Olivae perde-se para se encontrar em seu debut “Wander Off”

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Tem pouco mais de dois anos que eu me mudei para Portugal e tenho que confessar que ainda estou me acostumando com a música local. Apesar de falarmos a mesma língua e desse país ser um dos pais do Brasil, nossas culturas são distintas, assim como as melodias, as letras e mesmo o humor colocado na atmosfera das canções. Resumindo, somos bem parecidos, mas também bem diferentes.

Dito isso, quero falar que comecei o ano com um desafio curioso: escrever sobre o primeiro álbum de um artista português que canta, sem surpresas aqui, folk. Olivae é o nome do projeto, Vasco Oliveira o artista por trás dele. Porto é o seu berço. Reflexão e inquietação são as atmosferas criadas com suas canções. E 13 músicas foram escolhidas para compor “Wander Off”, este primeiro trabalho, lançado hoje – 5 de fevereiro, e sobre o qual quero falar para você.

Bastou o primeiro play em “A Place to Stay”, faixa que abre o trabalho para que Olivae quebrasse toda a construção do meu primeiro parágrafo nesse texto. Com acordes aconchegantes e uma voz que acalenta, ele começou a me relembrar que se tem alguma coisa nesse universo que pode quebrar qualquer barreira é a música. Ouvi-lo aqui não é ouvir um português ou um brasileiro ou mesmo qualquer artista cujo país tenha a lingua inglesa (já que a música igualmente a tem), é ouvir sentimentos. É deixar-se levar pela melodia descobrindo ou reencontrando sentimentos também. E como uma porta de entrada para algo desconhecido eu deixei a música desse português me guiar.

Na maioria das faixas que seguiram, a sensação foi parecida a esta primeira, mas me deparei com algumas surpresas ao ouvi-lo alcançar alguns graves e tons roucos, acompanhados de acordes mais profundos e cortantes. “My Mind Is My Guide” é um bom exemplo disso. “Benu” é outra faixa que me deixou curiosa, intrigada até. Ela me deu a sensação de que eu já conhecia seus acordes e, do mesmo modo, a sua mensagem. Vocês também sentem isso com algumas músicas?

Para me confundir ainda mais nesse labirinto musical, entre suas faixas, quatro delas são em português. E cada uma me mostra um Olivae diferente. A essência é a mesma, mas não posso dizer que foi igual a motivação que o fez compor “Sem direção”, “Sorriso Crescente”, “Tempo X” (A mais fora de contexto aqui, e não entenda isso como algo negativo. A quebra da melodia é extremamente curiosa e agradavél” e, por fim, “Quantas Voltas Dás”, faixa que também encerra o disco).

É engraçado que, ao falar sobre o álbum em seu Facebook, ele disse “Fui compondo e gravando desde 2018 até ao final de 2019 todas estas músicas e agora, olhando para trás, sinto-me feliz com o resultado. (…) Espero agora vir a descobrir o verdadeiro propósito de todas estas músicas…”.

Depois de ouvir o trabalho completo (muitas e muitas vezes), eu só tenho um recado para você Olivae: suas músicas são daquelas que falam para todas as pessoas, em todos os seus contextos e ao alcançá-las tomam seus próprios caminhos e interpretações. Me perdi em suas canções para encontrar as razões delas em minha própria vida e espero que quem as ouça faça o mesmo. Se percam. Se encontrem. Se debulhem em suas letras e acordes.


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