The slide side of the M O O N S

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A palavra “slide” não sai da minha cabeça desde que ouvi o disco mais recente do Moons, “Thinking Out loud”, de 2018. Com o perdão do atraso, após o término da audição, me detive um tempo nos fonemas do vocábulo. As palavras circundam minha mente, sempre, até se chocharem umas com as outras, num exuberante acidente, formando resenhas ou poemas. (ou apenas frases, que morrem numa anotação perdida no fundo da gaveta). Mas nessa palavra, “slide”, fiquei saboreando cada lance de ar que atentava contra meus lábios, de dentro pra fora, com destino ao mundo.

O “S”, de início, o “SSSS”, faz cama, arrasta para o clima do que virá, assim como “Vik’s Dreams”, música de abertura da obra. Te envolvendo suavemente, rumo à linguagem e sonoridade que a banda propõe apresentar, a reverberação usada na voz vai, tateante, entrando nas palavras e nos instrumentos. Quando você se dá conta, já esta completamente de joelhos, entregue aquele som, aquela experiência.

Ouça sem moderação alguma:

A banda, idealizada por André Travassos (voz, violão e guitarra) e complementada por Jennifer Souza (vozes e guitarras), Tiago Eiras (bateria), Bernardo Bauer (baixos), Felipe D’Angelo (teclados) e Digo Leite (banjo, violão e harmônica), experimenta: testa os limites do entre: do “é mas não é”, do “parece mas não parece”, do “já ouvi mas nunca ouvi”. “Thinking Out Loud” é, realmente, um daqueles discos em que o resenhista entra num octógono com as palavras, pois elas mais limitam do que cumprem sua função.

O “L” que convida o “I” pra uma dança envolvente, criando um “AI” na escuta, te joga de uma cama confortável para um impacto disruptivo: sua língua sobe e desce, sem que você pense muito. E “Hazy”, música do meio do disco, irrompe: a voz falada, um spoken word ou poetry, não importa, é só definição. Esse disco propõe cada vez mais sentir do que pensar. E isso não é nada ruim, nem pra um poeta.

A banda mineira já havia conseguido olhar sinceramente nos olhos dos fãs com “Songs of wood & fire”, de 2016, em sua estreia. Neste, ela continua com a visão estática (e por que não extática?) no seu público, porém enfia a mão lentamente por entre as nossas entranhas e, ao remexer sem dó nossas cicatrizes e órgãos, nos faz pedir mais. A imersão que este disco propõe é acachapante: em nós, um vôo rasante por entre sensações. Nos outros, uma vontade maluca de enfiar cada nota, cada frase e cada passagem ouvido-abaixo do mundo.

O final da palavra, o “DE”, é brusco: depois de camas e caminhos súbitos, ao fim, nossa língua transforma tudo em silêncio. E o final do disco é isso: esse coração acelerado junto com a face ruborizada: o que resta da montanha-russa e que, mesmo com as pernas trêmulas e ainda recuperando nossa localização no mundo, queremos de novo e de novo e de novo e de novo. Cada nervo, cada terminação do corpo, clamam polvorosos por mais.

“Thinking Out Loud”, por fim, é esse exercício de pensar alto, de falar sozinho, de conversar consigo. A intimidade sussurrada diante de um microfone. E, não sabendo o que fazer com as mãos enquanto se dilacera pro mundo, André usa um violão. E compõe uma obra prima.