Fleet Foxes, a música e o exílio

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Geralmente exílio expressa a partida, o ato de estar fora de casa. A distância do lar pode vir acompanhada de dor, solidão, mas também pode promover amadurecimento e profundas transformações. O exílio muitas vezes é voluntário, uma jornada em busca dos frutos que advém da solitude, ou às vezes, da solidão.

Após o fim de uma promissora turnê, em 2012, Robin Pecknold percebe que já não se conhece. O jovem vocalista de Seattle decide abandonar o Fleet Foxes, deixa a guitarra e parte em seu exílio, onde busca se reconectar, colar os pedaços de uma identidade fragmentada.

Anos no palco, experiências transpostas em composições, será que há um limite para a criatividade? É possível expressar o que não se experimentou?

Com esses questionamentos emaranhados em sua mente, Pecknold sentiu a necessidade de ouvir sua própria voz, e para isso, ele optou por ficar só. Deixou seus companheiros de banda, voluntariamente se recolheu. Durante essa fase, em sua odisseia introspectiva, Pecknold ouviu também as vozes da história em seus estudos na Columbia College. Mas, para nossa sorte, essa fase introspectiva o levou de volta ao Fleet Foxes. Mas agora, um novo grupo surgira.

A ideia de exílio muitas vezes é associada à natureza, ao selvagem. No Pentateuco, o período em que os hebreus são moldados no deserto é chamado de wilderness period (período da região selvagem). Camus diz que na solitude precisamos lidar com a melancolia de conhecer nossa própria natureza. E os Fleet Foxes, após toda a trajetória de peregrinação emocional pela qual seu líder foi moldado, demonstram a magnífica e assustadora dicotomia do exílio, em seu álbum “Crack-Up” (2017).

Ao ouvirmos “I Am All That I Need / Arroyo Seco / Thumbprint Scar” a primeira canção do álbum – que por sinal é a faixa que me levou a pensar sobre a concepção deste texto – nos deparamos com um esboço do que é, em essência, o álbum “Crack-Up”. Uma voz seca, só, perdida na escuridão. O solitário Pecknold se diz suficiente sozinho, procura a sustentação em si, apenas para, inevitavelmente, se mesclar às vozes dos seus companheiros de banda em maravilhosos coros.

Com maestria tais conjuntos vocais intercalam com a voz perdida de Pecknold, nos mostrando através do contraste que o fruto da solitude pode ser a valorização do estar junto. Enquanto ao fundo, já no fim, a água constantemente remete à natureza, ora reconfortante, ora assustadora e fria.

Robin Pecknold precisou estar só para se perceber, e, uma vez que ele desfrutou da melancolia oriunda da contemplação de uma natureza que foi feita para viver em conjunto, a identidade do Fleet Foxes ganhou uma nova roupagem. Com traços do forte bucolismo comum aos álbuns pré-hiato da banda, agora vemos também que a existência e a experiência de ser com o outro formam o limiar de cada canção.

É isso, como o próprio nome Crack-Up implica, ouça Fleet Foxes e reflita sobre a fragilidade de ser, permita que as rachaduras do autodescobrimento lhe firam a alma!