Coisas de Verdade: Antiprisma reafirma autenticidade em tempos de algoritmos
por Maísa Cachos
Em tempos de beats sintéticos e vozes moduladas pela inteligência artificial, o Antiprisma faz um convite ao essencial com “Coisas de Verdade”, seu mais novo álbum. O duo formado por Elisa Moos e Victor José entrega um trabalho que pulsa autenticidade, explorando as raízes do folk brasileiro com a mesma ousadia que marca sua trajetória desde o EP de estreia, lançado em 2014.
Enquanto muitos artistas buscam fórmulas instantâneas, o Antiprisma caminha na contramão, desbravando um terreno onde o toque humano e as imperfeições se tornam poesia. “Coisas de Verdade” é uma obra visceral que dialoga com o cotidiano, trocando abstrações por narrativas mais pessoais. Com letras que ecoam pequenas crônicas urbanas, como em “Saturnino” e “Euforia”, o álbum captura momentos que poderiam ser nossos, de tão tangíveis.
Ouça nosso podcast Folkalizando #017: Folk Psicodélico no Brasil – com Antiprisma e Avoada
Um álbum feito à mão
O processo de criação foi norteado por uma busca pela autenticidade. Elisa e Victor optaram por gravar boa parte das faixas ao vivo, acompanhados por Ana Zumpano (bateria) e Beeau Gomez (contrabaixo). Essa escolha resultou em momentos de pura sintonia, como pode ser sentido em “Que Seja” e “Um Rosto Desconhecido na Esquina”. A ideia era clara: tocar juntos, sentir juntos, registrar o que é real.
A própria faixa-título materializa essa proposta. Sons de objetos domésticos compõem a base rítmica, reforçando a estética artesanal. Nada de sintetizadores ou emuladores: cada som é resultado da interação direta com um instrumento ou objeto, traduzindo a essência do feito à mão.
Sonoridade que atravessa o tempo
Se nos trabalhos anteriores o duo explorava temas etéreos e contemplativos, agora ele mergulha em uma musicalidade mais tangível e pé no chão. Ainda assim, elementos como a viola caipira, marca registrada da banda, mantêm o elo com suas raízes. Em “Coisas de Verdade”, a viola encontra novas nuances, transitando entre o folk tradicional, o Clube da Esquina e até ecos do indie noventista.
Além do núcleo criativo de Elisa e Victor, o álbum brilha com colaborações de peso. Bemti empresta sua voz e viola à delicada “Tente Não Esquecer”, enquanto músicos como Fábio Tagliaferri, Mário Manga e Zé Mazzei enriquecem ainda mais a paleta sonora.
Leia também: Um passeio pelos “Hemisférios” do Antiprisma
Uma experiência emocional
Mais do que um conjunto de canções, “Coisas de Verdade” é uma experiência emocional que desafia o ouvinte a desacelerar e conectar-se com o que é essencial. É um disco que celebra a troca, a vulnerabilidade e a beleza dos momentos compartilhados.
Disponível em todas as plataformas digitais, o álbum também terá sua versão em vinil, prevista para o início de 2025, em parceria com o selo Midsummer Madness.
Enquanto vivemos a era do instantâneo, o Antiprisma nos lembra que o que realmente importa não pode ser automatizado. “Coisas de Verdade” é um sopro de humanidade que merece ser ouvido – e sentido.