A nuvem folk-contemporânea por onde paira a música de Long Tall Jefferson

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O que é música folk e no que ela se tornou é um tema eterno a ser discutido nesse blog. Há um jeito tradicional, há um jeito moderno, há o que faz referência a vida rural e há o que cante sobre o modo de vida urbano. Há quem só precise de violão e há quem encha o palco com instrumentos que nunca ouvimos falar e vestimentas medievais. Mas, em meio a tudo isso, há também quem só queira fazer sua música, sem necessariamente ser catalogado. Long Tall Jefferson se encaixa nesse último grupo (desculpa, mas acho que eu acabei de catalogá-lo assim).

Simon Borer, o nome por trás do projeto, acabou de lançar seu terceiro disco sob a alcunha de Long Tall Jefferson. Intitulado “Cloud Folk”, o trabalho não só reafirma um jeito próprio desse artista fazer música folk, como também surge criando um… novo estilo?! Calma, não é nada surreal. Apenas um jovem músico fugindo da obsessão pela autenticidade e do interior ousado e criando música do seu modo.

A primeira vez que ouvi falar do Long Tall foi algumas semanas atrás, quando ele lançou o single “Better Man” (comentamos aqui). Eu adorei a doçura de sua voz embalada por acordes celestiais e com umas pitadas curiosas sintetizadores e outras “modernidades” musicais. Me apaixonei pela música, ouvi algumas dezenas de vezes e resolvi atentar para o lançamento do seu novo álbum que chegou ao mundo na última sexta-feira, 20 de novembro. Não sabia bem o que esperar, mas sabia que me surpreenderia de alguma forma. E foi o que aconteceu.

Não vou me alongar a escrever um faixa a faixa mas quero destacar algumas canções que me chamaram a atenção. A começar por “Wild Imagination”, faixa que abre o disco. A letra tem uma narrativa maravilhosa e revela um bocado da forma como o LTJ consegue ser sensitivo, introspectivo e tem toques de humor em suas letras. Mas temos tanto sintetizadores e autotunes aqui que você vai se perguntar “onde tá o folk, amigo?” e, se você persistir, vai chegar nele: um solo de gaita que de certa forma vai começar a te transportar para a tal nuvem folk-contemporânea onde paira a música desse cara.

Eu já alerto que todas as músicas desse álbum terão essa mistura: batidas, reverb, autotune, sintetizadores… Eles estão por todas as partes e eu tenho certeza que você só vai mergulhar nele quando decidir prestar atenção em seu contexto geral. Mas sim, há faixas que vão nos pegar mais pelo folk (ou indie folk) que já estamos acostumados a ouvir e cuja sonoridade nos é mais confortável. “Better Man”, o single que falei anteriormente é uma delas e continua a ser uma das minhas favoritas. Mas te aconselho a prestar demasiada atenção em “Everything is Wrong”. De novo, dedilhados que me prendem. Agora acompanhado de uma atmosfera de vozes, que vai ganhando gradativamente a companhia de beats deliciosos. Talvez essa faixa seja a que melhor define o conceito desse álbum, ao menos para mim.

“Dopamine Dream” é outra canção que me deixou um bocado admirada. Primeiro porque ao apertar o play e ouvir os três primeiros segundos, você vai pensar “okay… isso aqui não é folk, vou pular pra próxima”, mas aguarda mais um segundinho: vai entrar uma guitarra curiosa. O Jeff vai começar cantar. Uma voz feminina e novas cordas vão se juntar a melodia. Lentamente, você vai estar imerso numa música tão nostálgica e quanto futurista. Como se um viajante do tempo chegasse num bar de faroeste e convidasse a cantora da noite para um dueto. Parece maluco? Eu sei que sim, mas é muito muito legal. 

Talvez a aproximidade do Natal o tenha feito incluir uma faixa dedicada as festividades, mas na real em “Christmas Song” você pode ouvir claramente a essência folk que o rapaz tem em suas músicas. Aconchegante e com bonitas harmonia vocais. Por fim, temos “Angela”, se você também relacionou o título a “Angela” dos Lumineers, pode ir tirando o cavalinho da chuva. Apesar de um violão belíssimo, a canção é imersa na névoa de sonoridades que abraça todo esse álbum.

Para uma experiência completa, sugiro que você ouça também os discos anteriores do rapaz. Certamente entenderão porque ele ficou conhecido como “Bob Dylan de Buttisholz” (como referência ao lugar onde nasceu) e conseguirão notar uma evolução na sua busca pela autênticidade dentro da música folk, além de uma mente musical altamente criativa.