Mantendo a tradição que criamos aqui no ano passado, vamos falar um poquinho sobre os álbuns folk indicados ao Grammy. Para 2021 a lista está simplesmente incrível e, como todo mundo anda comentado, as mulheres ganharam bastante destaque na premiação.
Antes de comentar sobre os discos indicados literalmente na categoria de Melhores Álbuns Folk, vale dizer que temos algumas mulheres que sempre comentamos aqui no blog, concorrendo dentro de outras categorias de roots music, como é o caso da Sarah Jarosz e sua canção “Hometown”, indicada como Best American Roots Song. Sarah também concorre como Best Americana Album, com o seu recente lançamento “World On The Ground” (comentamos sobre ele nessa lista aqui). Já na categoria Best Country Song, temos as maravilhosas The Highwomen, concorrendo com a faixa “Crowded Table”.
Como já esperávamos, o álbum “Folklore”, da Taylor Swift, está indicado como um dos melhores do ano. Porém, como já era de imaginar não está entre os melhores álbuns folk e sim entre os melhores pop. O álbum concorre ainda em outras categorias pop, tanto como álbum completo, como com faixas separadas. “Exile”, seu bonito duo com Bon Iver, por exemplo, concorre ao Best Pop Duo/Group Performance.
Já a Phoebe Bridges que amamos comentar por aqui, está concorrendo como Best New Artist. Seu álbum (listado aqui por nós como um dos baita lançamentos desse ano) também está concorrendo a premiação, mas como Best Alternative Music Album. Bridges concorre ainda como Best Rock Performance para sua performance de “Kyoto”, canção que concorre também como Best Rock Song.
Na categoria Produtores do Ano de não-clássicos, eu acho a atenção para Dave Cobb que concorre como produtor, dentre outros, dos álbuns “The Highwomen” (The Highwomen), “I Remember Everything” (John Prine) e “Reunions” (Jason Isbell And The 400 Unit).
Dadas todas essas informações, agora sim: os indicados deste ano na categoria de Melhor Álbum Folk são…
Bonny Light Horseman, dos Bonny Light Horseman
Certamente um dos álbuns que eu gostaria de ter comentado aqui, mas acabou passando batido. Lançado em janeiro desse ano, o álbum é a estreia do projeto Bonny Light Horseman, um super grupo folk formado por Anaïs Mitchell, Eric D. Johnson (Fruit Bats, The Shins) e Josh Kaufman (The National, Hiss Golden Messenger). Assim que foi lançado, o disco foi comentado por vários dos meus (e certeza que dos seus) artistas favoritos nas redes sociais. Por alguma razão, eu ainda não tinha parado para ouvir e comentar. Pois bem, fruto da reunião desses artistas incríveis, o disco reúne dez faixas atemporais com o melhor do folk tradicional misturado a narrativas que podem facilmente fazer sentido no passado, no presente ou daqui a alguns anos. Ente as faixas podemos encontrar tanto canções co-escritas pelo trio no ano passado, quanto músicas tradicionais das Ilhas Inglesas, com origem em algumas canções que datam de centenas de anos. Vocais belíssimos, piano e brilhantes violões acústicos também compõe esse trabalho. É, portanto, um belo conjunto de canções que servem tanto como um testemunho honroso do folk, como uma bela transição para o futuro do gênero.
Thanks For The Dance, de Leonard Cohen
Lançado no finzinho de 2019, este álbum de Cohen figurou na nossa lista de lançamentos de veteranos do ano passado. Mais que uma obra, esta é certamente uma homenagem justa de um filho para seu pai, três anos depois de sua morte. “Thanks for the Dance” reúne músicas deixadas por Leonard Cohen que não entraram em seu último disco “You Want It Darker” (2016), umas delas inéditas outras já conhecidas por algumas de suas apresentações. O álbum foi produzido pelo filho do músico, Adam Cohen, que contou com colaborações incríveis de nomes como Damien Rice, Feist, Richard Reed Parry (do Arcade Fire), Bryce Dessner (do National), Beck, Patrick Watson e o produtor Daniel Lanois (parceiro do U2 por décadas). O registro de Cohen também chegou acompanhado de um documentário que mostra a história por trás da produção do trabalho. Assista ao “The Story of Thanks for the Dance” clicando aqui.
Song For Our Daughter, da Laura Marling
Já havíamos indicado este álbum da Laura aqui no blog. Certamente um dos melhores da cantora até então. Lançado em abril desse ano (por força da pandemia, na verdade ele estava programado apenas para agosto), “Song For Our Daughter” é o sétimo álbum cheio de Laura Marling e recebe esse nome porque soa como algo que uma mãe escreveria para uma filha. Como o seu título já nos induz a imaginar, ele é um álbum extremamente íntimo. Segundo a própria Laura, o trabalho é sobre “traumas e uma busca duradoura para entender o que é ser mulher nesta sociedade”. Suas faixas são notas de sabedoria e aprendizado recebidos ao longo da vida. Logo, ele soa extremamente maduro. Muitas vezes, denso. Algumas palavras são duras, difíceis de engolir, não fossem os dedilhados de um violão puro e a voz agradável e serena dessa mulher. De forma incrivelmente bela, Laura consegue traduzir em canções muito sobre a feminilidade moderna, como uma trovadora que representa a heroína diária que cada uma de nós precisa ser.
Saturn Return, das The Secret Sisters
Este é outro dos álbuns que comentamos aqui. Lançado em fevereiro deste ano, o quarto álbum em estúdio das irmãs Laura e Lydia Rogers tem o poder de nos transportar para tempos remotos através de suas melodias e harmonias vocais. O trabalho, que conta com a co-produção de Brandi Carlile, passeia por uma gama de sentimentos: ambas as cantoras foram mães pela primeira vez e também perderam suas avós. Então espere faixas reflexivas de aprendizados e, ainda, do descobrimento da cura e da esperança em meio ao sofrimento. Pitadas de gospel, folk, country misturado ao talento e as narrativas dessas meninas, deixa o trabalho tremendamente apetitoso aos nossos ouvidos. Uma das principais diferenças deste trabalho em relação aos anteriores da dupla é o fato delas ocasionalmente fazerem turnos vocais individuais.
All The Good Times, de Gillian Welch & David Rawlings
Taí um álbum que eu fiquei sabendo sobre há pouco tempo e que foi uma delícia de descobrir a medida que ouvia cada uma das faixas. Gravado em casa, durante a pandemia, e lançado em julho desse ano, “All The Good Times” tem um título que faz jus vamos ouvir ao longo de sua audição. Afinal, ele é uma coletânea mágica de covers de canções clássicas de cantautores como Bob Dylan, John Prine, Elizabeth Cotten, além de faixas eternizadas por nomes como Johnny Cash e June Carter. Apesar de canções famosas e conhecidas por muitos de nós, elas ganham aqui interpretações autênticas do duo, com excelentes harmonias vocais e acordes perfeitos.
Outras indicações nas categorias American Roots Music:
Best American Roots Performance
“Colors” – Black Pumas
“Deep In Love” – Bonny Light Horseman
“Short And Sweet” – Brittany Howard
“I’ll Be Gone” – Norah Jones & Mavis Staples
“I Remember Everything” – John Prine
Best American Roots Song
“Cabin” – Laura Rogers & Lydia Rogers, Songwriters (The Secret Sisters)
“Ceiling To The Floor” – Sierra Hull & Kai Welch, Songwriters (Sierra Hull)
“Hometown” – Sarah Jarosz, Songwriter (Sarah Jarosz)
“I Remember Everything” – Pat Mclaughlin & John Prine, Songwriters (John Prine)
“Man Without A Soul” – Tom Overby & Lucinda Williams, Songwriters (Lucinda Williams)
Best Americana Album
“Old Flowers” – Courtney Marie Andrews
“Terms Of Surrender”- Hiss Golden Messenger
“World On The Ground” – Sarah Jarosz
“El Dorado” – Marcus King
“Good Souls Better Angels” – Lucinda Williams
Best Bluegrass Album
“Man On Fire” – Danny Barnes
“To Live In Two Worlds, Vol. 1”- Thomm Jutz
“North Carolina Songbook” – Steep Canyon Rangers
“Home” – Billy Strings
“The John Hartford Fiddle Tune Project, Vol. 1” – Various Artists
Best Regional Roots Music Album
“My Relatives ‘Nikso Kowaiks’” – Black Lodge Singers
“Cameron Dupuy And The Cajun Troubadours” – Cameron Dupuy And The Cajun Troubadours
“Lovely Sunrise” – Nā Wai ʽehā
“Atmosphere”- New Orleans Nightcrawlers
“A Tribute To Al Berard”- Sweet Cecilia
Veja a lista completa de indicados ao Grammy 2021 neste link.
