Especulamos o que “The Ballad of Cleopatra” do The Lumineers significa. Vem conferir!
por Rafaella Peres
Sabe aqueles conselhos de avós? De quando você senta para ter uma conversa qualquer e sente que acaba saindo com mais sabedoria do que imaginava? Esse é o feeling depois de assistir “The Ballad of Cleopatra” do The Lumineers.
A junção de todos os clipes resultou na obra final que é de tirar o fôlego. De acordo com Wesley Schultz, cantor principal da banda, ele teve uma dessas conversas intensas com uma motorista de táxi que ele conheceu de repente. Mal a senhora sabia que acabou se tornando a maior inspiração para o último álbum deles “Cleopatra”, que foi divulgado no dia 8 de abril de 2016.
Assim que liberaram o segundo álbum, a banda soltou também os clipes de “Ophelia”, “Cleopatra”, “Sleep on the Floor” e “Angela/Patience” em ordens aleatórias. Era perceptível que formavam um storyline, mas ainda não havia nenhum vínculo específico entre eles. Até que em abril de 2017, após um ano de lançamento do álbum, o diretor Isaac Ravishankara e a banda colocaram “The Ballad of Cleopatra” no mundo, juntando as peças do quebra-cabeça em um só curta. O clipe, de quase meia hora, traz a sensação de ganhar novas perspectivas, correr atrás do botão “recomeçar” e nos lembrar daquilo que realmente importa na vida.
Vem entender o puzzle com a gente!
“The Ballad of Cleopatra” – The Lumineers
Ophelia
O clipe começa com “Ophelia”, é um dos poucos momentos que a banda realmente aparece no curta. É um modo de introduzir a “balada”, justamente por ser uma canção que eles apresentam com muito carinho. “Ophelia” trata de sucesso, expectativas e a pressão que a banda teve que lidar desde o começo até a ascensão da fama, justificando o porquê dessa música significar tanto para eles.
I, I got a little paycheck
Eu tenho um salário baixo
You got big plans and you gotta move (whoo!)
Você tem grandes planos e precisa se mexer
And I don’t feel nothing at all
E eu não sinto nada
And you can’t feel nothing small
E você não sente nada “pequeno”
“Ophelia” é uma lembrança constante para a banda. Ela permite que eles tomem um passo para trás e apreciem tudo que já aconteceu com eles até agora. E é exatamente isso que o clipe mostra. Inicialmente, eles tocam para um público pequeno quando o cantor principal, Wesley Schultz, “sai” do seu próprio corpo e foge do caos da sua vida atual. Ele sai do prédio e começa a dançar de acordo com a batida da canção, o clássico “dançar conforme a música”, ou seja, cair em si, seguir em frente. Quando Ophelia vem chegando ao fim, as notas de transição começam a tocar e eventualmente guia Shultz até o táxi de Cleopatra. Eles iniciam uma conversa inaudível para quem assiste e é assim que a jornada começa.
Cleopatra
Assim que Schultz sai do carro, “Cleopatra” começa a tocar. Nesse momento a motorista (Cleopatra) aguarda pelo seu próximo passageiro. O clipe foca bastante no olhar dela que, acima de tudo, aparenta muita sabedoria. Enquanto ela dirige pelas ruas movimentadas é possível perceber que ela está relembrando algo: Os “E se” que a vida trás. Não especificamente sobre estar arrependida com o rumo das coisas, é mais uma reconsideração a respeito do caminho que ela trilhou ao longo da vida. É como se ela tivesse percebido que, por qualquer razão que fosse, aquele realmente era o destino que ela precisava ter seguido.
I was Cleopatra, I was young and an actress
Eu era Cleopatra, jovem e uma atriz
When you knelt by my matress and asked for my hand
Quando você ajoelhou sobre meu lençol e pediu pela minha mão
But I was so sad you asked, as I laid in a black dress
Mas eu estava tão triste por você ter pedido, enquanto eu me deitava com aquele vestido preto
With my father in a casket, I had no plans
Com meu pai em um caixão, eu não tinha planos
Muitos “personagens” entram e saem do táxi, alguns familiares outros não, alguns metafóricos outros literais. Cada um com uma história diferente, cada um é levado pela nossa principal, Cleopatra, para seu destino.
So I drive a taxi, and the traffic distracts me
Então eu dirijo um táxi e o trânsito me distrai
From the strangers in my backseat, they remind me of you
Dos estranhos do meu banco de trás, eles me lembram você
But I was late for this, late for that, late for the love of my life
Mas eu estava atrasada para isso, atrasada para aquilo, atrasada para o amor da minha vida
And when I die alone
E quando eu morrer sozinha
When I die alone, when I die I’ll be on time
Quando eu morrer sozinha, quando eu morrer vai ser minha hora
Eventualmente ela desliga o taxímetro e busca seu filho, já adulto, no aeroporto. Ele entra no táxi, se senta na frente com um sorriso no rosto e logo abraça a mãe. Eles dirigem até o anoitecer, param para comer e aproveitam ao máximo a companhia um do outro. Até que realmente escurece e é preciso que ela o leve até a casa do pai. Antes mesmo de deixá-lo, ela já aparenta estar resignada. É nesse momento que o primeiro “E se” da vida aparece, o tema recorrente de toda balada. Ao deixar seu filho na casa do ex-marido, Cleopatra se questiona como é que seria se tivesse feito as pazes com o pai do filho e, assim, curtir juntos o garoto.
Independentemente, ela vira de costas, entra no carro e volta a dirigir.
And the only gifts from my lord were a birth and a divorce
E os únicos presentes do meu Deus, foram um nascimento e um divórcio
But I’ve read this scripts and the costume fits, so I’ll play my part
Mas eu já li os scripts e conheço as fantasias, então vou desempenhar meu papel
Cleopatra está na estrada, a feição suave mas, ainda, ligeiramente chateada. Ocorre uma transição leve e é quando ela se transforma em uma versão bem mais jovem de si mesma, dirigindo para longe de algo, com as mesmas feições no rosto mais novo. E nesse momento começa os “inícios” da Cleopatra, o início dos “E se” em sua vida.
Sleep On The Floor
“Patience”, a faixa instrumental do álbum, toca ao fundo enquanto nós observamos a versão mais jovem da Cleopatra transfigurada e triste encarando profundamente os olhos do seu namorado, ambos no funeral do pai dela. Assim que as teclas do piano nos deixam “confortáveis” tudo começa a se mover em câmera lenta. O garoto se aproxima lentamente e sussurra no ouvido dela “If you don’t leave now, you may never make it out” (Se você não ir embora agora, pode ser que nunca mais consiga). Com isso, “Sleep On The Floor” começa e Cleopatra imagina como tudo poderia ter sido se ela tivesse ido embora com o amor da vida dela, naquele mesmo dia.
Pack yourself a toothbrush dear
Empacote sua escova de dentes, querida
Pack yourself a favorite blouse
Empacote sua blusa favorita
Take a withdrawal slip
Pegue um guia de saque
Take all of your savings out
Leve todas as suas economias,
‘Cause if we don’t leave this town
Por que se não deixarmos essa cidade
We might never make it out
Talvez nunca mais vamos conseguir
I was not born to drown
E eu não nasci para afundar
Baby come on
Baby, vamos
“Sleep On The Floor” nos leva a uma jornada.
O casal jovem e apaixonado dirige pelos estados, vagam entrando e saindo de hotéis sujos, conhecem novas pessoas e finalmente estão completamente livres. Apesar de não terem nada estável e seguro, eles têm a si mesmo. E, o que eles vêm a descobrir, é basicamente o que eles realmente precisam.
O casal se casa, felizes como nunca e dançam até o final da noite. Enquanto eles se deitam para dormir na noite de casamento, “Sleep On The Floor” vem ao fim. A jovem Cleopatra conecta seus olhos com a câmera antes da cena se transformar para fora do cenário do “E se” e de volta para realidade.
Agora ela está de volta no carro, exatamente como a vimos no começo da canção, com as feições tristes e claramente preocupada. Ela olha pelo retrovisor, somente por um segundo, e continua a dirigir. Sempre seguindo em frente.
Angela
“Angela” começa com Cleopatra ligeiramente mais velha e grávida. Ela está na cama com seu marido, segura, salva e em uma ótima casa. Entretanto, é notável que ela não quer estar ali. Nesse ponto da balada você já sabe quem é a personagem “Cleopatra”, ou, pelo menos, quem ela quer ser. Sua vida a levou para quem ela deveria ser, mas isso não muda quem ela QUER ser.
Então, assim que “Angela” continua, você pode ver a mais velha, grávida Cleopatra, saindo de seu próprio corpo e, novamente, imaginando como a vida poderia ser. Se ela tivesse deixado o marido atual quando ela queria.
When you left this town, with your windows down
Quando você abandonou essa cidade, com suas janelas abertas
And the wilderness inside
E toda selvageria por dentro
Let the exits pass, all the tar and glass
Deixando todas as saídas passarem, todo os vidros e asfaltos
‘Til the road and sky align
Até que a estrada e o céu se alinhassem
The strangers in this town,
Os estranhos nessa cidade,
They raise you up just to cut you down
Eles te criam apenas para te colocar para baixo,
Oh Angela it’s a long time coming
Oh Angela, isso já era esperado
And your Volvo lights lit up green and white
E as luzes do seu Volvo brilharam em verde e branco
With the cities on the signs
Juntamente com as cidades nas placas
But you held your course to some distant war
Mas você manteve seu curso em direção a uma guerra distante
In the corners of your mind
Nos abismos da sua mente
Ela volta a dirigir, de volta ao lugar que ela parece sempre estar – na estrada, sozinha, seguindo em frente. Mas, dessa vez, a feição no seu rosto não é como as anteriores. Dessa vez ela está determinada. Determinada em seguir seu caminho.
Ela dirige para longe até encontrar um hotel de beira de estrada. Ela sai do carro, olha para o céu e, pela primeira vez na balada, ela demonstra felicidade e, finalmente, paz. O clipe de “Angela” nos leva em uma jornada do coração e alma da Cleopatra, que busca ser quem ela realmente é. A lição que fica de “siga seu coração, tenha coragem e vá até o fim”.
My Eyes
“My eyes” é o laço que conecta a história e completa toda a jornada de Cleopatra.
Ela está mais velha, bem mais velha de quando a encontramos no táxi. Além disso, ela está em um asilo, compartilhando experiências com seu enfermeiro e aguardando que sua hora “chegue”.
Oh, the devil’s inside
Oh, o diabo está dentro
You opened the door
Você abriu a porta
You gave him a ride
E lhe deu uma carona
Too young to know, too old to admitir
Muito jovem para saber, muito velha para admitir
That you couldn’t see how it ends
Que você não podia ver como isso iria terminar
What did you do to my eyes
O que você fez com meus olhos
What did you sing to that lonely child
O que você cantou para aquela criança solitária
Promised it all but you lied
Você prometeu tudo, mas mentiu
You better slow down baby soon
Melhor você desacelerar logo, baby
It’s all or nothing to you
É tudo ou nada para você
Antes que termine, podemos ver Cleopatra sair do seu corpo uma última vez. Ela caminha pelos corredores do asilo, devagar, como se tivesse aproveitando seus últimos minutos. Observando cada detalhe, cada sala vazia, enquanto continua caminhando até a porta final do asilo. E, por fim, se jogando no “abismo”.
“The Ballad of Cleopatra” mostra, com sabedoria, as escolhas que a vida nos faz decidir. Demonstra que você pode não chegar exatamente onde você achou que chegaria, mas, mesmo assim, são todas essas experiências que o tornam quem você realmente é.
E por mais que esses “E se” existam, eles estão ali para lembrá-lo que a vida é isso. É traiçoeira, precisa ser questionada e, acima de tudo, vivida. Em seu máximo.
Assim como diz a banda, em sua grande canção Cleopatra:
But I was late for this, late for that, late for the love of my life
Mas eu estava atrasada para isso, atrasada para aquilo, atrasada para o amor da minha vida
And when I die alone
E quando eu morrer sozinha
When I die alone, when I die I’ll be on time
Quando eu morrer sozinha, quando eu morrer sozinha, vai ser minha hora
Abaixo, a obra na íntegra!
(post inspirado na publicação: http://atwoodmagazine.com/ballad-cleopatra-lumineers-review/)