Mais 20 Tiny Desk Concerts para quem é fã de folk

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Em novembro de 2017, eu escrevi este post com 20 sessões do Tiny Desk que todo fã de folk deveria ver. De lá pra cá, muita gente boa passou pela famosa sala do escritório da NPR. Entre eles, novos e tradicionais nomes do folk. Quase três anos depois do primeiro post e neste cenário de quarentena no qual o mundo inteiro se encontra, e que exige de nós entretenimento dentro de casa, vamos a uma lista com mais 20 Tiny Desk para quem é fã de folk.

1/20 – Rosanne Cash – Set/2019

Vamos começar com a ilustre Rosanne Cash. Dizer que ela é filha do Johnny Cash é uma excelente apresentação, mas ela é muito mais que isso. Claro que a a genética e a influência do pai são importantes aqui, mas seu talento é incrível por si só.

Nessa apresentação, Rosanne tocou basicamente faixas de “She Remembers Everything”, álbum que lançou em 2018. As canções têm muito calor emocional, mas são modeladas e esculpidas pela sabedoria irônica da idade e da sua experiência. No set list estão a faixa que dá nome ao álbum, “The Only Thing Worth Fighting”, “Everyone But Me” e “A Feather’s Not A Bird”.

2/20 – Tallest Man on Earth –  Set/2019

Quase 10 anos depois da sua primeira passagem pelos estúdios so projeto, Kristian Matsson aka The Tallest Man On Earth voltou para apresentar suas novas canções. Mais leve, mais maduro, mais grisalho, mais intenso.

Acompanhado do músico C.J. Camerieri na trombeta, ele apresentou as faixas “What I’ve Been Kicking Around”, “I’ll Be A Sky” e “The Running Styles of New York” todas presentes em seu mais novo lançamento “I Love You. It’s a Fever Dream”.

3/20 – J.S. Ondara – Jan/2020

Eu não canso de falar sobre a minha admiração para com o J.S. Ondara, o cara que deixou sua cidade natal na África para se tornar um cantor folk na América, mais precisamente em Minnesota, o estado natal de Bob Dylan. Essa história já está toda contada neste post, não vou me repetir.

Quase um ano depois do lançamento de seu debut “Tales of America”, que impactou e muito a indústria folk e americana, o menino Ondara se apresentou no Tiny Desk. No set list ele apresentou suas faixas “Lebanon”, “Days Of Insanity” e “Saying Goodbye”.

4/20 – Rhiannon Giddens – Set/2019

Apesar de todos os posts já escritos nesse blog sobre a Rhiannon Giddens, acho que ainda não falamos o suficiente sobre o poder dessa mulher usando suas letras, voz, talento e habilidades instrumentais. Tudo isso se reflete nesse apresentação que ela fez no Tiny Desk, na qual ela apresentou as faixas: “Ten Thousand Voices”, “At the Purchaser’s Option”, “I’m On My Way” e “He Will See You Through”. Três delas integram “There Is No Other”, seu mais recente trabalho que foi gravado com seu parceiro musical Francesco Turrisi. Francesco, inclusive, aparece no vídeo tocando vários instrumentos e é acompanhado por Jason Sypher no baixo vertical. 

Intensa, profunda e envolvente, nessa apresentação Giddens proclama de corpo e alma as histórias que tanto aprecia: a luta dos afrodescendentes.

5/20 – Rising Appalachia – Jan/2020

Rising Appalachia é um dos projetos folk formados por mulheres que mais aprecio. Seu mais recente álbum “Leylines” apareceu na nossa lista de álbuns folk que mais marcaram o nosso ano de 2019, e elas já apareceram também na nossa lista de 8 projetos folk encabeçados por mulheres que você precisa conhecer. Agora chegou a vez de elas figurarem nossa lista de apresentações favoritas no Tiny Desk.

Aqui as Leah Song e Chloe Smith estão acompanhadas de David Brown, Biko Casini, Arouna Diarra e Duncan Wickel, integrantes de sua banda e apresentam sua deliciosa mistura da música e narrativa americana, irlandesa e africana através duas de suas melhores músicas “Resilient” e “Medicine”, além de  “Cuckoo”, uma antiga música folclórica dos Apalaches que elas aprenderam com a mãe.

6/20 – John Prine – Mar/2018

Ainda é complicado pensar que, em março de 2018, fomos todos presenteados com essa gentil apresentação da lenda da música folk americana John Prine e, agora em 2020, nós o perdemos para o Covid-19. Apesar do peso da idade se estampar em seu corpo, Prine não parecia expressar esse mesmo peso em seu canto, sua voz tornou-se mais rouca e profunda, é verdade, mas continuava soando com suavidade em nossos ouvidos.

Na ocasião, ele apresentou uma música nova e relembrou alguns de seus clássicos. No set list estão: “Caravan of Fools”, “Summer’s End” (uma de suas músicas que mais gosto), “All the Best” e “Souvenirs”.

7/20 – AHI – Jan/2018

Foi em 2018 que conheci a música do canadense AHI (lê-se eye), seu disco “In Our Time”, e não à toa entrou na nossa lista de 24 melhores discos do ano. Sua voz tão rouca quanto doce vai além de muitas que já ouvi, sua paixão pelo que canta, sua honestidade nas letras… Não é algo se encontra facilmente por aí.

Com uma composta por Frank Carter Rische na guitarra elétrica, Robbie Crowell no baixo e Shawn Killaly na bateria, AHI colocou seu coração em três músicas: “Alive Again”, “Closer (From a Distance)” e “Ol’ Sweet Day”; todas presentes em seu disco de estreia “We Made It Through The Wreckage”.

8/20 – I’m With Her – Mar/2018

A afinidade que Aoife O’Donovan, Sarah Jarosz e Sara Watkins apresentam juntas no I’m With Her é fora do comum. Elas estão completamente ligadas por seu amor pelo bluegrass, narrativa e canto. E, além de excelentes cantoras, as três são tocadoras brilhantes, com uma variedade cada vez maior de instrumentos de cordas: violões, ukulele, rabeca, bandolim e banjo.

Cada uma delas já se apresentou no Tiny Desk antes. Sara Watkins com o Nickel Creek (2014), Watkins Family Hour (2015) e The Decemberists (2011). Sarah Jarosz em 2013 e Aoife O’Donovan estece com Yo Yo Ma e Chris Thile como parte do projeto Goat Rodeo em 2011. Gostamos tanto delas que falamos de quase todos na nossa primeira lista.

Nesta apresentação, elas interpretaram: “See You Around”, “Game to Lose” e “Overland”. Todas as faixas integram o álbum de estréia do trio, intitulado “See You Around”.

9/20 – The Lumineers – Abr/2020

Acho que uma apresentação do The Lumineers é dispensável aqui, quem acompanha o blog desde sempre sabe como gostamos da banda e já falamos diversas vezes sobre a banda por aqui. Essa apresentação no Tiny Desk foi uma deliciosa surpresa pra mim e acredito que vocês também vão adorar. Continuo me impressionando com a potência vocal do Wesley Schultz e ele não decepciona aqui.

Neste pequeno concerto, a banda apresentou basicamente canções do terceiro LP da banda, “III” (2019), foram elas: “Gloria”, “Leader of the Landslide”, “April (instrumental)” e “Salt And The Sea”. Mas o encerramento ficou por conta da baita “Stubborn Love” que transformou tudo numa baita festa.

10/20 – Tomberlin – Jun/2019

Tomberlin é uma daquelas artistas que me apaixonei no primeiro play. Seu álbum de estreia “At Weddings” figura a nossa lista d’Os 24 melhores discos folk que ouvimos em 2018. É visível a crueza das músicas dessa garota e nessa apresentação isso fica ainda mais nítido, junto com  seu parceiro musical Andrew Boylan, ela derrama pela pequena sala algumas de suas letras que questionam ideias, suas crenças religiosas e detalhes profundos e pessoais.

Para dar um contexto, Tomberlin é filha de um pastor batista, cresceu cantando na igreja e, desde a adolescência, questiona suas próprias crenças em Deus e na fé. Suas músicas são delicadas e vulneráveis, mas demonstram sem sombra de dúvidas uma compositora honesta e que é capaz de destilar dúvida e isolamento enquanto forma uma comunidade em torno de sua música. No set list estão: “Any Other Way”, “Self-Help” e “Untitled 1”.

11/20 – boygenius – Nov/2018

O boygenius é um power trio formado por Julien Baker, Lucy Dacus e Phoebe Bridgers e foi um dos grandes presentes que a música indie recebeu em 2018. Falamos sobre o EP de estreia delas neste post. Julien Baker já havia estado no Tiny Desk em 2004 e em 2010, Lucy Dacus apareceu por lá em 2016 e Phoebe Bridgers em 2017, todas com seus projetos solo. Mas aqui, ao unirem suas vozes e talentos, a atmosfera é outra. É simplesmente incrível ver um grupo de mulheres tão jovens e talentosas juntas fazendo coisas lindas assim.

No set list estão: “Souvenir” (minha favorita), “Me & My Dog” e “Ketchum, ID”. Todas as faixas estão no primeiro e auto-intitulado EP das meninas.

12/20 – Iron and Wine & Calexico – Ago/2019

O barbudo Sam Beam, aka Iron and Wine já esteve no Tiny Desk duas vezes. A primeira, em 2011, em formato solo, e a segunda, em 2016, acompanhado da cantora Jesca Hoop, para apresentar um belíssimo trabalho dos dois juntos. Já Calexico, nunca esteve por lá até esta fabulosa apresentação do colab Iron and Wine & Calexico.

Juntos, eles lançaram um primeiro álbum em 2005, quando lançaram “In the Reins”, e levaram 14 anos para lançar um novo colab. Nesta apresentação, eles tocaram “Father Mountain” e “Midnight Sun”, presentes no trabalho mais recente, e relembraram a antiga parceria com “He Lays in the Reins”.

13/20 – Bob Weir and Wolf Bros – Mar/2020

Eu serei sincera com vocês, não conheço muito sobre o Bob Weir. Mas é um cara que o Murillo Augustus, músico que já considero um amigo, vive postando coisas nas redes sociais. Quando vi que o Bob se apresentou no Tiny Desk, não tive outra escolha que dar play e apreciar a apresentação. Aqui ele se apresenta como Bob Weir and Wolf Bros, os Bros são: Jay Lane (bateria) e Don Was (baixo) e conta ainda com a participação da convidada especial, Mikaela Davis na harpa.

Para dar um contexto, vale dizer que Weir é membro fundador da Grateful Dead, uma banda que lançou inúmeras coisas de 1965 até a morte do guitarrista Jerry Garcia em 1995. Inclusive, o set list pareceu familiar a quem conhecia a banda. Eles tocaram: “Only a River”, “When I Paint My Masterpiece”, “Bird Song” e “Ripple”.

14/20 – Kaia Kater – Mar/2019

Podem me achar clichê, mas para mim não tem nada mais imponente que uma mulher com um banjo em mãos. Pelo menos quando falamos sobre folk aqui no blog. E a Kaia Kater sabe bem como usar esse instrumento. Quando ele é acompanhado de sua voz então… os ouvidos aplaudem.

A cantora e compositora afro-caribenho-canadense, lançou em 2018 “Grenades”, um álbum em que ela trabalhou enquanto explorava o país natal de seu pai, Granada, do qual ele partiu aos 16 anos e foi para o Canadá como refugiado. Aqui ela apresentou, acompanhada de Andrew Ryan (baixo), Brad Kilpatrick (bateria) e Daniel Rougeau (guitarra elétrica e guitarra de aço) três canções presentes nele: “Nine Pin”, “Canyonland” e “Grenades”.

15/20 – Madolin Orange – Ago/2019

Andrew Marlin e Emily Frantz são daqueles músicos que nasceram para o que fazem e ponto. Ouvi-los em seu projeto Mandolin Orange é como ouvir um casal de pássaros cantar. É simples e natural. Os dois cantam e tocam de maneiras complementares, chega a ser emocionante observar a facilidade com que eles se apresentam e se harmonizam. Afinal, são cerca de 10 anos cantando juntos.

Aqui eles passeiam um pouco pelo repertório do duo, apresentando: “Golden Embers”, “The Wolves” e “Wildfire”.

16/20 – Josh Ritter With Amanda Shires e Jason Isbell – Set/2019 

Josh Ritter é um cantor e compositor americano com uma baita capacidade de cantar narrativas. Em 2011, ele já tinha dado as caras no Tiny Desk e, em 2019, ele retorna para cantar algumas canções de seu novo álbum chamado “Fever Breaks”, que foi produzido por Jason Isbell. Isbell também participa do disco, bem como Amanda Shires (uma das integrantes do power grupo Highwomen e consagrada cantora de folk, country e americana). Ambos acompanham Josh nessa apresentação: ele no violão, ela no violino.

Aqui ele destila temas que envolvem frustrações com relação ao tratamento de refugiados, imigração, política e nossos corações. No set list estão: “All Some Kind of Dream”, “The Torch Committee” e “The Gospel of Mary”.

17/20 – David Crosby & The Lighthouse Band – Ago/2019

David Crosby dispensa apresentações. Se você está nesse blog, provavelmente, nem que seja uma vez na vida, ouviu falar sobre os Crosby, Stills, Nash & Young, um super grupo de folk rock importantíssimo para a história da música. Pois bem, o David é esse mesmo Crosby. Aqui ele se apresenta como David Crosby & The Lighthouse Band (esta formada por Snarky Puppy, Michael League, Becca Stevens e Michelle Willis). O projeto se reuniu pela primeira vez enquanto os membros da banda estavam escrevendo e gravando em colaboração para um álbum de Crosby chamado “Lighthouse” (2016).

É bonito de ver um grupo assim, itergeracional, todos cantando, trocando vocais principais por harmonias e vice-versa em quase todas as combinações. No set list estão “What Are Their Names”, “Looks In Their Eyes” e  “Other Half Rule”, além da baita surpresa com “Woodstock”, de Joni Mitchell, conectando o presente ao passado num rearranjo a partir de uma versão que Crosby gravou há quase 50 anos com Stephen Stills, Graham Nash e Neil Young em “Déjà Vu”. Vale dizque que ela também é a faixa final de “Here If You Listen”, álbum lançado pelo projeto em 2018.

18/20 – Mountain Man – Fev/2019

Mountain Man é um trio formado por três amigas que se conheceram na faculdade: Amelia Meath, Molly Erin Sarlé e Alexandra Sauser-Monnig. E eu confesso para vocês que o meu primeiro contato com elas foi assistindo a este Tiny Desk. Ainda bem, porque isso foi o suficiente para me impressionar.

Aqui, elas aprecem adornadas apenas por um violão e usando suas vozes da maneira mais singela possível, cantam canções que evocam uma vida mais simples: cães, amigos, luar, luz do sol, areia e por aí vai. No set list estão: “Rang Tang Ring Toon”, “Moon” e “Stella”.

19/20 – Tamino – Jul/2019

O Tamino tem uma doçura misturada com tristeza que eu não sei bem explicar. O conheci através deste post que o nosso colaborador Marcus Cardoso escreveu sobre seu trabalho e simplesmente me encantei. O modo como ele interpreta suas letras é profundo demais, parece que ele deixa sua alma em cada canção que sai da sua boca. Ele já foi até chamado de “the Belgian Jeff Buckley”, só para vocês terem noção.

Apesar de belga, o jovem (na ocasião com apenas 22 anos) tem raízes egipícias e libanesas. A propósito, ele é neto de um famoso artista egipício Muharram Fouad. Na sua música, ele consegue trazer toda essa herança que carrega na bagagem. Sua interpretação é simplesmente fora do comum. Nesta apresentação, ele tocou: “Habibi”, “Indigo Night” e “Tummy”.

20/20 – Harry Styles – Fev/2020

Harry Styles é, sem dúvidas, um dos artistas que mais tenho escutado nos últimos tempos. E ok, eu sei que você vai dizer que ele é pop e vem de uma origem de boy band. Mas acontece que esse cara tem influências gigantescas em seu trabalho solo e já provou ser um artista que leva a sério sua arte e estética, interessado em subverter as expectativas do que uma estrela pop pode e deve soar em 2020.

No seu primeiro álbum, auto-intiluado, lançado em 2017, ele consegue trazer sonoridades que vão de Nick Drake a Elton John, passando por Beatles e Neil Young. No final de 2019, ele lançou o “Fine Line”, tão bom quanto o seu primeiro trabalho, e ainda mais contagiante.

Nessa apresentação no Tiny Desk, talvez por ser acústica, todas as referências folk do rapaz parecem ebulir através de seus violões e narrativas. Um ponto tremendamente valioso é a banda que esse cara tem, formada majoritariamente por mulheres (Sarah Jones, na bateria; Mitch Rowland, no violão; Adam Prendergast, no baixo; Ny Oh, no violão; Charlotte Clark, no piano, wurlitzer e violão), aqui eles apresentam uma harmonia de vozes fascinantes que dificilmente encontraríamos se fosse num show mais pop cheio de firulas. No set list estão: “Cherry”, “Watermelon Sugar”, “To Be So Lonely” e “Adore You”, todas presentes em seu mais recente disco.