Rasta Bonito: um faixa a faixa do CD de Country e Bluegrass gravado pelo Almir Sater

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Almir Sater é uma fusão de ritmos, entre sua famosa viola caipira com a música andina e paraguaia. Mas desta vez, trataremos sobre a influência da música Folk em suas canções, nas quais estão presentes as ramificações do Country e Bluegrass. A partir disto, já podemos perceber a riqueza e variedade que o artista têm em sua arte.

Ele fez parte do que eu chamaria de segunda geração de violeiros, se assim posso dizer, imprimindo uma maneira única de tocar viola. Começou sua carreira na década de 1980, época que ganhou grande notoriedade. Porém, atingiu sua maior fama quando suas músicas fizeram parte das trilhas sonoras das novelas Pantanal e Rei do Gado, pertencentes a TV Manchete e Rede Globo respectivamente. Nelas ele também atuou, representando personagens de violeiros. Contudo, o assunto que abordarei é sobre um disco que antecedeu a este sucesso, o “Rasta Bonito”, gravado em 1989.

A história deste álbum começou quando ele foi convidado para tocar em um Festival nos Estados Unidos, o International Fair Festival. Neste momento, a gravadora Continental resolveu aproveitar a viagem para gravar o disco dele em Nashville, conhecida como a capital da música Country nos Estados Unidos. O resultado disso foi um disco que, realmente, une as influências das músicas caipiras norte americana e brasileira de maneira natural e fluida.

O disco, obviamente, tem em seu papel principal a viola caipira. Contudo, o grande diferencial da vez foi o espaço concedido para instrumentos tradicionais americanos, como banjo 5 cordas americano, mandolin, violino e o violão ressonador (dobro). Todos estes instrumentos foram gravados por Eric Silver, um músico norte americano que acabou produzindo outros trabalhos de Almir e tornou-se um grande amigo. Com isso, o talento e criatividade de Sater, aliados ao seu parceiro constante de composição, Renato Teixeira, e junto do talentoso Eric Silver, faz esse álbum algo único e especial.

O álbum começa com a faixa título “Rasta Bonito”, composição de Almir e Renato Teixeira, particularmente, a melhor ao estilo Folk Country. Uma letra totalmente regional mas com um clima pesado, a lá “Ghost Rides in The Sky”, como se fossem aquelas cantigas antigas que se contavam para assustar, onde falava-se sobre o uivar de lobos, de bruxas que pegam moças bonitas… Ela traz um instrumental bem americano, a viola e a gaita ocupam papel de destaque e depois sentimos a presença do Bluegrass nas pontes da música, com o violino e o mandolin fazendo solos. É uma música de pegada forte e marcante, um ótimo começo na minha opinião.

A segunda faixa, “Tristeza do Jeca”, possui um clima mais calmo, é um clássico da música sertaneja brasileira. Contrapõe de forma excelente à anterior, mostrando a semelhança entre as duas culturas em suas tristezas e densidades, criando uma conexão entre os caipiras de lá e daqui.

A terceira faixa é um instrumental, “Capim Azul”, que faz clara referência ao estilo musical Bluegrass (blue = azul, grass = grama), uma vertente da música Country, onde o título é auto explicativo. Ela começa com uma viola caipira, tocada por Almir Sater ao seu estilo, mas logo em seguida vira um Bluegrass, aparecendo solos de banjo, violino, dobro, mandolin, violão flatpicking e gaita. Com certeza a faixa com mais influências norte-americana.

Quarta faixa, “Um Violeiro Toca”, uma canção que não tem muito o que falar. Se você não conhece este clássico da carreira dele, escute! É uma linda música, mais uma da dupla Almir Sater e Renato Teixeira.

Quinta faixa, “Homeless Soul”, é praticamente um Almir traduzido para o inglês, para que os americanos entendessem a personalidade e jeito dele compor e tocar. Foi escrita em parceria com o produtor do álbum, Joe Loesch. Confira a performance dessa ao vivo logo abaixo.

Sexta faixa, “Tennesse Waltz”, é um Country tradicional americano, uma valsa clássica dos EUA na voz do Almir Sater. Ela, assim como “Tristeza do Jeca”, é um clássico, cada um representando a música caipira do seu país de origem.

Na sétima faixa, “Canoa”, voltamos ao Brasil e daqui em diante o álbum segue pela música brasileira. Esta, assim como as faixas seguintes, serão todas parcerias de Almir com Renato Teixeira, exceto a última. Nessa música, a frase “poesia em forma de música” é facilmente aplicada; uma viagem musical para acalmar a alma.

Oitava faixa, “Índios Adeus”. Acredito que seja a que tem a viola mais característica de Almir, aquela marca registrada que ele mesmo desenvolveu desde os seus trabalhos anteriores.

Nona faixa, “Boiada”, um lamento sertanejo que acaba por não ser um lamento. É aquela coisa dele de atualizar e misturar as influências da cultura regional com progressões musicais mais modernas.

Décima e última faixa, “Cruzada”, escrita por Márcio Borges e Tavinho Moura. Difícil de definir. Um instrumental moderno que poderíamos chamar de World Music. Mas, no final, algo que é realmente autêntico torna-se difícil de definir, assim como o próprio dono do disco foge de definição a vezes.

Por fim, em uma opinião estritamente pessoal, o “Rasta Bonito” é uma obra prima que fica escondida em meio a sua genialidade, assim como acontece com outros grandes artistas que temos por aí. Acredito que as grandes obras são assim, possuem tantas camadas que quando olhamos por outro ponto de vista vemos a mesma coisa de um jeito completamente diferente.

Você pode encontrar a ficha técnica completa do disco clicando aqui.

Neste canal no YouTube é possível ver mais vídeos de apresentações e comentários do próprio Almir sobre o trabalho.