Glen Hansard entrega seu melhor trabalho solo em “This Wild Willing”
por Pedro
Um sample de uma parceria esquecida de David Bowie com o Queen, um trio de irmãos iranianos tocando instrumentos típicos, drum machines e pequenos versos e poemas alinhados a uma banda em sua formatação clássica: isso parece a receita do próximo grupo nem-tão-conhecido-assim que fará a cabeça dos hipsters amparados economicamente em festivais ao redor do mundo ou até mesmo uma outra invenção do nosso amigo Justin Vernon, mas isso bastou para Glen Hansard nos dar o que há de melhor em sua música em seu quarto disco solo, o nada ortodoxo “This Wild Willing”.
O músico irlandês com praticamente trinta anos de estrada rompe de vez com a ideia que temos de seu trabalho, fruto de todo material prévio. Obviamente, aquela emoção visceral de sua voz aparece em praticamente todas as faixas, mas é válido compreender que esse disco não é do mesmo artista que nos entregou um morno “Between Two Shores” ano passado (disco que, aliás, foi lançado com músicas gravadas antes de seu segundo disco, “Didn’t He Ramble”). O álbum anterior se equivoca justamente por não tentar nada diferente. Claro, eu concordo com você na máxima de que uma música boa funciona com o mínimo e Hansard não precisa de mais nada além de seu violão pra ser incrível, só que Two Shores é apenas um apanhado de músicas que não serviram para os discos anteriores.
Já no lançamento desse 12 de abril, o que ouvimos é um músico desprovido de qualquer compromisso com o que já fez. A sonoridade é o trunfo do disco produzido por David Odlum, parceiro de Glen desde os tempos da The Frames, onde foi guitarrista. Falando na banda, o disco pode ser visto como uma evolução da fase mais experimental e criativa do grupo, entre os anos 1999 e 2005.
Para o processo de composição, Hansard se refugiou em Paris por um mês. Estava cansado após uma extensa turnê e combatendo uma resistente infecção pulmonar. Alugou um pequeno quarto com uma cama e uma escrivaninha ao lado de uma grande janela. A rotina era de compor entre 09 e 11h da manhã, conhecer e descobrir lugares que fogem do turismo óbvio e usar disso no próximo dia para escrever. Nessas andanças encontrou os irmãos Khoshravesh, vindos de uma linhagem de grandes músicos iranianos, foram à França para tentar a sorte e são um dos pontos altos do disco e da quarta faixa, “Race To The Bottom”.
Ouvir o disco é dar um passo ao desconhecido, perceber ecos de algo familiar e continuar caminhando. Ele te ganha – ou perde – na primeira faixa. É uma história nova vinda de um velho amigo boêmio, cheia de paixão e procurando luz em todas as sombras que avista. No fim, acaba por ser um sinônimo do mistério que é essa vontade selvagem no peito dos renegados, aqueles que continuam procurando e não sabem ao certo o que.