Rural, brega e emotivo: o Vanguart desfila desilusões e sorrisos no disco “Boa Parte De Mim Vai Embora”

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O Vanguart é uma de minhas bandas nacionais favoritas, talvez a banda que eu mais tenha ouvido nos últimos anos. Aliás, “Demorou pra ser”, canção do disco “Muito mais que o amor – 2013” foi a música que mais ouvi nos idos de 2016. Está entre as minhas preferidas da banda, junto com “Para abrir os olhos”, “Estive”, “Meu sol”, “Menino” e “Olha pra mim” entre tantas outras. Saltam fagulhas ainda ao ouvir a animada “Semáforo”, música que deu o ponta pé inicial a trajetória da banda. E apenas para constar, como um amador nato, arranho no sopro da gaita de “Last time i saw you”. Toco por diversão!

Com o disco “Boa parte de mim vai embora (2011)”, o meu favorito, o Vanguart conseguiu juntar Folk Rock tradicional com pitadas bregas, mas acima de tudo com uma poesia encorpada. Torna este disco mais popular que os álbuns anteriores, mas ao mesmo tempo, bastante comprometido com a sua cena mais underground. “Mi vida eres tu” inicia os trabalhos quase que como uma brincadeira de karaokê. Despretensiosa, bilíngue e com o tempero brega que falei anteriormente: “Ando pelas ruas esperando que venha alguma louca, mais louca ainda que eu, alguém como eu”, eu canto sorrindo.

Mas não dá para se enganar, algumas das músicas mais densas do Vanguart se encontram neste álbum, caso de “Nessa cidade” – onde tem uma rua que ele não quer passar nunca mais – e “Engole (arde mais que brasa)”, ambas mais chorosas e melancólicas, dignas de uma mesa de bar em companhia da solidão. Na última, Hélio versa sobre a pele de outro alguém: “Olha só essas feridas, sem pensar eu fiz, e segui só já sem ver você”. Escolhas da vida!

Tiro certeiro: “Se tiver que ser na bala, vai”, atingiu em cheio em letra e melodia. Rápida e inquieta quase troca o violão pela guitarra. No programa Zumbido apresentado por Paulinho Mosca e transmitido pelo Canal Brasil, Hélio comenta que a canção nasceu com ele sozinho em uma casa de praia em Santa Catarina e os primeiros acordes foram dedilhados em um velho violão de cordas de Nylon que pertencia a seu pai. Cantou a música como se estivesse narrando um filme que passou por sua cabeça: era um chamado para onde ele deveria ir.

Já “Eu vou lá”, um dos tantos destaques soa sessentista enquanto “Onde você parou” traz uma sonoridade mais rural embalada pela harmônica sem muita técnica empunhada logo no início. “O que a gente podia ser” poderia fechar o disco: o que seria da vida se o caminho tivesse sido outro nos encontros e desencontros das relações? Bela reflexão ao som de um violino que dança. Minha preferida, no entanto, é “…das lágrimas”, com a melodia sendo conduzida pelo violino country de Fernanda Kostchak e vocais sem exageros divididos entre Flanders e Reginaldo Lincoln, ela é o modelo ideal da roupagem deste disco. Ouço no repeat.

A formação do Vanguart na época da gravação do álbum era composta por Hélio Flanders (voz, violão, gaita, trompete, vocais), Reginaldo Lincoln (voz, baixo e vocais), Douglas Godoy (bateria), Luiz Lazarotto (piano, teclado, rhodes e vocais), David Dafré (guitarra e vocais) e Fernanda Kostchak (violino) – que na época desse disco fazia uma participação tão especial que a tornou uma integrante oficial da banda.  Dores, amores, lembranças e (também) sorrisos decoram as letras de “Boa parte de mim vai embora”, ótimo título por sinal. O Vanguart ocupa um lugar especial em meus ouvidos e são grandes companheiros na estrada principalmente. As músicas desse disco em específico combinam com a sensação de ir deixando algumas memórias para trás. E haja asfalto para dispensar tantas recordações.

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