Vignettes: um mergulho de cabeça pelo primeiro álbum solo de Wesley Schultz, do The Lumineers

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Um homem caminha cabisbaixo em um quadro preto e branco. Ao fundo, uma porta aberta indicando uma “saída”. Sobre o homem, uma luz que contrasta com a escuridão do outro lado da porta. Este homem é Wesley Schultz. Ele atravessa a porta do lado escuro para o lado claro. Talvez a placa de “saída” esteja indicando sua fuga, a travessa de um limiar para criar coragem e finalmente contar uma história que estava contida dentro dele até então.

A imagem descrita acima é a capa do álbum “Vignettes”, o primeiro trabalho solo de Wesley Schultz, cantor do The Lumineers. Ao todo, são 10 músicas, todas covers.O trabalho foi lançado no Spotify na semana passada (30 de outubro) e contou com as participações especiais dos artistas Cindy Mizelle, James Felice, Diana DeMuth e da dupla The Webb Sisters.

Capa de Vignettes

“Este álbum é um compilado de vários momentos do meu passado. ‘My City in Ruins’, ‘Boots of Spanish Leather’ e ‘The Ballad of Lou the Welterweight’ são músicas que eu iria fazer cover quando morava em Brooklyn, em 2008. Foi um período bastante rico no quesito criatividade para mim e esses covers estavam me ajudando na composição das minhas músicas”, disse o cantor ao site UdiscoverMusic.

Ainda sobre a ideia do álbum, Wesley completou: “É praticamente mostrar para todos a sua playlist pessoal, sua inspiração”

Assim definido, Vignettes é um mergulho pelas influências do cantor estadunidense de 37 anos, nascido em Ramsey, Nova Jersey. Mas desta vez, suas canções favoritas transformam-se em obras mais intimistas com seu toque vocal ímpar, que encantou plateias do mundo todo através da banda The Lumineers.

Sem muitos enfeites sonoros, Vignettes é um deleite para os fãs de Wesley, já que a sua voz passional ganha total destaque ao longo das 10 músicas. Como acompanhamento, no máximo um violão ou um piano, além do backing vocal em algumas trilhas, reforçando a pegada gospel de algumas das letras. 

No fundo, Vignettes parece uma história de separação, com alguns momentos para respiro e alívio. 

Já na primeira faixa, “My City of Ruins”, temos uma distinção bem notável entre a nova versão e a cantada por Bruce Springsteen.Wesley conduz a canção com sua voz que altera tons com perfeição, apoiada pelas cordas leves do violão e de um backing vocal angelical. Isso é suficiente para o simples refrão “Come on, rise up” arrancar arrepios dos ouvintes. A faixa já prepara a profundidade do mergulho para o que virá pela frente.

Na sequência, já é possível imergir totalmente na narrativa do disco com “Downtown Train”. Afinal, Wesley apresenta o piano, instrumento ainda mais soturno, que afunda o ouvinte nas profundezas dos sentimentos com o trecho “Will I see you tonight, on a downtown train? Every night it’s just the same. You leave me lonely, now”.

Em seguida vem “Green Eyes”, mais contida no tom e letra que as duas anteriores, mas sem perder a essência do álbum. Afinal, Wesley sabe que o ouvinte precisa de um leve descanso para o que ainda está por vir. 

Antes de adentrar nas geladas correntes marítimas das próximas músicas, vem um pouco de oxigênio na faixa “If It Makes You Happy”. Novamente contando com o apoio do backing vocal e um violão sutil, o cantor agora conforta os ouvidos e os corações com o marcante trecho “If it makes you happy, It can’t be that bad”.

Mais à frente, armada com um piano lacônico que sabe explorar bem os intervalos de silêncio, vem a impactante versão de “Bell Bottom Blues”. Aqui, como em um tom misturado de desabafo e desespero, a letra forte faz desabar o que ainda permanecia de pé dentro do ouvinte: “do you wanna see me crawl across the floor to you? Do you wanna hear me beg you to take me back? I would gladly do it because. I don’t wanna fade away. Give me one more day, please. I don’t wanna fade away. In your heart I want to stay”.

Por fim, o último golpe vem “Keep Me in Your Heart”, desta vez com um piano mais intimidador e desconfortante, como se fosse um anúncio do iminente e trágico fim. Já que depois de todo o mergulho, o álbum nos convida a voltar à superfície e aceitar o inevitável com o refrão que anuncia a ruptura: “Hold me in your thoughts, take me to your dreams. Touch me as I fall into view. When the winter comes keep the fires lit and I will be right next to you”.

E com o som de um trem partindo nos instantes finais, somos levados embora de Vignettes…

Lista completa de Vignettes

My City of Ruins (Bruce Springsteen)
Downtown Train (Tom Waits)
Green Eyes (Coldplay)
If It Makes You Happy (Sheryl Crow)
Mrs. Potter’s Lullaby (Counting Crows)
Bell Bottom Blues (Eric Clapton/Bobby Whitlock)
Operator(Jim Croce)
Boots of Spanish Leather (Bob Dylan)
The Ballad of Lou the Welterweight (The Felice Brothers)
Keep Me in Your Heart (Warren Zevon)

Play:

Veja também o vídeo dos bastidores da gravação do álbum: