Os álbuns folk que mais marcaram o nosso ano de 2019

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Eu tenho uma relação de amor e ódio com listas de melhores do ano. Afinal, como é possível elencarmos os melhores discos de um ano se nós não temos capacidade de humana de ouvir todos eles. Concordam? Por outro lado, é claro que nós temos nossos favoritos e aqueles que nos marcaram. E é baseada nesse pensamento que quero compartilhar com vocês alguns dos lançamentos que marcaram o ano de 2019 aqui no FolkdaWorld.

Debutantes

O jovem talento J.S. Ondara

Minha lista começa pelos novos talentos que se destacaram neste ano. E entre eles, sem dúvidas o maior nome é J.S. Ondara que lançou seu “Tales of America” seis anos depois de se mudar de seu país natal, Kenya, para Minnesota (o estado natal de seu herói Bob Dylan), buscando inspiração e oportunidade musical. Sua trajetória é contada nas faixas deste seu primeiro álbum.

Leia também: J.S. Ondara – a história do menino que, inspirado por Dylan, deixou o Kenya para fazer música em Minnesota

Um outro disco que se destacou para nós foi o da britânica Jade Bird. Além de proclarmar as verdades que acredita nas letras das 12 faixas de seu primeiro álbum enquanto entoa melodias que variam entre o country-folk e indie-pop com pitadas de blues, apresentou uma baita maturidade musical, bem como uma presença marcante. Não à toa, ela acabou viajando em turnês de nomes como Hozier e Father John Misty para fazer as aberturas de seus shows. 

Ah, e vale citar aqui que tanto J.S. Ondara quanto Jade Bird foram indicados ao 2019 Americana Honors & Awards na categoria Talento Emergente do Ano. 

O álbum “~” (o símbolo til mesmo) da portuguesa Marinho também chamou atenção por aqui. Ele é um lindo registro indie folk que apresenta letras impactantes e melodias que misturam alegria e melancolia, evidenciando bem as influências do folk americano na música da artista.

Destaques também para o francês Hugo Barriol que lançou “Yellow”, um disco bem cativante com letras profundas e uma gostosa mistura de folk e pop, bem como para a americana Molly Tuttle que foi destaque em diversos portais dos segmentos americana, bluegrass, country e folk e bluegrass com o seu dicotomico e envolvente “When You’re Ready”. O duo australiano Hollow Coves também mandou muito bem com o “Moments”, tem um post bonito do nosso colaborador Arthur Boari sobre o trabalho deles neste link aqui.

Leia também: Deixe “Yellow”, disco de estreia de Hugo Barriol, emocionar você

Veteranos

Bruce Springsteen,The Boss

Esse ano foi um ano tão bonito para os veteranos da música folk também, até saiu aqui no blog um post com os 8 discos de veteranos do folk que você deveria ter escutado em 2019.

Dentre eles, podemos destacar aqui o fabuloso “Western Stars”, do Bruce Springsteen que em seu lançamento foi altamente indicado em todos os portais de música. Este é um disco que ao mesmo tempo que nos faz viajar pela história do The Boss, nos mostra o quanto ele pode se reiventar e entregar ainda muita coisa boa para quem gosta de sua música. 

Inspirada pelas dificuldades de um tratamento contra o câncer de mama pelo qual foi submetida, além do estado degradado dos assuntos sociais e políticos dos nossos tempo, Patty Griffin teve força suficiente para lançar neste ano um álbum amplamente robustoe cru com ênfase na mensagem e na sua voz.

Neil Young também pareceu muito disposto a se manter na ativa com seus famosos protestos em “Colorado”, ao lado de seus amigos da Crazy Horse. Agressivo quando necessário e sensível quando a música exige, o trabalho incorpora o melhor da música que esses caras fazem.

E o que falar do emocionante “Thanks for the Dance”, do Leonard Cohen!? Um disco póstumo, curto, mas tão bonito e de inéditas!! E mais, resultante do trabalho feito pelo seu filho (e produtor) Adam Cohen. O disco conta ainda com colaborações belíssimas do espanhol Javier Mas, que acompanhou Cohen em palco nos últimos oito anos de apresentações, e de nomes como Damien Rice, Feist, Beck, Jennifer Warnes, Richard Reed Parry (Arcade Fire), Bryce Dessner (The National), ou o pianista Dustin O’Halloran.

E, claro, vale mencionar aqui o lindo álbum comemorativo “Joni 75: A Joni Mitchell Birthday Celebration”, no qual vários artistas se uniram para homenagear a maravilhosa Joni MItchell. Nós também comentamos sobre ele neste post aqui.

Contemporâneos

Wesley Schultz e seu time dos The Lumineers para o álbum “III”

Não dá pra deixar de falar, claro, de nossos artistas contemporâneos favoritos e que nos presentearam com bonitos trabalhos em 2019. A começar pelos The Lumineers e seu “III”. Mais um álbum cinematográfico da banda que desta vez optou por abordar temas mais pesados. Disponibilizado em três partes ao longo do ano, a banda nos entregou o seu álbum mais ousado. Encontramos aqui um disco musicalmente excelente e consistentemente mais cru, Wesley Schultz com sua voz impecável e letras que vagueam entre mágoas e esperança.

Tivemos também o incrível “This Wild Willing”, um dos melhores trabalhos já lançados pelo Glen Hansard. Na verdade, segundo o nosso colaborador Pedro Vulpe, esse é o melhor trabalho solo do irlandês até então. Nas palavras do post do Pedroca, o disco “com praticamente trinta anos de estrada (Glen) rompe de vez com a ideia que temos de seu trabalho, fruto de todo material prévio. (…) É uma história nova vinda de um velho amigo boêmio, cheia de paixão e procurando luz em todas as sombras que avista”.

Leia também: Glen Hansard entrega seu melhor trabalho solo em “This Wild Willing”

Diferente de Glen, The Tallest Man On Earth nos deu um álbum extremamente conectado com toda a sua história até então. “I Love You. It’s A Fever Dream” é um discão! Sério! Aqui no blog ele ganhou uma resenha à altura nas palavras do nosso colaborador Marcelo Pantoja que fala que neste trabalho “encontramos um homem revigorado, embora ainda cercado pelos terríveis sentimentos que, pouco a pouco, parecem destilados em uma alma justaposta à dor”.

Leia também: Dissipar, abrir mão e se encontrar com The Tallest Man On Earth

E por falar em conexões, não tem como não destacarmos entre os discos de 2019, a incrível junção de Calexico e Iron and Wine na produção de “Years to Burn”. O álbum saiu 15 anos depois da primeira colaboração deles que resultou no mítico EP “In The Reins” e apresenta  uma verdadeira unificação dos traços sonoros representados pelos projetos envolvidos. É uma obra de arte isso aqui.

Para fechar esse blobo, vale dizer que mesmo dando uma maior relevância para os álbuns acima citados, não tem como deixar passar que ano passado nos trouxe ainda os maravilhosos “Gallipoli”, do Beirut; “Wasteland, Baby!”, do Hozier; “So that you might hear me”, dos Bear’s Den; “I,i”, do Bon Iver; “FEVER DREAM”, dos Of Monster and Men; “The Only Ones”, dos Milk Carton Kids; “Ma”, do Devendra Banhart; “Ode to Joy”, do Wilco; “KIWANUKA”, do Michael Kiwanuka; Hyperspace, do Beck; (Respira! Ufa!) e muitos, muitos lançamentos realmente bons!

Força feminina

As incríveis The Highwomen

Não sei se você reparou, mas 2019 foi um ano extramemente importante para a representividade feminina na música folk. Várias mulheres se uniram em prol da luta que defende seus direitos e o respeito na indústria musical.

Entre todos os lançamentos o que mais representa tudo isso é, sem dúvidas, o álbum das The Highwomen. Brandi Carlile, Amanda Shires, Maren Morris e Natalie Hemby se uniram não só para mostrar que conseguem montar um powergrupo fabuloso com seus talentos, mas também para trazer à tona um movimento de verdadeiro impacto tanto nas suas carreiras quanto na de todas as mulheres artistas, principalmente no difícil segmento country-folk-americana.

A coragem da Lucy Rose em tocar em assuntos importantes para ela e para as mulheres artistas também merece ser destacado aqui. Com uma pegada bem minimalista “No Words Left”, nos coloca dentro de uma sala, de frente para um espelho enquanto ouvimos a Lucy falar sobre sentimentos que nos pertecem também. É uUm álbum incrivelmente honesto em suas letras, emocionante liricamente e musicalmente cru. Sem dúvidas, um dos melhores trabalhos da Lucy até então.

Leia também: Conversamos com a Lucy Rose sobre “No Words Left”, seu novo disco, e a turnê no Brasil

Frank Turner nos entregou um projeto ousado em 2019, o baita “No Man’s Land”. Apesar de ser feito por um homem, eu quis colocar este álbum nesse bloco pela evidência às mulheres. Musicalmente falando tivemos álbuns melhores que o dele ao longo do ano? Penso que sim. Mas eu acredito que um álbum não deve ser medido só por seus “enfeites”, o tema é muito importante! E neste trabalho, onde os homens não tem vez, temos 13 faixas que contam histórias de mulheres que marcaram a história (de forma positiva e negativa também), além de uma homenagem a mãe do próprio Turner (achei fofo).

Leia também: Frank Turner anuncia álbum (e podcast) que contará histórias de mulheres; o primeiro single é “Sister Rosetta Tharpe”

Menções honrosas aqui ao disco “All Mirrors”, da Angel Olsen;“Front Porch”, Joy Williams e o EP “2019” da Lucy Dacus que também são fantásticos e merecem uma pontinha neste post.

Resgate às raízes

Rhiannon Giddens e Francesco Turrisi

Ainda falando sobre as mulheres no folk, mas já puxando para um outro tema, tivemos lançamentos incríveis que nos fizeram voltar às raízes do folk. Entre eles, destacamos “There Is No Other”, da Rhiannon Giddens em parceria com o multi-instrumentista Francesco Turrisi. Um surpreendente álbum composto por 16 faixas que mesclam tradições do sul que remontam à música trazida por povos escravizados da África e imigrantes da Europa com sons mediterrâneos.

Também com um dedinho da fabulosa Rhiannon Giddens, mas desta vez em parceria com Amythyst Kiah, Leyla McCalla, e Allison Russell, que acabaram por formar o power-grupo Our Native Daughters – ganhamos em 2019 o importante “Songs Of Our Native Daughters”. Neste trabalho, as filhas nativas, usam seus dons e graça para destacar as histórias não apenas de seus ancestrais, mas também dos nossos. Para elas, dar voz aos sem voz é um privilégio e uma responsabilidade. Portanto, temos aqui uma aula de cultura através de canções e um ponto de inspiração para novos(as) artistas.

Leia também: Our Native Daughters: quatro mulheres, seus banjos e um novo olhar sobre as lutas das mulheres afro-americanas

Relacionar o trabalho das Rising Appalachia, às raízes da música folk seja a ser redundante. Sério! O que as irmãs Leah and Chloe Smit têm feito com a música folk é muuuuito maior que elas. E “Leylines” é apenas mais uma prova disso, reunindo canções originais perspicazes ao lado de covers de obras primas do folk tradicional. Com base nas influências musicais da Irlanda, África e Appalachia, vozes dinâmicas incorporam instrumentos como a harpa da África Ocidental e o violino irlandês. Tudo isso para dar voz a palavras de política, de como é ser mulheres na indústria da música e de como é a vida na estrada.

Afunilando essa linha de resgate às raízes e aos nossos antepeçados, encerro esse bloco falando de “Started With a Family”, duo formado por mãe e filho: Madisen Ward and The Mama Bear. Sem dúvidas, este é o álbum mais cru que já ouvi de folk nos últimos meses. Afinal, o que pode ser mais folk raiz que voz, violão e uma boa história? Sem grandes pretenções de sucesso, é isso que essa família nos entrega: as histórias que nos formaram atravéz pureza da música.

Leia também: Started With a Family – Madisen Ward and the Mama Bear voltam às raízes da música em novo álbum


Se você curtiu este post até aqui, também vai gostar da nossa playlist Folk You 2019, no Spotify. A lista reúne algumas das músicas que mais gostamos ao longo do ano.


Tá, mas e no Brasil?

Eu não sou boba de fazer um post desses sem citar os nossos talentos. O segmento folk tem crescido exponencialmente no Brasil. E que bom que isso tem acontecido! Assim a gente consegue se redescobrir e ir se encaixando nesse estilo que parece ainda estar passando por uma fase meio adolescente aqui no país.

Duo Capim

Nossos destaques nacionais entre os estreantes vão para: “Passarinhar”, da Lívia Mendes, enfatizando direitos femininos sem perder a sensibilidade e a sutileza (resenha completa aqui); o “Inverno Só Se For Azul”, da Amanda Cadore, e toda a sua ligação com a mãe terra (resenha completa aqui); o álbum autointitulado do duo Massonetos que demonstra tamanha cumplicidade em letras, melodias e vozes; o “The Tale of the Boy with no Name”, do Morning Whispers e a sua honestidade e crueza do iníco do folk dylanesco; “Roll Your Window Down”, dos Yellow Boulevard e uma conexão incrível entre o rock e o folk; “Magnolia”, do duo Horses & Joy, e seu resgate ao folk feito ali pelos duos e trios tão importantes nas décadas de 60 e 70 (faixa a faixa completo aqui); o disco autointitulado do duo Capim e toda a sua conexão com as raízes de onde vieram e para quem dedicam suas canções (resenha completa aqui);  e, claro, o “Na Mão As Flores”, o primeiro solo trabalho do Suricato e sua coragem de abrir o coração em letras e arranjos surpreendentes.

Ufa, hein!?

Outros dois trabalhos que também consideramos bem relevantes em 2019 foi, primeiro, o “Sanatório Hostil”, do Murillo Augustus (que depois ganhou uma versão em EP, o “Hostile Sanatorium”). Além de manter firme a pegada One Man Band do músico, o trabalho também traz críticas ao mercado musical e aos tempos modernos de forma sempre bem humorada. Segundo, o EP “Move”, do Pedro Vulpe, com uma pegada folk rock cheia de influências que amamos, mas sem perder sua originialidade.

Leia também: Pedro Vulpe – Cada movimento um arrebol

Entrando num contexto mais indie-folk, os mineiros da Moons arrasaram mais uma vez com o “Dreaming Fully Awake”, que mesmo confessional e minimalista consegue nos arrebatar para um universo paralelo emblado por suas melodias. 

Duo Antiprisma

Na categoria folk psicodélico, o nosso destaque vai para o “Hemisférios”, do Antiprisma (resenha completa aqui), e para o “América”, da Bedibê (resenha completa aqui).

E por que não falarmos das releituras lançadas ao longo do ano né? Aqui nossos destaques são para o bonito “Vanguart sings Dylan”, no qual – como o próprio nome diz – o Vanguart dá voz à consagradas faixas do Bob Dylan (resenha completa aqui); o “N”, das Anavitória entoando melodias folksy para as letras do Nando Reis; o “Versos de Vitrola, Vol 1.”, no qual o Tuia apresenta versões únicas para diversos clássicos da música brasileira; e o espetacular “Ciranda de Destinos”, de Chico Teixeira, que revira o baú e traz de novo à vida clássicos da cultura popular brasileira (resenha completa aqui).

Zélia Duncan

Entre os nomes já consagrados, vale muito citar aqui “Tudo é um”, que marca o retorno da Zélia Duncan para o pop-folk que foi bem marcante no início de sua carreira. E, claro, “Hey Zé” que coroa a obra de Zé Geraldo e todo o seu legado para o folk-rock-rural.

Para ouvir as nossas favoritas de toda essa turma, é só dar play na nossa playlist Folk Brasil aqui embaixo: