10 novos álbuns folk para ouvir antes que o semestre acabe

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Passei os últimos dias imersa nos meus fones de ouvido, revisitando artistas e conhecendo algumas das dicas que sempre acabam caindo nas minhas caixas de e-mail ou nas redes sociais. O resultado? Essa lista de 10 álbuns folk incríveis. Gosta de folk tradicional? Ótimo, tem opção aí. Prefere um folk mais moderno com pegada indie? Ok, tem aí também. Apreciem sem moderação! Salvem e revistem este post sempre que quiserem.


Jade Bird – “Jade Bird”

Uma das vozes promissoras da nova geração, Jade Bird tem apenas 22 anos e tem feito a diferença na história do mercado musical. Este ano, ela já figura na lista de concorrentes ao “Emerging Act Of The Year”, do Americana Fest, festival organizado pela Americana Music Association nos Estados Unidos.

Em meados de abril, ela lançou seu primeiro álbum que leva seu próprio nome no título. O trabalho sucede o EP “Something American” (2017) que comentamos sobre ele neste post.

Se eu pudesse definir esse trabalho em uma única palavra, eu diria que é intenso. Seja nas faixas mais “roqueiras” quanto nas baladas mais suaves, Jade soa mesmo como uma voz que estava entalada por anos e que agora se liberta sem algum medo de falar tudo o que guardou. Aquela coisa de old soul em um young body.

Não precisa muito para perceber a potência vocal dessa garota. Ela faz questão de evidenciar isso através da intensidade com a qual soa cada uma das frases de suas letras. Cada faixa é uma explosão de sua voz arranhada em nossos ouvidos. O que é ótimo!

As melodias variam entre potentes riffs de guitarras, muita bateria, acordes de violão e a suavidade das teclas de um piano. E nos deixa o difícil papel de escolher qual é a melhor!

Diferente de seu primeiro EP, totalmente enraizado na música folk e americana, aqui temos um álbum agnóstico de gênero. As músicas dessa jovem são incrivelmente versáteis em como elas são estruturadas e expressas. Sem dúvidas o primeiro passo de uma carreira completamente promissora.


Lucy Rose – “No Words Left”

Quando ouvi “Conversation”, primeiro single que anunciou este novo disco da Lucy Rose, foi inevitável não criar expectativas. Graças aos deuses do folk, todas elas foram atendidas. Na época, Lucy até chegou a declarar: “Eu não acredito que esse seja o melhor álbum que eu já fiz, porque eu não acredito em comparação quando se trata de música. Mas é diferente”. Bom, se me permitem uma opinião: sim, este é o melhor álbum que a Lucy já fez.

“No Words Left” é uma experiência sensorial profunda. E pode se tornar completa se você tiver a oportunidade de ir para um lugar de conforto, afastado de tudo, fechar os olhos e se sentir plenamente invadido pelo vocal e arranjos de Lucy.

Sua voz soa crua em todo o tempo, como tem que ser ao cantar letras tão intimistas como essas. Mas são os instrumentos que a acompanha que faz a diferença em cada uma das canções. Ora dedilhados de guitarra, ora dedilhados de violão, ora o peso do piano.

Mais que um álbum, “No Words Left” é um diálogo. Lucy expõe aqui tanta coisa que tem vivido e nós nos identificamos, certamente, com a grande maioria delas. Vocês sabem, são tempos difíceis para os sonhadores. E, às vezes, é difícil exprimir as coisas em palavras e expor em conversas. Mas ainda bem que existe a música. E aqui, Lucy faz isso por ela, por você e por mim.


Bear’s Den – “So that you might hear me”

Bear’s Den é aquele tipo de banda que eu conheci meio sem querer. Você talvez não tenha prestado atenção neles, talvez tenha… Eles estão entre aqueles artistas que cruzaram os Estados Unidos no documentário “Austin to Boston” (2014). Foi lá que os conheci e foi depois disso que eu me viciei completamente na fabulosa canção “Ágape”.

Veja também: 10 motivos para assistir “Austin to Boston”

No finalzinho de abril, eles lançaram “So that you might hear me”, seu terceiro álbum de estúdio que chegou até nós três anos depois do antecessor “Red Earth & Pouring Rain”.

Como os primeiros singles revelaram, os Bear’s Den nos entregam nesse trabalho canções melodicamente emocionantes. Na nota enviada por email, junto com a notícia do lançamento do álbum, eles disseram “este álbum começou como uma tentativa de tentar se comunicar com alguém honestamente. Nossos pensamentos não são todos racionais, nem todos considerados ou amarrados com fitas e laços. É uma tentativa de revelar o desafio honesto e difícil de se comunicar com alguém com quem você realmente se importa”. Melhor descrição não há. “So that you might hear me”, como o próprio título já anuncia, é um álbum confessional.

Aqui, a banda se aventura um pouco além do folk tradicional do comecinho da carreira. Podemos ouvir muitas experimentações. Além da pegada mais rock, muita influência eletrônica, uma grata surpresa. Mas não há como fugir da essência de suas canções: o coração.

Quando eles liberaram os clipes dos singles que antecederam o lançamento do álbum, eles falaram muito sobre as origens da canções. Recomendo fortemente que os assista, inclusive. Falamos sobre eles neste post. Há também um podcast para falar sobre todo o processo de construção do álbum, você pode ouvir todos os episódios aqui.

Em suma, “So that you might hear me” é um álbum de canções fortes e honestas conectadas por melodias experimentais e líricas. Ele cutuca feridas, nos tira do mesmismo e nos apresenta uma nova e incrível versão dos Bear’s Den.


John Paul White – “The Hurting Kind”

John Paul White é um músico excepcional. Só não sabe disso quem nunca se dispôs a ouvir qualquer um dos trabalhos que esse cara já fez. Em meados de abril, ele nos entregou “The Hurting Kind”, um álbum que já estava na nossa lista de espera de lançamentos.

Em seu terceiro trabalho solo, desde que deixou o The Civil Wars, o músico nos presenteia com um álbum atemporal. São 10 faixas que passeiam pelas sonoridades americana, country-pop e indie-folk. Ou seja, agradável a todos os ouvidos e facilmente adaptável a qualquer temporada da vida.

Como já falamos aqui, o álbum baseia-se na música exuberante e orquestrada feita em Nashville no início dos anos 1960, fala sobre o amor irresistível, desvenda os relacionamentos e a memória desvanecida de um ente querido. Para compô-lo, White foi inspirado por artistas clássicos como Jim Reeves, Patsy Cline, Roy Orbison, Chet Atkins e Bill Porter.

Na primeira faixa já somos atacados com os sentimentos que nos remetem aos “The Good Old Days”, depois passeamos por diversas experimentações onde em algumas delas mal podemos reconhecer a sonoridade típica de White. “My Dreams Have All Come True” fecha o trabalho com excelência.

O álbum é um deleite para os ouvidos, sem dúvidas uma das minhas apostas a melhor álbum do ano. A única reclamação que posso fazer é que ele é curto demais. Dez faixas é pouco para a dimensão da música de John Paul White.


Judah and The Lion – “Pep Talks”

Eles se classificam como uma banda country do Tennessee e ficam chateados quando falam que eles são algo diferente disso. Mas, para mim, eles são muito mais. Os Judah and The Lion já haviam chamado a minha atenção em seus primeiros trabalhos, calcados numa música mais raiz. Mas, como uma banda de jovens criativos que se preza, eles experimentaram misturar todas as suas influências a sério no “Folk Hop ‘n Roll”, que lançaram em 2016, e conseguiram deixar o álbum ainda melhor na versão deluxe liberada em 2017. Fiz uma resenha sobre ele e vocês podem ler com mais profundidade clicando aqui.

No comecinho de maio de 2019, eles liberaram o “Pep Talks”, um álbum que me despertou curiosidade já nos primeiros singles liberados. O tema central do álbum é o controle emocional que precisamos ter diante dos problemas pelos quais eu e você passamos ou conhecemos alguém que esteja passando, todos eles. Seja ansiedade, doença, divórcios na família, depressão, alcoolismo… A faixa “i’m ok”, por exemplo, faz um apelo para deixarmos de insistir no “tá tudo bem?” que todo perguntamos, mas nem sempre com a intenção de realmente ouvir o que está acontecendo.

Veja também: Judah & The Lyon nos faz pensar sobre controle emocional em “Over My Head”

“Pep Talks” é um álbum extremamente intenso. Suas melodias têm uma transparência capaz de nos fazer sentir a sensação de ser o personagem de cada uma de suas faixas. Dificilmente você não vai querer gritar “Don’t Mess with My Mama” junto com o vocalista ou se emocionar com o depoimento da faixa “Family / Best Is Yet To Come”. Ainda mais sabendo que são sentimentos reais, nascidos de experiências reais e difíceis pelas quais os membros da passaram passaram nesses hiato entre o disco anterior e esse. Super recomendo esse artigo da Relevant Magazine com a banda.

Eu poderia mergulhar fundo nas histórias que cada uma das 17 faixas desse disco apresenta, pois certamente ele mexeu comigo. Mas, em vez disso, vou te encorajar a dar play e apreciar cada uma delas. Deixe-se navegar através de seus próprios problemas, enquanto ouve essas canções. E assim como a banda encontrou uma luz no fim do túnel, que suas feridas pessoais também possam ser curadas.


Lolità e Manu Pozzi – “Alma Restaurada”

Em março, Manu Pozzi nos apresentou seu novo trabalho, intitulado “Siempre se irá el tiempo”. E, apesar de ser um trabalho belíssimo, não é bem sobre ele que quero falar aqui. Mas sim, sobre “Alma Restaurada”.

O EP conta com seis faixas apenas, mas como o próprio nome diz: é um reparo para nossa alma tão maltratada pela vida que temos vivido. Sempre correndo, sempre atrasados, sempre ansiosos, sempre sem tempo.

Assim que damos play, mergulhamos nos poemas e nas canções do casal Lolità e Manu. E ao finalizarmos a audição é como se saíssemos do lago bonito ilustrado na capa do trabalho, refrigerados, limpos e energizados para continuar a trilhar a nossa caminhada.

Caso não conheça o casal, eles vivem de forma nômade e relatam suas histórias e experiências quase que diariamente em seus perfis nas redes sociais (@soymanupozzi e @camposlolita). Este EP é meio que um registro oficial do que a vida os proporcionou até então.


Joy Williams – “Front Porch”

Desde que lançou o single que dá nome a este trabalho, estava pré-destinado que o novo trabalho solo de Joy Williams seria memorável. Sem dúvidas, um dos melhores de sua discografia fora do duo The Civil Wars.

Com melodias super cativantes, neste trabalho, Joy consegue um resultado atemporal ao mesclar com excelência a música folk contemporânea com a tradicional. A doçura de sua voz é um ponto extra que fazemos questão de enfatizar.

Parece que isso de se revelar com mais intensidade nas músicas tem sido uma tendência forte. Como os álbuns anteriores que já citamos, este também é bem pessoal para a artista. Letras doces e sentimento sincero estão presentes em todas as 12 faixas.

Em suma é um álbum acolhedor, que nos convida a sentar na front porch (alpendre) e tomar um café com Joy.


Rising Appalachia – “Leylines”

O que as irmãs Leah and Chloe Smith, aka Rising Appalachia, têm feito com a música folk é muuuuito maior que elas. “Leylines” é a nova prova disso. O novo álbum do duo é uma coleção de 12 canções originais perspicazes ao lado de covers de obras primas do folk tradicional.

Seu sétimo álbum de estúdio carrega no título o conceito de linhas invisíveis que se acredita estender ao redor do mundo entre espaços sagrados, ligados por uma presença espiritual e magnética.

Após o lançamento do “Wider Circles” (2015), a banda deixou que o processo de criação do novo trabalho fluísse naturalmente, permitindo que as experiências de suas viagens fervessem e as letras e músicas se formassem.

Com base nas influências musicais da Irlanda, África e Appalachia, vozes dinâmicas incorporam instrumentos como a harpa da África Ocidental e o violino irlandês, seguindo essas linhas ley e transformando-as em música com a ajuda do produtor Joe Henry. Tudo isso para dar voz a palavras de política, de como é ser mulheres na indústria da música e de como é a vida na estrada.

O trabalho começa com o folk apocalíptico “I Believe in Being Ready”, que transmite uma mensagem poderosa sobre se preparar para uma revolução, e passa por histórias incríveis como “Speak Out” (com participação de Ani Difranco) e a sensacional “Cuckoo”.

O encerramento fica por conta de “Resiliente”, que carrega em sua letra a frase “Vou fechar minha boca e aprender a ouvir”, de “Resiliente”. Essas palavras resumem um ponto valioso que a dupla espera transmitir através do projeto sobre o importância de ouvir não só a si mesmo em tempos de conflito, mas também para as vozes dos outros.


Sons of the East – “Burn Right Through”

“Burn Right Through” é o terceiro EP dos australianos da Sons of the East, no qual eles nos apresentam seis faixas extremamente cativantes. O som da banda é leve, alegre, tem aquela atmosfera solar que vem do calor da Austrália.

Uma coisa que me encanta no som desses caras é a pegada despretensiosa, mas altamente de qualidade, apesar do trabalho ser todo gravado num home studio. Outro ponto positivo é que todas as canções foram compostas em conjunto, isso deixa o trabalho mais harmônico também. Dá pra sentir a alegria da união dos integrantes, pulsar em nossos ouvidos.

Além dos singles “Nothing Comes Easy”, “Silver Lining” e “It Must Be Luck”, que foram lançados previamente já deixando o gostinho do que viria no EP (aquela mistura de acústico e elétrico que eles fazem muito bem), quero destacar a faixa que encerra o trabalho e também dá nome ao disco.

Este EP é a trilha sonora perfeita para dias de verão, para piqueniques no parque, passeios de barco e toda a vida que o verão nos proporciona.


Rhiannon Giddens (com Francesco Turrisi)- “There Is No Other”

Rhiannon Giddens não está na música por brincadeira. Para ela, não basta ser uma das melhores banjistas do mundo, ser uma baita pesquisadora e ter uma gigantesca força na representatividade feminina quando se trata de música folk e americana. Em seu novo projeto, ela se uniu ao multi-instrumentista italiano, Francesco Turrisi, para conectar sons africanos e árabes com sons e histórias da música tradicional da Europa e da América. O resultado? Claramente um disco brilhante!

Curioso é que, três meses antes, Giddens nos entregou o estonteante “Songs of Our Native Daughters”, no qual ela figura ao lado de Amythyst KiahLeyla McCalla e Allison Russell (do Birds of Chicago), cantando sobre ser mulher negra na América. Falamos sobre o trabalho neste post.

Aqui em “There Is No Other”, ela explora sem medo tudo o que seu colabroador Turrisi pode oferecer para enriquecer o disco. Baseado em Dublin, o músico geralmente trabalha com jazz, improvisação e música antiga, ou seja, uma mistura de arranjos completamente rica para a ideia que Giddens nos propõe. A surpresa? Descobrir que tudo isso foi gravado em apenas 5 dias. Eu não consigo sequer imaginar a loucura disso.

É incrível ver onde os anos de carreira tem levado o talento de Giddens e eu só posso agradecer por ter bons ouvidos para apreciar obras como a dela.


Outros discos que falamos por aqui no primeiro semestre de 2019

The Tallest Man on Earth – “I Love You. It’s a Fever Dream”

Our Native Daughters – “Songs of Our Native Daughters”

Glen Hansard – “This Wild Willing”

J. S. Ondara – “Tales of America”

Gunwood – “Travelling Sessions”

Hugo Barriol – “Yellow”

Beirut – “Gallipoli”

The Well Pennies – “Mumurations”