisa ter, necessariamente, raízes na música celta ou no country. Folk não precisa ser interiorano geograficamente, mas sim corporalmente: quanto mais pra dentro, mais fundo, melhor. O Folk mora na voz: no grito que rasga o ar e, como uma flecha certeira, nos atinge. É com esse pensamento que, em minhas andanças curiosas pela língua espanhola, me deparei com Xoel López.

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Entre milhares de canções numa playlist da Martiscool, floresce uma voz em folk. “Nossa, quem canta isso?” foi o que pensei, imediatamente. Nesse dia, degluti a discografia do cantor espanhol. Nessa série de 3 textos, terei o prazer de regurgita-la.

Seu primeiro disco, “Atlántico”, de 2012, fisga: imediatamente sua mão faz figa torcendo pra que ele nunca pare. A sonoridade é magnífica: essa mistura de sons latinos, sem medo de escavar raízes, trazendo tradições, afirmando-se como sul, como espanhol, como latino. Dessas coisas que nos fazem querer adentrar uma cultura. Dessas coisas que ajudam a combater a maldita xenofobia que se alastra. Não há outra maneira de ouvir “Atlántico” se não pensando em como alguns artistas conseguem falar do mundo falando de sua terra (ou tierra?), quebrando barreiras culturais ensurdecedoras.

A voz de Xoel carrega o peso do pesar, mesmo quando os acordes são maiores e alegres. Carrega aquele rasgo que avisei no início do texto. A cindida voz que nos toca: a boca que não canta, ulula. A canção “Buenos Aires” nos tira de centro, agora sim, tanto o geográfico quanto o corporal. Sintam como só há beleza possível no cotidiano:

As esquinas que o disco percorre são várias: um passeio pela voz da cidade, um mergulho na diversidade sonora, um roncar de estômago à espera da Beleza em forma de alimento. O disco só cresce, a cada ano que passa. O disco só diz, cada vez mais. Xoel se afirma como alguém do sul, e fazendo o sol nascer contente, constante, assim. Esse disco nasceu clássico, nasceu belo, nasceu um daqueles pra qual a gente sempre volta, como nossa terra-natal.

Deste modo, Xoel utiliza Atlántico como um anzol dourado: brilhante e polido, chama atenção no meio de um lago de músicas iguais. Nós, os peixes, fomos inocentes quando mordemos a isca: não esperávamos que seu segundo disco, “paramales”, estivesse só esperando a bóia afundar na água.

[To be continued…]

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