Quando Inhambú transforma em música tudo o que tem aprendido nesta “Estrada Mãe” que é a vida

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Lá em 2016/2017, Ricardo Santiago e Antony Ventura nos surpreendiam com seu projeto de título longo, que revisitava alguns ritmos não tão utilizados pelos artistas mais jovens do nosso tempo (leia nosso post aqui). Agora em 2021, eles voltam e nos supreendem de novo, desta vez com sua evolução musical, apresentando tudo o que tem aprendido ao longo desses últimos anos em sua caminhada.

A proposta do projeto sempre foi o resgate da música popular brasileira através da cultura folclórica e isto se tornou um norte para o duo. Desde seu nome Quando Inhambú Cantou no meu Quintal – uma frase que resgata a importância do canto do pássaro Inhambú na vida do homem do campo, até as melodias e temas empregados em suas canções.

Enquanto lá no primeiro trabalho, eles nos mostravam para o que vinham, passeando ali pelo folk e o blues urbano, bem como baladas românticas e até cantigas de roda. Em “Estrada Mãe”, eles acrescentam a experiência de sua jornada e a maturidade que isto os proporcionou: na vida e na música.

No novo disco, temos quase o dobro de canções do primeiro. Daí já notamos um diferencial: numa era de singles e, no máximo EPs, quem lança um disco com 14 faixas? Os meninos do Quando Inhambú tiveram essa ousadia. Se considerarmos a distância entre os dois lançamentos, conseguimos notar o tanto de bagagem que foi acumulado pelos dois rapazes e toda a vontade de trazer isto à tona.

Imagine o primeiro play como aquela abertura de mala quando voltamos pra casa depois de uma longa viagem. O “Balanço das Águas” é mais que uma intro, é uma faixa instrumental que prepara terreno pra tudo o que vem depois. E cada faixa seguinte, é como um souvenir que a gente vai desempacotando e relembrando do momento da viagem que ele representa.

Não vou fazer um faixa a faixa completo aqui para que você também possa tirar suas próprias conclusões das influências apresentadas pelos rapazes, mas posso dizer que a sequência de canções nos leva a um belo contorno do folk regional brasileiro. Ao ouví-las, vamos passear por gêneros tradicionais de diferentes regiões do país, como é o caso do baião nordestino em “Meu Lugar”, o chamamé sulista em “A Fronteira” e “Chamamé das Estrelas”, modas de viola como em “Passarinho Irá Cantar” e levadas latino americanas como em “Coração Latino”.

O folk com pitadas estado-unidense, hoje tão presente no nosso nicho, também aparece de forma brilhante, tanto na faixa-título como em “Música de Rádio”, canção que conta com a participação especialíssima de Murillo Augustus. Muitas vezes, esse folk americanizado também se mistura com toques caipiras, como em “Ser Mais em Mim” faixa que encerra o disco.

É uma viagem mesmo completa por nossas raízes e contemporaneidades com trilha sonora de primeira.

Vale dizer ainda que o disco foi produzido por Alan Oliveira, do Estúdio Percutir, em Guarulhos/SP. E que participaram ainda do disco: Katya Teixeira (voz), Eduardo Oliveira (acordeon), Sílvio Luna (Bombo Leguero e Charango), Giovani Fachini (Flautas) entre outros músicos e musicistas da região. O álbum “Estrada Mãe” foi pautado sobre a composição e construção coletiva em todo seu processo, desde o financiamento coletivo pelo Catarse, até as gravações em estúdio. Já a capa, super bem representativa, é uma arte de Rafael Vieira (@rafa.transmita).

Play para viajar pela “Estrada Mãe”.